Os 24 trabalhadores, que estavam em uma segunda pousada interditada pela prefeitura e pelos bombeiros, em Bento Gonçalves, e trabalhavam no setor avícola, devem passar a noite em um hotel nesta quarta (1º). Eles foram levados de van para Garibaldi, no Hotel Pieta, por volta das 22h30min. Todos afirmam ter vínculo empregatício com diversas empresas de Pedro Augusto de Oliveira Santana, investigado por trabalho semelhante ao escravo.
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e de Desenvolvimento Econômico foi até o local, na Rua Maximiliano Sonza, no final da tarde, para averiguar as condições e conduzir os homens para o abrigo municipal. A pousada em que estavam foi interditada por irregularidades com a prefeitura, como falta de habite-se. Já de acordo com os bombeiros, o local apresentava risco de incêndio (veja no vídeo abaixo como estava o alojamento interditado pela prefeitura).
Segundo a prefeitura, ainda não há confirmação se o local tinha contrato de alojamento, conforme ocorrido na primeira pousada, alvo da operação na última semana e onde foram resgatados 207 trabalhadores na safra da uva.
De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que chegou na casa de passagem pouco depois das 19h, os trabalhadores serão ouvidos para entender a real situação em que estavam. Ao MTE, o empresário contratante afirmou que iria custear a hospedagem desta noite em um hotel. Assim, não ficarão na casa de passagem, como inicialmente previsto pela prefeitura.
De origem africana, um trabalhador chegou ao Brasil escondido em um navio em outubro de 2021. Ele soube da oportunidade de trabalho no Estado por conhecidos. Teve proposta de R$ 2 mil para trabalhar na safra da uva. Ao chegar, foi enviado para o apanhe de frangos, com promessa de R$ 3,5 mil. Recebeu R$ 30.
— Só quero receber o que tenho que receber para alugar um cantinho para mim — afirma.
Os trabalhadores no local afirmam que atuavam tanto na safra de uva quanto no apanhe de frangos. Além disso, relatam jornada excessiva de trabalho e pagamentos com valor abaixo do prometido. Eles também tinham descontados alojamento e alimentação, diferentemente do que estava na proposta de trabalho e eram obrigados a comprar no mesmo mercadinho que os outros 207 trabalhadores que estavam em situação análoga à escravidão.
À reportagem, os trabalhadores relataram que estão sendo obrigados por Santana a rescindir o contrato ou que aleguem abandono de trabalho.