Enquanto a região central de Caxias do Sul está aliviada por não precisar conviver mais sob o risco de colapso da Represa Dal Bó, diversas comunidades do interior do maior município da Serra seguem com dificuldades pelas consequências da semana de chuva, que deu uma trégua neste domingo (5). Localidades como Vila Cristina, Santa Lúcia do Piaí, São Valentim da 6º Légua e Galópolis registraram deslizamentos de terra em casas, encostas ou estradas, que deixaram pessoas ilhadas ou obrigaram a evacuação de famílias que vivem em áreas de risco. Até a última atualização, foram cinco mortes registradas na cidade e três pessoas seguem desaparecidas.
Vila Cristina e Galópolis têm a situação mais crítica do município. Devido ao risco de novos deslizamentos, 220 famílias foram retiradas de casa em Galópolis, após ações conjuntas entre Exército, Corpo de Bombeiros e prefeitura. Ainda no local, de acordo com a última atualização da prefeitura, 13 idosos foram retirados de uma casa geriátrica, sendo que cinco foram acolhidos no Recanto da Compaixão.
Já em Vila Cristina, o cenário relatado por representantes da prefeitura é de destruição completa. O resgate conseguiu acessar a região somente na noite de sexta-feira (3), já que estava até então inacessível. No sábado, em um vídeo publicado nas redes sociais, o prefeito Adiló Didomenico visitou a região e observou quedas de barreira que atingiram inclusive a subprefeitura de Vila Cristina. A força da terra derrubou até mesmo um caminhão e uma retroescavadeira do município. De Vila Cristina, Galópolis e Vila Sapo, 48 pessoas estão abrigadas no Sesi.
Após visitar as regiões onde conseguiu acesso, Adiló definiu com tristeza o cenário que viu. Segundo o prefeito, é uma situação que nunca imaginou vivenciar dentro dos seus 72 anos de idade.
— Cenário é de cortar o coração. Pessoas que perderam tudo o que construíram ao longo da vida, casas que precisarão ser demolidas na comunidade de Galópolis. Estive na região de Faria Lemos, em Santa Lúcia, pessoal da fábrica de embutidos Witt perdeu as residências e as fábricas de forma irrecuperável, não tem o que fazer. Vamos levar muito tempo para reconstruir tudo — lamenta o prefeito, que, em meio a tanta destruição, também celebrou boas notícias:
— Fizemos a remoção de todas as famílias apontadas pelos técnicos e geólogos dentro do cone de deslizamento em Galópolis. Temos contato com todas as famílias que estavam ilhadas. Conseguimos atingir as últimas famílias ilhadas na região de Faria Lemos, Sertoria Baixa, com apoio dos trilheiros levamos mantimentos, medicamentos e velas. Temos controle de todas as famílias que temos notícia até agora.
Estradas no interior
Principal acesso terrestre de Vila Cristina, a BR-116 está completamente obstruída em quatro pontos entre a localidade e Galópolis. A alternativa asfaltada é a Estrada do Vinho, que enfrenta deslizamentos frequentes e problemas na estrutura. Segundo o secretário municipal de Obras, Norberto Soletti, é frequente o trabalho para desobstruir a estrada e conseguir levar máquinas para fazer a limpeza dos deslizamentos e dos escombros, porém, difícil.
— Estamos trabalhando firme já há alguns dias, só que é difícil o trabalho, porque o tempo não para, não colabora, tu limpa a barreira hoje, tu volta lá no outro dia de manhã e tem que retornar para limpar a mesma que tu limpou no dia anterior. Porque desceu mais material, então, não conseguimos seguir em frente, prosseguir os trabalhos. Precisamos de uma tolerância e de uma paciência muito grande da população, porque muita coisa precisa ser feita nos próximos meses — lamentou Soletti.
6ª Légua menos afetada, mas com problemas
As regiões de Fazenda Souza, Vila Oliva e Vila Seca, assim como a 6ª Légua, nos "fundos" dos bairros São Luiz e Cruzeiro, são as que menos registram danos materiais para a população, com poucas ou quase nenhuma família atingida. Mesmo assim, deslizamentos e bloqueios de estradas são registrados, e estão no mapa de atendimento da Secretaria de Obras e também do Samae.
É o caso da estrada Claudio Formolo, por vezes chamada de Rua Valentim João Casagrande. A via fica próxima à localidade de São Valentim e da Estação de Tratamento de Esgoto Pena Branca. A via dá acesso a algumas chácaras na localidade, que fica em um grande vale. A quase 10 quilômetros do centro de Caxias, em uma encosta próxima de cascatas e acima de onde passa o Rio Piaí, uma grande queda de barreira bloqueava o acesso às propriedades — e, inclusive, deixava uma família ilhada, mas que ainda conseguia acessar a estrada por uma trilha no meio da mata.
O aposentado Remildo Bertin é dono de uma das propriedades na região e relata que o bloqueio no acesso existe desde a manhã de quarta-feira (1º), quando aconteceu o deslizamento. Ele conta que ainda consegue acessar a propriedade por outro lado, em um caminho improvisado, mas expôs certa preocupação com sua produção.
— Consigo acessar a chácara, mas tenho animais, porco, galinha. Tenho alguns pés de goiaba também e não sei como vai ser agora, quanto tempo vão levar pra abrir essa estrada.