Poucos minutos após saber que mais quatro envolvidos em assalto a banco foram mortos por PMs, em Trindade do Sul, no norte do Estado, o comandante da BM, Mário Ikeda, atendeu a reportagem de GaúchaZH. Ele nega que exista orientação de matar, ao invés de prender criminosos. Nessa entrevista, por telefone, garante que a escolha por viver está na mão dos assaltantes.
Coronel, a gente soube que morreram mais suspeitos de assalto, em confronto, em Trindade do Sul. Como o senhor vê esse episódio?
Eu não tenho detalhes ainda. Nem sei se são quatro ou cinco mortos.
A população não lamenta as mortes de bandidos, está claro. Mas a gente notou um salto no número de mortos em confronto. Somando com os de hoje, são 20 em dezembro. Contando, dentre eles, um refém. Existe uma orientação para atirar?
A orientação é a mesma que sempre foi. Vi teu artigo na Zero Hora e discordo dele (artigo da coluna do Humberto Trezzi, publicado em 05 de dezembro). Não mudou nada.
O que afirmei é que os policiais, talvez influenciados pelo discurso do presidente eleito Jair Bolsonaro, estão sentando o dedo no gatilho. O senhor discorda?
Discordo. A Brigada Militar reage. Ela busca prisão de delinquentes. Nesse caso, estamos em buscas aos delinquentes desde dia 12, com sol e chuva. Felizmente, com o cerco, conseguimos localizá-los. Infelizmente, eles entraram em confronto e acabaram mortos. Acontece que desde o início do ano estamos com ações em relação a este tipo de roubo (com escudo humano formado por reféns). Apertamos a prevenção a esse tipo de crime de outubro para cá, com a Operação Diamante. Tentamos impedir os assaltos e, quando eles acontecem, estamos com uma resposta mais rápida. Que nos dá possibilidade de cercá-los na região da mata e levado aos confrontos. O que digo aos criminosos: se forem cercados, se rendam, que a BM é garantidora de todas as leis que existem. Cumprimos os direitos previstos na Constituição e, se eles se renderem sem esboçar reação, terão toda sua integridade física preservada.
O que questionei no artigo, também, dias atrás, é que tinha um refém no porta-malas, após o assalto em Ibiraiaras. Foi filmada a saída dos bandidos do banco, com reféns no porta-malas. Como o senhor analisa? O senhor não tem críticas?
É um fato lamentável que tenha morrido uma das vítimas. De maneira alguma buscamos isso. Buscamos prisão e rendição de delinquentes. Quem escolhe o resultado, se vai reagir ou se vai ter tiroteio, não é o brigadiano. É conforme a reação na hora da prisão. Lamentamos profundamente a vítima de Ibiraiaras. Está com a investigação, para ver de onde partiu o tiro, de que arma. Independente disso, a ação foi criminosa por parte dos delinquentes. A BM foi até o local. Não sei se os colegas sabiam que tinha uma vítima-refém. Eles vinham fazendo o patrulhamento e não se sabe se tinham conhecimento do refém. Estão orientados a não entrar em confronto, se há reféns. Mas nem sempre isso é possível. Quando a gente se depara com o criminoso atirando, muitas vezes é a vida dele ou do brigadiano que está em jogo. Quem escolhe se haverá confronto é o criminoso, não é o PM. As circunstâncias levam o policial militar a atirar e elas são causadas pelos criminosos.