Ao completar 32 anos de Brigada Militar (BM) neste mês, o coronel Alexandre Brite da Silva, 51 anos, vê a Serra como desafio final de sua carreira. O oficial assumiu o Comando Regional de Polícia Ostensiva da Serra (CRPO Serra) na semana passada substituindo o coronel Glauco Alexandre Braga, que foi para a reserva. O coronel Brite elogia o trabalho do seu antecessor, mas revela o desejo de acrescentar o seu "tempero" ao policiamento dos 66 municípios da da Serra e Campos de Cima da Serra.
Natural de Canoas, Brite teve sua formação toda voltada para a vida militar. Ele se formou no Colégio Tiradentes da Brigada Militar em Porto Alegre e ingressou na Academia de Polícia Militar em 1989. Como oficial, passou pelo Batalhão de Choque da Capital, pelo Comando Rodoviário em Gravataí e liderou o Esquadrão Montado em Santana do Livramento.
— Tive a oportunidade de conhecer a fronteira oeste do nosso Estado e depois fui o primeiro diretor do Colégio Tiradentes em Santo Ângelo, onde formamos diversos jovens bem sucedidos em suas vidas, o que tenho muito orgulho de dizer. Quando retornei para Porto Alegre, comandei o 1º Batalhão de Polícia Militar, que é uma referência na nossa instituição.
Na Capital, o coronel Brite foi responsável pelo policiamento de 27 bairros da Zona Sul, o que incluía várias áreas complexas com tráfico de drogas, como a Vila Cruzeiro, e também regiões comerciais e nobres, caso dos os bairros Tristeza, Praia de Belas e Azenha. Dois anos depois, veio a promoção para o CRPO do Vale do Caí, com sede em Montenegro.
— Um ano depois veio o convite para comandar o CRPO em Santa Rosa, onde são 56 municípios da região Noroeste, que faz fronteira com Santa Catarina e Argentina. Foi um aprendizado muito grande, com o combate da entrada de drogas e de muambas. Faltava a Serra e surgiu esta oportunidade de dar continuidade ao trabalho do coronel Glauco.
Pioneiro: O senhor tem um histórico em muitas funções e regiões do Rio Grande do Sul. O que lhe trouxe para a Serra?
Coronel Alexandre Brite da Silva: Recebi este convite e fiquei muito feliz, pois mantinha um carinho muito grande pela Serra como turista. Vivi o policiamento de Porto Alegre, onde foi muito interessante, mas também este trabalho do Interior. Agreguei muito conhecimento e experiência. Tinha a curiosidade de trabalhar aqui, pois sabemos que o povo da Serra é muito trabalhador, empreendedor e que preza muito a Brigada Militar e os órgãos da polícia. Acho muito importante essa parceria. Estou muito feliz. A minha ideia é vir trabalhar e fixar raízes, permanecer e morar na região mesmo depois que for para reserva. Tenho mais três anos (de carreira) e quero despejar toda minha força de trabalho em benefício dos meus servidores, que irão me ajudar a trabalhar, e em benefício da sociedade da Serra.
O que lhe passaram sobre o trabalho na Serra?
Em nível estadual, o comando já tem uma doutrina bem estabelecida, como se fala bastante do (programa) RS Seguro. Vejo que Caxias do Sul tem várias similitudes com Porto Alegre. É muito desenvolvimento, indústrias e educação, com universidades grandes. Vejo que há muita condição de se trabalhar e a ideia é fortalecer tudo que vinha sendo feito. O coronel Glauco deixou um legado muito bom e um relacionamento com as instituições e a comunidade. A ideia é fortalecer tudo isso, igualmente, e colocar um pouco do nosso tempero, daquilo que conhecemos, para melhorar o que já está sendo feito. Estamos atingindo indicadores (de criminalidade) cada vez melhores e, se volta e meia acontece um revés, é para nos mantermos a atenção e o trabalho. Os indicadores têm sido positivos e a ideia é sempre melhorar.
Como o comandante percebe a questão do número de policiais disponíveis, afinal o Estado possui um efetivo estimado em 50% abaixo do ideal?
A Brigada Militar evoluiu muito neste sentido. Antigamente, tínhamos muito mais policiais e, por vezes, não tínhamos tanta preocupação com o policiamento justamente por ter pessoas sobrando. Podíamos distribuir policiais até em locais que não precisavam, porque tinha bastante. Nos últimos anos, tivemos um decréscimo, com menos inclusões e muitas pessoas completando o seu tempo e indo embora. É uma redução que é em nível estadual, não é um problema da Serra. Mas, sou otimista e acredito que os nossos últimos governos estão trabalhando nisso. Em tese, temos uma turma para ser chamada em março. O governo e o comando (da BM) estão preocupados, mas não se pode completar de uma vez só, precisa ser um trabalho gradual, de preparar os nossos policiais e mandá-los para as ruas. Se formas muitos e muito rápido, tu formas mal. É preciso um trabalho meticuloso, pois a profissão do policial é complexa. Em um momento tem que estar conversando amistosamente e na outra precisa de uma fala mais forte ou até da força física contra um delinquente. Precisa ajudar crianças e idosos nas ruas, mas também ingressar em zonas inóspitas com pessoas que não o querem ali. É preciso uma formação muito forte e é um trabalho que está sendo desenvolvido. Mas, hoje, não é só a quantidade de homens que faz o policiamento. Há a tecnologia e o trabalho de inteligência que a Brigada tem investido muito.
Há uma característica sua que gostaria de trazer para o seu comando na Serra?
O oficial hoje em dia precisa ser moderno, não pode se focar em uma coisa só. Gosto da atividade operacional. Se puder, quero sentar numa viatura e ir até uma grande ocorrência na região. Só que, acredito, cabe ao comandante fazer a gestão. Vários policiais podem ir até o local, mas a minha missão é abastecer este pessoal, com informações e os materiais necessários para as buscas. Gosto de estar na linha de frente, mas terei que me reservar para pensar as coisas que precisam ser feitas. A ideia é juntar a assessoria, a inteligência, o conhecimento da área, para tentar ajudar o servidor que está lá na ponta. O meu perfil é assim, ser moderno e não pensar em uma frente só. É muito gratificante fazer a prisão de um delinquente que cometeu um ato criminoso, mas prefiro que esta gratificação fique para este servidor que está na ponta, que irá se fortalecer e pensar que está no caminho certo.
O CRPO Serra é o segundo maior do Estado e atende a 66 municípios, como o comandante percebe o desafio?
É um trabalho de gestão, por isso o comando regional é dividido em batalhões e unidades menores. São nestas pessoas que investimos. Naquele município de poucos habitantes, é aquele tenente ou sargento que tem a relação com a comunidade, que mora lá e conhece a área. Cabe ao comando e ao batalhão dele atender às necessidades, porque esses policiais nos trazem as demandas. A nossa função, junto ao governo, é trazer esses recursos, seja de efetivo ou de equipamentos. Talvez, eu não consiga ir nos 66 municípios, mas alguém está lá me representando e passando as necessidades. Esta é a nossa rede. Já estive, quando jovem oficial, na linha de frente, sentado em uma viatura. Naquele tempo, eu abastecia o meu comandante para que ele pudesse tomar as decisões. Hoje, sou abastecido e tenho que saber como ajudar estes pelotões espelhadas na região.
A Serra sempre contribuiu muito com o Estado, mas, por vezes, se sente distante e não atendida pelo governo estadual. Como o comando regional pode ajudar nesta busca por recursos?
Vejo que os comandos regionais existem justamente para representar o comando da Brigada. Para que os prefeitos do Interior não precisem ir até Porto Alegre, porque o comandante regional já está aqui. Santa Rosa, onde já atuei, é muito mais distante da Capital. Lá, resolvíamos as demandas com os prefeitos e levávamos até o comandante da BM que, caso necessário, levava ao governo estadual. Nossa relação com o comando era muito positiva. Vejo a Serra como uma região que recebe bastante atenção, inclusive com vários municípios (Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha) que pertencem ao programa RS Seguro. Ou seja, o governo e o comando estão com olhos para a Serra para nos ajudar. Iremos oferecer subsídios para que isso seja ainda mais fortalecido.
O CRPO Serra já conseguiu completar o efetivo mínimo de cinco PMs em todas as cidades da região?
Estamos prestes a completar na Serra. São quatro municípios que tem apenas quatro servidores, mas com as movimentações dos novos deverão se apresentar até março. O comando tem tido muita atenção com essa questão, principalmente com a chegada das turmas novas. A minha missão é receber os prefeitos da região, quero que todos saibam que as portas estão abertas e o café está quente. Podemos conversar e entender as dificuldades, afinal cada município tem seu perfil. É uma região muito ampla, com várias peculiaridades.
Como o comandante vê o combate ao crime organizado, que tem espalhado crimes mais violentos (como chacinas, decapitações e incêndios) e, inclusive, ocasionando mais confrontos com policiais?
Esse enfrentamento das facções criminosas é algo que já está arraigado na nossa sociedade e as polícias combatem com muita força, tanto na repressão quanto na investigação. Isto será sempre assim, porque a polícia existe para retirar esses delinquentes do seio da nossa comunidade. Com relação aos confrontos, os nossos homens são preparados para combater o crime e, se necessário, usar o armamento de fogo. Gosto de repetir as palavras do nosso ex-comandante (coronel Mario) Ikeda: quem escolhe se irá ocorrer o enfrentamento não é policial, mas é o bandido, o delinquente. A Brigada sempre irá chegar e mandar se entregar, "abaixa a arma e se entrega". Sempre. Quem vai escolher se haverá o confronto é o bandido. Se ele atirar contra o policial, irá receber aquilo com o qual está nos recebendo. Um policial nunca chega procurando um enfrentamento ou um homicídio. A polícia é para manter a ordem e a segurança das pessoas, inclusive do bandido. Algumas pessoas podem achar um absurdo isso, mas este é nosso dever. É missão do policial manter a segurança do bandido. Quem escolhe se haverá o enfrentamento é o bandido.