Com um sensor que obedece aos impulsos dos músculos, pacientes amputados de membros superiores terão uma nova opção, produzida em Caxias do Sul, para fazer movimentos de pinça, como de uma mão. A prótese apelidada de "Garra" é acionada através de impulsos elétricos musculares e, com ela, o paciente pode pegar objetos com o movimento de uma mão.
De acordo com a professora do curso de fisioterapia da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Katiucia Corlatti, o desenvolvimento do projeto teve início em 2020, quando a universidade também desenvolvia o ventilador pulmonar Frank, em parceria com uma empresa privada. Com a experiência bem sucedida, pesquisadores da área da saúde e da automação uniram forças, mais uma vez, para a criação da Garra.
— Pelo Sistema Único de Saúde (SUS) temos uma prótese que a gente chama de estética. Ela não é funcional. Ela substitui o membro que não existe mais, mas não tem movimento. Pensando neste cenário, surgiu a ideia de desenvolver, localmente, um dispositivo que pudesse ser funcional e que tivesse baixo custo — explica a professora.
Atualmente, segundo Katiucia e o gestor técnico da Clínica de Fisioterapia da UCS, Carlos Koraleski, as próteses disponíveis, todas importadas da Alemanha com a mesma funcionalidade, têm um custo médio de R$ 150 mil. Na proposta desenvolvida pela UCS, em parceria com a empresa caxiense de automação Longhi, o custo ficará, em média, R$ 22,5 mil. Ou seja, 15% do valor das próteses importadas.
— O desafio era desenvolver algo que fosse compatível com a tabela SUS para que a gente pudesse beneficiar os pacientes que não têm acesso a essa tecnologia. A ideia é que, depois, sejam disponibilizados via SUS — explica Katiucia.
Tecnologia inovadora
O projeto tem aporte da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), agência ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Com uma produção quase inteiramente caxiense, a tecnologia e o baixo custo para a proposta são o que Katiucia destaca como inovadores.
— Conseguir disponibilizar para uma faixa de população que não tem acesso a esse tipo de tecnologia e conseguir desenvolver localmente é o que há de mais inovador tem nela — explica a professora.
A Garra é composta por um sensor elétrico, suporte e três ganchos em formato de pinça. A única peça que não é produzida em Caxias do Sul é o sensor, que foi importado por uma questão de prazos do Finep. No entanto, de acordo com Allan Constante, engenheiro eletricista da Longhi, a ideia é, no futuro, desenvolver também os sensores localmente.
Os aparelhos ainda estão em fase de testes clínicos, etapa que pode levar até um ano. Essas análises serão feitas em pessoas com diferentes casos de amputação de membros superiores, que serão treinadas para acionar os sensores adaptados a cada situação. Durante essa fase também serão detectadas possíveis necessidades de aperfeiçoamento dos sistemas.
Nos primeiros testes, ainda na produção, a autonomia da bateria da prótese ficou em 24 horas, caso o equipamento fizesse o movimento de abre e fecha sem parar.
— A gente acredita que pode durar muito mais. Porque ele não vai ficar o tempo todo abrindo e fechando. Isso é uma coisa que com os testes futuros, vamos ter mais dados e mais precisão — explica Constante.
Após o período de testes, o aparelho passará pela validação da Anvisa, para que possa ser comercializado. Essas etapas podem levar de seis meses a um ano.
Ainda sem data para protetizações
Apesar de já estar na fase de testes clínicos, ainda não é possível afirmar quando os pacientes receberão as próteses desenvolvidas em Caxias. O lote piloto, com 10 peças, já está na UCS e recebe voluntários para testes. No entanto, ser voluntário no estudo não garante que o paciente será protetizado depois, já que o processo é feito via SUS.
Quando forem selecionados, os pacientes receberão treinos para aprimorar o movimento e a adaptação com a prótese. Após essa etapa, a prótese é colocada no paciente, sem intervenção cirúrgica. Nessa fase, a prótese recebe uma cobertura, no formato de um braço, mãos e dedos, que será totalmente funcional.
— Tudo fica acoplado. Nada fica externo. Vão ser cinco dedos, mas o movimento ocorre em três deles. Porque, no caso, o dedo anelar e o mindinho não fazem tanta força. Quando vai pegar alguma coisa, a maior parte da prensa vai estar no polegar, indicador e médio, os outros vão acompanhar — explica Katiucia.
Para quem quiser ser voluntário no estudo, basta entrar em contato com a professora Katiucia, pelo telefone (54) 98100-9999.
Como funciona
- A equipe da Clínica de Fisioterapia utiliza uma máquina que identifica onde os músculos do paciente amputado têm estímulos;
- Podem utilizar a prótese pacientes com diferentes tipos de coto (nome dado ao membro amputado);
- O sensor é posicionado no local identificado pelo equipamento;
- Os pacientes passam por um período de treinos, para fortalecimento da musculatura que será utilizada para o movimento de pinça;