Depois de todo o estrago no final do ano passado com a chuva, no dia 22 de abril deste ano o governo federal anunciou o repasse de R$ 441 mil para recuperação emergencial das estradas de Capanema e da Linha Leopoldina, no interior de Santa Tereza. Essas e outras obras, como as reconstruções de encostas e até de uma ponte pênsil centenária começariam ainda esse mês. No entanto, as fortes chuvas que atingem o Estado desde segunda-feira (29), além de impedirem a reestruturação do município, agravaram a situação da cidade que recomendou, na terça-feira (30), para que moradores deixassem suas residências pelo risco de transbordamento do rio Taquari.
No salão paroquial, neste sábado (4), estão os pertences de cerca de 60 famílias. Quando a barragem da Usina Hidrelétrica 14 de Julho colapsou na quarta-feira (1), toda a sede do município foi evacuada para partes mais altas. A prefeitura não sabe precisar números, mas muitos foram para outras cidades, como Garibaldi, Bento Gonçalves e Monte Belo do Sul.
Por conta de deslizamentos de terra na RS-444, e da destruição de uma ponte que ligava o centro ao interior, a cidade conta com apenas um acesso, pelo interior de Garibaldi, por meio da Linha Leopoldina. E por isso a maioria dos moradores ainda não retornou às casas.
Santa Tereza está vazia. Neste sábado o que se via nas ruas era o movimento de funcionários da prefeitura que tentavam o restabelecimento da energia elétrica e também a abertura de acessos à Linha José Júlio, onde moradores permanecem em partes que não ofereciam risco de alagamento.
A prefeitura, posto de gasolina e o único mercado aberto na cidade funcionam com auxílio de geradores.
Reconstrução atrasada
De acordo com a prefeita Gisele Caumo, seriam 13 frentes de trabalho na próxima semana e que concluiriam a reestruturação do município que agora levará ainda mais tempo para reestabelecer a normalidade:
— Tínhamos conseguido o auxílio para tratamento do solo com verba estadual e estava no processo licitatório. Uma verba de cerca de R$ 150 mil que não chegou a ser utilizada. Mas vamos precisar de ainda mais apoio: o solo está encharcado, nossa produção de uvas e hortifrútis, que já estava comprometida, ficou ainda mais.
Um restaurante que funcionava na Avenida Itália, principal rua de Santa Tereza, teve o telhado destruído pela terceira vez em menos de nove meses. Os trabalhos nesse sábado eram para retirar a lama densa que cobriu a entrada e o salão. Os móveis e equipamentos foram retirados a tempo e estão na caçamba de um caminhão cedido pela prefeitura.
O proprietário Valdemar Rasen, 60 anos, utilizava um caminhão pipa para a lavagem porque a cidade segue sem abastecimento de água por conta da falta de energia elétrica.
— A gente tira forças da fé, só Deus mesmo. Três vezes em tão pouco tempo é muito sofrido. Montamos o restaurante junto da cidade, acreditamos em Santa Tereza e no turismo, não vamos desistir, mas vai levar anos até tudo voltar ao normal. E não podemos nem reclamar, tem gente por ai que está soterrada — diz.
"Não sei se vou ter ânimo"
Na estrada que liga Santa Tereza à localidade de Campinho, o agricultor Elói Francieski, 57, caminhava sozinho para buscar o carro que deixou em um galpão que fica em uma propriedade rural. Foi lá que protegeu alguns bens da cheia do rio:
— Eu tenho casa, mas só pra morar mesmo, porque vou fazer o que aqui? Meu filho trabalha em Bento e outro mora em Antônio Prado.