Ainda falta muito para a Serra ter as estradas com que sempre sonhou, mas trafegar pela região ficou mais fácil nos últimos três meses. Os buracos, que fizeram parte da rotina dos motoristas por cerca de 10 anos, tem se tornado raros. O conserto emergencial do pavimento — e a conservação nessas condições — está entre as primeiras obrigações que a concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG) precisou cumprir ao iniciar as operações em 1º de fevereiro. Desde então, a presença de equipes de manutenção nas rodovias têm sido constante, uma cena rara anteriormente.
As primeiras intervenções ocorreram logo no primeiro dia de atividades da concessionária, justamente com reparos no pavimento do km 69 da RS-122, próximo ao viaduto torto. Nas semanas seguintes, o trabalho se intensificou e passou a se concentrar também às margens das estradas, com roçada, limpeza de acostamentos e de sistemas de drenagem. O trabalho é importante não apenas para reduzir o impacto ambiental e manter o paisagismo na rodovia, mas também por questões operacionais.
— Quando começamos, encontramos um trecho diverso. Na região de São Sebastião do Caí e Bom Princípio a parte de pavimento estava melhor. Tinha acabado de ser realizado um serviço pela EGR (Empresa Gaúcha de Rodovias), mas a parte de área verde tinha muito mato, sujeira, bueiro entupido e problema de drenagem. Os trabalhos iniciais são compostos de cortar o mato, limpeza da pista, tapa-buraco, limpeza da sinalização, troca de placas amassadas, troca de defensas metálicas. No trecho de serra houve uma poda mais alta para melhorar a visibilidade. Esse trabalho vai durar todo o primeiro ano — revela o diretor-executivo da CSG, Paulo Negreiros.
Atualmente, a concessionária chega a ter 18 pontos de manutenção nas rodovias ao longo de um dia, e as operações da empresa envolvem cerca de 300 pessoas entre equipe própria e terceirizada. Entre as atribuições dos profissionais está fechar buracos que teimam em reaparecer, principalmente após dias chuvosos. Por conta disso, Negreiros evita dizer que os buracos ficaram no passado. Segundo ele, isso vai começar a se concretizar a partir de maio, quando uma equipe de restauro vai começar a atuar nos 271 quilômetros de concessão.
— É uma recuperação inicial, temos que atingir certos parâmetros de deformação do pavimento. Não é definitiva, mas posso garantir que depois que fizermos vai ficar muito melhor do que hoje e vamos fazer ao longo de todo o trecho — projeta.
O trabalho no pavimento, segundo Negreiros, deve ter início pela RS-122, na região de Ipê, um dos trechos em pior estado, depois seguir para a BR-470, entre Bento Gonçalves e Carlos Barbosa, e em seguida para a RS-287. Essa primeira recuperação integra os trabalhos iniciais e por isso também precisa ficar pronta até o fim do ano, assim como a entrega de uma sinalização renovada.
— Na sinalização horizontal (pintura na pista, tachões), ao final do primeiro ano, vai se perceber uma diferença absurda, porque já fizemos levantamentos iniciais e praticamente nenhum trecho está de acordo com as normas de retrorefletância (reflexo dos dispositivos de sinalização) — observa o diretor-executivo.
Já a recuperação definitiva está atrelada às obras estruturais, como as duplicações, e onde elas ocorrerão. Já nos pontos que não terão duplicação, a recuperação precisa ocorrer a partir de 2024.
O primeiro ano também será voltado para a construção das seis novas praças de pedágio da área de concessão. Com exceção de São Sebastião do Caí, onde ainda pode ocorrer modificação, todas já tem localização definida e devem ter a construção iniciada na metade de junho. Na RS-122, elas ficarão em Ipê, Flores da Cunha, Farroupilha e São Sebastião do Caí. Carlos Barbosa terá cancelas na RS-446 e a RS-240 terá ponto de cobrança no km 30,6, em Capela de Santana. Todas precisam estar em operação até fevereiro de 2024.
Serviços aos usuários também já operam
Além das primeiras intervenções nas rodovias, os condutores também já contam com serviços previstos no contrato de concessão. Desde 1º de fevereiro, guinchos leves e pesados atendem veículos em pane ou acidentados, e ambulâncias também prestam apoio no socorro de feridos. Além disso, veículos de inspeção de tráfego circulam de forma constante para conferir as condições das estradas e resolver pequenos problemas, como objetos sobre a pista.
Essas equipes e equipamentos ficam baseados em duas unidades operacionais que operam de forma provisória. Uma entre Bom Princípio e São Sebastião do Caí e outra junto ao pedágio de Flores da Cunha, ambas na RS-122. Na última semana teve início, em Farroupilha, a construção da primeira de cinco bases definitivas que ficarão espalhadas pelo trecho de concessão. Cada uma delas contará com guinchos, ambulâncias e outros veículos de apoio, ampliando o serviço de atendimento aos viajantes. Além de Farroupilha, elas ficarão situadas em Bom Princípio, Capela de Santana, Flores da Cunha e Ipê. Todas precisam estar em operação até agosto. O atendimento pode ser acionado pelo telefone 0800 122 0240.
A CSG já conta com um centro de controle operacional na sede da empresa, em Farroupilha, mas o serviço deve ser incrementado com a futura instalação de câmeras cobrindo todos os 271 quilômetros. Além disso, os serviços previstos em contrato que ainda serão implantados incluem painéis eletrônicos de informação, monitoramento de encostas, balanças para pesagem de caminhões e ponto de descanso de caminhoneiros, entre outros.
Duplicações começam em 2024
Entre as obras mais aguardadas e que justificam a concessão, as duplicações estão previstas para começar em meados de 2024. O prazo é necessário para o desenvolvimento de projetos e licenciamento ambiental, que envolve estudos de impacto e até mesmo audiências públicas. Conforme Negreiros, os trâmites, inclusive, já foram iniciados para viabilizar as obras o quanto antes.
Os primeiros trechos duplicados serão a RS-122, no contorno de Caxias do Sul, nos cerca de 10 quilômetros entre o viaduto torto e a saída para Flores da Cunha, e 19 quilômetros da RS-453, entre Farroupilha e Garibaldi. Há ainda um trecho de cerca de um quilômetro na área urbana de Montenegro, que também terá faixas adicionais. Esses cerca de 30 quilômetros precisam estar concluídos até o fim de 2025.
— Todo o trabalho prévio já foi iniciado visando chegar mais ou menos na metade do ano que vem e começar a obra. Precisa de uma interface com o governo do Estado, em nível de licença ambiental ou decretos de utilidade pública? Sim, mas o Estado tem sido bem proativo nas demandas — afirma Negreiros.
No fim de 2026, a descida da Serra entre Farroupilha e São Vendelino deve estar totalmente duplicada, o que significa que a obra irá coincidir com as demais por um período. Apesar disso, o diretor-executivo não acredita que ocorra impacto significativo na mobilidade da região.
— Algum impacto sempre há. É como dizem, para fazer o omelete temos que quebrar os ovos, mas não acho que vá ser gritante, até porque vamos nos preparar para isso.
No caso da descida da Serra, a equipe técnica ainda avalia a melhor solução para a ampliação de faixas, inclusive com a construção de viadutos sobre o precipício que margeia a rodovia. Negreiros garante, contudo, que a curva da morte vai ser definitivamente eliminada.
Ao longo dos 30 anos de contrato também estão previstos viadutos, faixas adicionais e acessos, além da duplicação da BR-470 e da RS-446, entre outras obras. Ao todo, serão investidos pouco mais de R$ 4 bilhões no período da concessão. As obras de ampliação precisam ser executadas até 2029.
Exigências contratuais do primeiro ano
Até seis meses
- Serviços de atendimento ao usuário/bases operacionais
- Roçada, limpeza, recuperação de placas e defensas metálicas, desobstrução de redes de drenagem
- Atendimento médico e mecânico
- Sistema de informações e reclamações
- Veículos de inspeção de tráfego
- Painéis móveis de mensagens
Até nove meses
- Ausência de desníveis entre as faixas de tráfego
- Recuperação de todas as defensas metálicas
- Ausência de placas sujas ou danificadas
- Sinalização de segurança em todos os pontos críticos
- Ausência de degraus nas cabeceiras de pontes e viadutos
- Placas indicativas de quilômetro em todos os pontos
- Ausência de problemas emergenciais em encostas
- Ausência de problemas de drenagem
Até um ano
- Ausência de ondulações na pista
- Toda sinalização de acordo com normas do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e do Conselho Nacional de Trânsito (Contran)
- Sistemas elétricos e de iluminação recuperados e instalação de novas luminárias perto de estruturas como pedágios
- Instalação de parte de placas educativas
- Centro de controle operacional
- Reforma e adequação de postos do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM)
- Construção e operação de pedágios