A perspectiva de que um grande assalto — a agências de Correios e Telégrafos e bancos — na Região Carbonífera ocorresse nesta quarta-feira (5) foi detectada pela Polícia Federal (PF) por meio de escutas telefônicas e dicas de informantes. Os federais ficaram em alerta e também avisaram a Brigada Militar, que possui efetivo quase 30 vezes maior que o deles no Rio Grande do Sul. O resultado é que, numa das patrulhas para tentar conter o roubo, PMs do Batalhão de Operações Especiais (BOE) de Porto Alegre toparam com uma quadrilha com dois carros estacionada em frente a uma agência da Caixa Econômica Federal em Arroio dos Ratos. Um dos veículos era roubado. Houve troca de tiros e quatro jovens que ocupavam os automóveis foram mortos pelos PMs. Alguns tinham antecedentes por roubos e tráfico. Um quinto, adolescente, foi ferido e sobreviveu.
— Sabíamos que tentariam o assalto, não sabíamos ontem (terça). A BM desarticulou a quadrilha em Arroio dos Ratos, mas o assalto acabou ocorrendo em Minas do Leão, também na metade sul — resume um policial federal que ajuda com informes à Brigada Militar.
A colaboração PF-BM é parte da Operação Diamante, ação pela qual a Brigada Militar reúne informações de agências policiais variadas para tentar antecipar assaltos a banco. Sobretudo em época de pagamento de empresas e órgãos públicos, entre 1º e 10 de cada mês.
Os PMs do serviço reservado (P2) reúnem informações de outros organismos, como a PF e a Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe), para detectar áreas e comportamentos de risco. Quadrilhas são monitoradas, inclusive a partir de presídios, onde ficam as chefias de facções.
A razão é simples: não há policiais em número suficiente no RS. A defasagem está em torno de 30%, mesmo com sucessivos concursos para aumentar o efetivo. Em 2017, de 23 municípios serranos, oito não tinham PMs fixos. Foi na Serra, em Ibiraiaras, que aconteceu terça-feira (4) o maior tiroteio recente entre policiais e bandidos no Rio Grande do Sul. Sete pessoas morreram: seis criminosos e um refém, logo após um assalto a banco.
No caso de Ibiraiaras, os PMs sabiam que haveria uma tentativa de roubo, mas não sabiam em qual cidade. É aí que entra a Operação Diamante, que mobiliza os três helicópteros da corporação (capazes de monitorar até 100 cidades cada um) e, quando necessário, efetivos dos três Batalhão de Operações Especiais (BOE) do Rio Grande do Sul. Eles ficam de sobreaviso para impedir assaltos e perseguir assaltantes, quando o roubo é consumado. Foi o que aconteceu em Ibiraiaras e em Arroio dos Ratos. Na cidade serrana, o BOE recebeu ajuda do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), unidade de elite da BM, que possui snipers (atiradores de precisão).
— Trocamos informações com todas as agências de inteligência da segurança pública e isso é essencial para qualificar a análise criminal e se aplicar a estratégia de forma eficiente e eficaz — diz o subcomandante-geral da BM, coronel Eduardo Biacchi.
O coronel diz que a Diamante segue três princípios: o da oportunidade (a informação tem que ser usada no tempo exato de sua utilidade), o da compartimentação (distribuição de informações de acordo com a missão de cada agente policial, a fim de dar segurança à ação) e o da rapidez de movimentos (as ações devem ser ágeis a ponto de dar a resposta imediata à ação delituosa em andamento). Também possui graus de sigilo, justamente para que não haja conhecimento das manobras táticas realizadas pelas tropas de operações especiais no terreno.
A Diamante sucede uma outra operação, a Avante Paz no Interior, na qual patrulhas da BM aglutinavam policiais de cidades distantes até 25 quilômetros, e as guarnições se revezavam em turnos de patrulhamento. Isso porque, no RS, 52 cidades tinham menos de três PMs em 2017 (o efetivo atual não é revelado, para não informar os criminosos). A ideia é superar, com inteligência, o problema do cobertor curto na segurança pública.