Um desfecho pouco comum surpreendeu quem trabalhava para tentar prender Guilherme Fernando Mendonça Huff, 29 anos, detento resgatado por comparsas enquanto recebia atendimento médico numa ação que resultou na morte de um agente da Susepe, em Caxias do Sul, na segunda-feira (7). Na manhã desta quarta-feira (9), quando agentes invadiram o apartamento em que ele estava escondido, o bandido teria atirado contra si mesmo ao perceber que não tinha para onde fugir.
O fato ocorreu por volta das 8h. Bateu à porta do esconderijo, o apartamento 103 do condomínio Loforte, na Avenida Independência, em Porto Alegre, a equipe de policiais formada por agentes da Delegacia de Homicídios de Caxias do Sul, Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Brigada Militar e o setor de inteligência da corporação. Os agentes não obtiveram resposta, mas ouviram um som que desconfiam que era do criminoso tentando fugir do local — ele não obteve êxito pelo fato de todas as janelas terem grades.
Em seguida, o Bope decidiu arrombar a porta. O comandante do Bope, Rodrigo Schoenfeldt, declarou que um comparsa de Guilherme foi imobilizado e algemado sem apresentar reação. No entanto, em um dos quartos, ouviram o estampido do tiro que teria sido disparado por Guilherme contra o próprio corpo.
— O nosso alvo principal, aquele que tirou a vida de um colega da Susepe, se escondeu em uma das peças desse apartamento. Quando nossos operadores puderam chegar na entrada da peça, ainda observaram ele baixando a arma depois de dar o tiro contra si mesmo — disse o coronel.
A arma que foi apreendida com Guilherme é uma pistola .40, de propriedade do Estado do Rio Grande do Sul. Segundo a BM, a pistola foi roubada dos agentes que faziam a escolta dele na ocasião do resgate, em Caxias. Essa mesma arma teria sido utilizada pelo bandido nos tiros que mataram o agente penitenciário Clóvis Antonio Roman, 54 anos.
O delegado regional de Caxias do Sul, Cleber Lima, estava junto na operação e disse que ele próprio "bateu à porta" para que os bandidos abrissem. Segundo o policial, o comparsa preso afirmou que Guilherme havia relatado que não se entregaria.
— Ele nos relatou que o que se suicidou não se entregaria de forma alguma. Eu imputo isso ao fato de ele ter tido noção da forma covarde como ele matou o agente penitenciário. Ele disse que não se entregaria e, quando a polícia chegou, ele atirou contra a própria cabeça — assegurou Lima.
Equipes da Delegacia de Homicídios de Porto Alegre foram ao local onde o homem se suicidou para fazer uma análise do local, assim como o Instituto-Geral de Perícias.
Ainda segundo a BM, os bandidos eram monitorados desde a noite de terça-feira (8), enquanto as equipes aguardavam o deferimento dos mandados de prisão pelo judiciário. Durante esse intervalo, Guilherme teria trocado de endereço para dificultar sua captura.
Ainda não está claro para a polícia de quem era o apartamento na Avenida Independência — localizado em região valorizada da cidade, entre o Centro e o Moinhos de Vento. As equipes acreditam que o local foi escolhido pela baixa probabilidade de servir como esconderijo.
— A propriedade do apartamento ainda não é do nosso conhecimento. Quem colaborou, também vai sofrer as sanções — prosseguiu Schoenfeldt.
Fuga planejada por 15 dias
Segundo a Polícia Civil, a fuga do bandido foi planejada por comparsas durante 15 dias. O planejamento ocorreu dentro das celas do presídio de Caxias do Sul. Além da morte de Huff, equipes da Polícia Civil prenderam outro suspeito em um apartamento na Rua Santa Cecília, também em Porto Alegre. Outra prisão ocorreu em Portão, no Vale dos Sinos.
A companheira de Guilherme, apontada como uma das financiadoras do resgate, foi detida enquanto ia para o trabalho em Três Cachoeiras, no Litoral Norte. Um mandado de prisão também foi cumprido dentro de um presídio em Caxias do Sul. Segundo a polícia, o mandado é contra um colega de cela de Guilherme, que teria ajudado no planejamento. Falta apenas a prisão do criminoso que dirigiu o carro usado na fuga. Segundo informações divulgadas pela Polícia Civil, trata-se de Alex Aniceto dos Reis.
O secretário da Segurança Pública, vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, atribuiu a resposta rápida ao trabalho integrado entre corporações:
— É um trabalho qualificadíssimo das instituições de segurança. Fui despertado para esse fato às 4h50min de segunda. Desde então, todas as instituições estão buscando informações, encontrando o local onde os bandidos planejaram o crime e localizando os indivíduos.