Pouco menos de 64 horas separaram o resgate do detento Guilherme Fernando Mendonça Huff, 29 anos, até o encontro do último membro envolvido no ataque à Unidade de Pronto Atendimento Zona Norte (UPA Zona Norte), em Caxias do Sul. O violento plano que matou o o agente penitenciário Clóvis Antônio Roman, 54, assustou a população e mobilizou as forças de segurança gaúcha. A investigação da Delegacia de Homicídios identificou e detalhou a participação de cinco homens e uma mulher, que responderão por homicídio, tentativa de homicídio e associação criminosa.
A conduta individual de cada investigado é analisada pelo delegado Vitor Carnaúba, que responde interinamente pela delegacia de Caxias do Sul. Segundo o delegado regional da Serra, Cleber dos Santos Lima, a prova testemunhal e documental da investigação está concluída e robusta. O inquérito policial só depende do resultado de perícias na casa e no veículo utilizados pelo bando.
— É preciso destacar o trabalho do delegado Carnaúba e toda a equipe da Homicídios. Eles tem meu respeito pelo empenho e celeridade no esclarecimento deste crime bárbaro. Quando a informação chega e o time é bom, as coisas andam. Foi um trabalho de excelência — exaltou o delegado regional, que também enaltece a celeridade do Ministério Público e Poder Judiciário para a decretação dos mandados de prisão e de busca e apreensão.
Para a Polícia Civil, o plano de fuga de Huff e seus comparsas fracassou diante da coragem dos agentes penitenciários de Caxias do Sul. Mesmo em inferioridade numérica e com armas menos potentes, os policiais penais resistiram a ação criminosa.
— Pelo que se tem no inquérito, (o resgate) foi planejado há 15 dias. Só que o apenado não imaginava que iria acontecer tudo isso (confronto e morte). Eles chegam no Passat, invadem a UPA e um deles já atira no agente. O outro agente reage e os (três) criminosos abandonam o plano. Fogem sem completar o resgate. Por isso, este apenado precisa fazer uma mulher refém para conseguir um carro e fugir — comenta o delegado Lima.
Este é o único ponto que ainda não está esclarecido pela Polícia Civil. Com a motorista refém, Huff segue até Farroupilha onde encontra um comparsa que o esperava com outro automóvel. A Delegacia de Homicídios ainda tenta esclarecer quem era este sétimo envolvido.
Daniel Frankin, 38 anos
Segundo a Polícia Civil, é o criminoso que alveja com tiros de fuzil um agente da Susepe durante o ataque na UPA Zona Norte, de Caxias do Sul. As imagens das câmeras da unidade de saúde mostram que o policial penal estava vigiando um corredor quando é surpreendido pelas costas. Ele é baleado, tomba e sua pistola é arremessada (esta arma seria usada pelo preso resgatado, Guilherme Fernando Mendonça Huff, para matar o outro agente).
Frankin foi preso em um apartamento na Rua Santa Cecília, em Porto Alegre, na manhã de quarta-feira (9). É neste endereço que o apenado deveria estar cumprindo pena em regime domiciliar com tornozeleira eletrônica. Segundo a investigação, o detento conseguiu interromper o sinal do sistema de monitoramento.
— Eles burlam o sistema e depois inventam uma desculpa para a queda do sinal, como ter descarregado (o equipamento) — aponta o delegado Cléber Lima.
Segundo a Polícia Civil, Frankin possui um histórico de roubos e violência. São diversos assaltos em sua ficha policial, sempre com uso de arma de fogo. Seus crimes estão espalhados por diversas regiões do Estado.
O cumprimento de sua pena é responsabilidade da comarca de Osório, onde o detento afirma ser morador. Em 29 de janeiro, o juiz Daniel Paiva Castro reconheceu uma falta grave do apenado. Frankin não se apresentou para instalação de tornozeleira eletrônica em 21 de janeiro de 2020. Ele só foi recapturado em 27 de setembro daquele ano, em ação da Polícia Rodoviária Federal.
Na decisão, o juiz Castro deixou de determinar a regressão de regime argumentando que Frankin ficou recolhido em regime mais gravoso (fechado) desde a sua recaptura, quatro meses antes. Desta forma, o magistrado reestabeleceu o regime semiaberto do detento.
Acontece que não há vagas suficientes para regime semiaberto na comarca de Osório. Desta forma, considerando que Frankin possuía um baixo saldo de pena e que a execução é referente a delitos cometidos sem violência ou grave ameaça, o juiz Castro determinou a inclusão de Frankin em monitoramento eletrônico. O apenado instalou o equipamento no dia 5 de fevereiro.
A reportagem solicitou ao Tribunal de Justiça esclarecimentos sobre a execução criminal de Frankin, como quantas condenações possui, por quais tipos de crimes e tempo de pena a cumprir. As mesmas informações foram pedidas sobre os demais alvos desta investigação policial. Os questionamentos foram feitos por e-mail, conforme pedido da Assessoria de Imprensa. O e-mail não havia sido respondido até última atualização desta reportagem.
Walter Valim Pereira Junior, 28 anos
É outro que invadiu a unidade de saúde de Caxias do Sul portando uma arma longa, segundo a Polícia Civil. Junior é morador do litoral gaúcho e possui antecedentes por roubos. Ele é o homem que foi preso no mesmo apartamento em que estava Huff, na Avenida Independência, em Porto Alegre. Enquanto Junior era preso, o apenado resgatado se trancou em um quarto e cometeu suicídio, segundo a Brigada Militar (BM).
Segundo a Polícia Civil, Junior possui passagens por assaltos, mas estava em liberdade. O investigado não possui processo de execução criminal.
Cristian Dionathan de Àvila Figueira, 21 anos
É o terceiro criminoso que desembarca do Passat branco e ataca a unidade de saúde com armas longas, conforme a investigação. Figueira foi preso em Portão, no Vale dos Sinos. A Polícia Civil aponta que ele possui antecedentes criminais por roubos à mão armada, mas o investigado não possui processo de execução criminal.
Alex Aniceto dos Reis, 46 anos
O inquérito policial aponta Reis como o motorista do Passat branco durante o ataque a UPA Zona Norte. O condutor não desembarcou do veículo, aguardando para acelerar a fuga. Reis resistiu a prisão e foi morto pela Brigada Militar durante abordagem no bairro Reolon na última quarta-feira (9).
Segundo a Polícia Civil, o investigado possuía antecedentes por crimes de menor potencial ofensivo, como furto e lesão corporal. O delegado Lima define o suspeito como o de menor violência do bando, mas que apresentava um histórico de vida desregrada.
Reis é o único do bando que é natural de Caxias do Sul. Seu conhecimento da cidade era importante para facilitar a fuga. A investigação ainda não esclareceu se ele foi contratado apenas para este ataque ou se já tinha uma relação com o restante do bando criminoso.
Alisson Robson dos Santos, 35 anos
É um apenado que cumpre pena por roubo e tráfico de drogas na Penitenciária Estadual de Caxias do Sul, no distrito do Apanhador. Na cadeia, Santos conheceu e passou a dividir a cela com Huff. O detento ajudou a planejar a fuga e avisou os comparsas do lado de fora sobre a saída de Huff para a unidade de saúde, supostamente para atendimento por conta de dores, resultado de uma crise renal.
Pela sua participação no esquema, Santos ficou com o celular que era Huff dentro da cadeia. Apesar da entrada de aparelhos no sistema penitenciário serem de conhecimento público, os telefones são valiosos dentro das cadeias e o acesso a eles é autorizado apenas por líderes criminosos.
Santos é natural de Campos Novos (SC). Ele teve uma nova prisão preventiva decretada por sua participação no plano de fuga e foi transferido para o presídio de Arroio dos Ratos.
Camila Hahn Valim, 32 anos
É a companheira do apenado resgatado, Guilherme Fernando Mendonça Huff. Ela foi presa preventivamente em Três Cachoeiras e responde por associação criminosa.
Segundo a Polícia Civil, foi ela quem alugou a casa na Rua Ludovico Cavinatto que serviu para a preparação do resgate na UPA Zona Norte. Foi neste endereço que os criminosos esconderam o Passat branco e os fuzis utilizados no ataque, que foram apreendidos pela Polícia Civil ainda na segunda-feira (7).