Os 24 trabalhadores, que estavam em uma pousada interditada pela prefeitura e pelos bombeiros de Bento Gonçalves passaram a noite no Hotel Pieta em Garibaldi. De acordo com informações dos fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), eles ficaram na Casa de Passagem do município, para onde foram levados após a interdição do espaço, até por volta das 22h30min. Depois disso, o grupo foi levado de van até a cidade vizinha. Os trabalhadores seguem hospedados no hotel até que o empregador faça o acerto trabalhista e providencie o retorno deles para as cidades de origem.
Esse empresário é o mesmo investigado no caso do resgate de 207 trabalhadores no último dia 22, em situação de trabalho similar à escravidão. Os homens relatam que têm vínculo empregatício com diversas empresas de Pedro Augusto de Oliveira Santana. Contudo, o MTE, esclarece que não se trata de um resgate e que eles não estavam em situação semelhante aos trabalhadores que foram levados para o Ginásio Municipal Darcy Pozza.
A interdição na pousada ocorreu na última terça-feira (28) por irregularidades como falta de habite-se. Já de acordo com bombeiros, o local também apresentava risco de incêndio. Os trabalhadores relataram que trabalhavam no apanhe de frangos para aviários. Ainda segundo eles, também trabalhavam em jornada excessiva de trabalho e recebiam pagamentos abaixo do valor prometido. Outro relato é que pagavam pelo alojamento e alimentação, ao contrário do acordado na proposta de trabalho e também eram obrigados a comprar no mesmo mercado que os 207 trabalhadores em que foi caracterizado situação similar à escravidão.
Ainda conforme o MTE, alguns dos trabalhadores que agora estão hospedados no hotel estavam na pousada alvo da operação na semana passada, mas não faziam parte dos 207 resgatados porque foram caracterizados como trabalho análogo à escravidão. Contudo, também tinham sido levados para o ginásio municipal naquela ocasião. O Ministério aponta que naquele dia, alguns deles já haviam demonstrado que não queriam seguir na Serra depois do resgate dos demais trabalhadores.
— (Nesse caso) Não caracteriza resgate porque não estão presentes os requisitos para tanto, mas como os trabalhadores estão descontentes estamos intermediando a rescisão deles e o retorno paras as casas. Como o espaço onde estavam foi interditado, eles precisaram ser realocados, então o MTE faz essa intermediação para garantir que eles recebam os valores e sejam levados de volta para as cidades onde vivem — explica o gerente regional do MTE, Vanius Corte.
O gerente ressalta ainda que como todos eles têm vínculo com algumas das empresas do Pedro Santana, o MTE seguirá investigando o número de irregularidades constatadas nos CNPJs do empresário, assim como a situação de trabalho similar à escravidão flagrado na semana passada.
Entre o grupo de baianos, há um trabalhador africano. Ele chegou ao Brasil escondido em um navio em outubro de 2021 e soube da oportunidade de trabalho no Estado por conhecidos. Segundo ele, a proposta era de pagamento de R$ 2 mil para trabalhar na safra da uva. Ao chegar, foi enviado para o apanhe de frangos, com promessa de R$ 2,5 mil, sendo que não recebeu integralmente o valor prometido.
O hotel para o qual os trabalhadores foram levados em Garibaldi é o mesmo onde, em 31 de janeiro, foi encontrada uma idosa desaparecida há mais de 40 anos. A investigação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) considerou que a idosa de 74 anos encontrada no local vivia em condições análogas ou semelhantes à escravidão.