O governo do Rio Grande do Sul contratou, recentemente, uma consultoria para avaliar investimentos em aeroportos do interior do Estado e que podem servir como alternativas ao Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, fechado ainda em maio e que deve ser reaberto somente no final do ano. Em agenda na manhã desta segunda-feira (1º) em Caxias do Sul, o vice-governador Gabriel Souza informou que um relatório sobre possíveis investimentos em terminais como o de Canela e Torres, em que as outorgas são do governo estadual, deve ser entregue pela Infraway. A expectativa é de que esses aeroportos possam receber voos comerciais.
Proporcionar novas rotas de chegadas para turistas à região da Serra foi uma das demandas ouvidas pelo vice-governador durante uma reunião da Câmara Temática do Turismo dentro do Plano Rio Grande, que ocorreu na última sexta-feira (28), em Gramado. O vice-governador relembrou que no mesmo dia o governador Eduardo Leite esteve em Torres e anunciou um investimento de R$ 9 milhões em melhorias para o terminal, para que as companhias aéreas tenham interesse de utilizar o terminal. De acordo com Souza, a escolha para a melhor solução se dará pela agilidade. Mesmo assim, espera que o Salgado Filho possa ter uma normalização em breve.
— Aí vamos saber qual será o caminho e quem fará: se será a Infraero, se será a iniciativa privada, se será o próprio Estado. Não descartamos nada, não temos preconceito ideológico, até porque esse assunto não é ideológico, é lógico. Antes de tomar qualquer decisão, nosso governo pretende entender qual é o diagnóstico para acertar o máximo possível nesse caminho a ser trilhado — disse o vice-governador.
O aeroporto de Vacaria, que pertence à prefeitura do município dos Campos de Cima da Serra, e o aeroporto de Caxias do Sul, que a outorga também está com o município, podem receber melhorias. Para o terminal de Caxias já foram anunciados R$ 14 milhões em junho.
Questionado sobre a infraestrutura, o vice-governador destacou que a logística também foi bastante afetada com a tragédia climática. Ressaltou que investimentos são necessários e que foi montada uma governança para elencar as prioridades, para ter capacidade técnica por meio da Secretaria da Reconstrução do Estado. O vice ressaltou que para isso são necessários recursos.
— Não tenho dúvida nenhuma que vamos reconstruir o Estado, estamos muito convictos disso, tranquilos em afirmar isso para a população, estamos preparados para fazer os projetos, para poder fazer rapidamente, vencer rapidamente os entraves burocráticos, mas é claro que precisamos de recursos. Nós já tivemos a suspensão da parcela da dívida com a União, em que pese não o abatimento dela da dívida, porque ela continua existindo, mas uma redução importante dos juros e a transformação dessa parcela em recursos para o Fundo de Reconstrução do Estado — detalhou.
Para o uso desses investimentos, destacou que neste momento é aguardado que o governo federal regulamente o Fundo de Reconstrução
Pior do que na pandemia
Do ponto de vista econômico, Gabriel Souza afirmou que Rio Grande do Sul está vivendo uma situação mais delicada do que a sentida durante a pandemia da covid-19, uma vez que na tragédia sanitária, mesmo com a diminuição da atividade econômica, não foram registradas perdas em ativos, como prédios de empresas, o que aconteceu agora.
— Então é por isso que nós temos que ter uma atenção muito especialíssima nesse caso, o que inclui um reparo nas receitas do poder público, inclui apoio imediato e ainda maior para as empresas privadas, e não apenas aquelas da mancha de inundação, porque temos a mancha da inundação e do impacto econômico.
Até por isso, Souza ressaltou que será entregue um ofício, nesta segunda-feira, convidando o governo federal e o BNDES a se reunir com as câmaras do setor produtivo do Estado para facilitar a liberação das linhas de créditos às empresas atingidas.
— Realmente há necessidade de algumas modificações, robustecimentos nessa política, e exatamente por isso estamos precisando muito dessa conversa com o BNDES e com o governo federal. Queremos mostrar a eles que, desse jeito, provavelmente poucas empresas vão ter acesso ao crédito, ou na medida do raciocínio inverso, as que mais precisam provavelmente não vão ter acesso a esse crédito. Se mantendo essas regras atuais, precisaremos muito da melhoria dessas linhas de crédito para garantir o emprego, renda e voltar a ter um forte empreendedorismo nas regiões atingidas no Estado.
Terminal rodoferroviário
O vice-governador aproveitou a vinda à Serra para fazer uma reunião com o vice-prefeito de Vacaria, Marcelo Donde, e a presidente da Câmara da Indústria Comércio, Agricultura e Serviços de Vacaria, Luciana Vieira de Brito, sobre o terminal rodoferroviário. Ele ressaltou que o Estado quer que a empresa Rumo Logística não tome atitudes que possam prejudicar ainda mais o modal ferroviário gaúcho:
— Tenho uma audiência marcada com o secretário Nacional de Ferrovias nos próximos dias exatamente para tratar desse assunto.
"Precisamos de ajuda do governo federal"
A agenda do vice-governador em Caxias finalizou com palestra na RA CIC. Durante o evento, falou sobre os planos do governo estadual para a reconstrução após a tragédia climática de maio. O tema foi Emergência e reconstrução: O papel do Conselho do Plano Rio Grande na recuperação do Estado.
De acordo com o vice-governador, a arrecadação do ICMS projetada antes das enchentes era de R$ 6,74 bilhões para o período entre os dias 1º de maio e 18 de junho. Na prática, entretanto, foram arrecadados R$ 5,16 bilhões, uma queda de 23,4%. Ele voltou a falar da necessidade de ajuda do governo federal.
— Nós precisamos de ajuda do governo federal. Eu posso estar enganado aqui, mas queria muito com muita franqueza, a minha impressão é que muitas autoridades federais ainda não entenderam o que aconteceu no Rio Grande do Sul. E pior que isso, quanto mais o tempo passa, menor é o grau da comoção — explanou Souza.
De acordo com a apresentação do vice-governador, R$ 955,5 milhões já foram investidos em execuções em áreas como Defesa Civil, Saúde, Logística e Transportes, Assistência, Habitação, Educação e outros.
O Plano Rio Grande - Programa de Reconstrução, Adaptação e Resiliência Climática do Rio Grande do Sul tem como objetivo acelerar e organizar os processos e projetos de reconstrução do Estado. Ele prevê ações de curto, médio e longo prazo e atuará em três frentes: ações emergenciais, ações de reconstrução e um conjunto de ações chamado Rio Grande do Sul do futuro. Além disso, serão mapeadas oportunidades de captação de recursos para potencializar os projetos necessários. Assim, cerca de 160 representações do poder público, da sociedade civil e dos gaúchos atingidos pelas enchentes integram o Conselho do Plano Rio Grande, que tem o vice-governador como presidente do comitê executivo.