Os trabalhadores resgatados de situação análoga à escravidão na quarta (22) e quinta-feira (23), em Bento Gonçalves, começarão a volta para casa. A informação foi passada aos trabalhadores pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no final da tarde. O retorno para o nordeste brasileiro, de onde vieram, ficou ainda mais aguardada pelos 207 homens após o resgate desencadeado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e agentes do MTE na pensão onde estavam alojados, no bairro Borgo.
Na noite desta sexta-feira, os 199 homens iniciaram o embarque em quatro ônibus, que serão escoltados e devem fazer paradas em postos da PRF ao longo do trajeto para garantir a segurança deles. O comboio saiu próximo das 1h deste sábado (25).
— O sentimento de voltar para casa é o melhor possível, ficar com a família agora, ficar bem, procurar trabalho por lá mesmo — disse uma das vítimas do esquema.
— A gente estava vivendo uma escravidão aqui. E todos nós estamos alegres para voltar para a família. Estávamos num lugar que era praticamente uma prisão, estamos bem animados para voltar para a nossa terra — conta, aliviado, outro trabalhador libertado.
O pagamento dos direitos trabalhistas será feito via agência Caixa nas cidades dos residentes. O dia de pagamento vai depender de quando eles chegaram nos municípios de origem. A maioria chegou no dia 2 de fevereiro na Serra gaúcha buscando a possibilidade de melhor remuneração e qualidade de vida, atuando na colheita de uva e no apanhe de frangos para abate.
Segundo MTE, cerca de 180 homens trabalhavam de forma terceirizada na safra e no carregamento de uva e mais de 20 no carregamento de aves que são enviadas dos aviários para os frigoríficos da região. Os trabalhadores estão abrigados no Ginásio Municipal Darcy Pozza desde quinta-feira. O espaço será desativado assim que todos estiverem a caminho de suas casas. Os oito gaúchos que viajam no sábado (25) seguem para a casa de passagem da prefeitura.
O governador Eduardo Leite se manifestou sobre o caso nesta sexta-feira. Prometeu que o Estado irá acompanhar esta situação:
— Determinei ao nosso secretário do Trabalho e também ao de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos que se associem aos esforços promovidos no âmbito do governo federal, do Ministério do Trabalho, para que a gente possa identificar tudo o que precisa ser feito pelo lado do Estado, para dar suporte e atenção devida a esses trabalhadores, e naturalmente colaborar nas investigações que apurem as responsabilidades de quem tenha submetido esses trabalhadores a essas condições. O Estado estará presente e acompanhando essa situação.
Na tarde desta sexta, o secretário estadual de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Mateus Wesp, esteve no ginásio. Ele garantiu que o governo do Estado está em contato direto com o governo da Bahia para que o translado seja feito de maneira segura e também que haja acompanhamento destes homens após a chegada.
— Muitos estavam em situação de tortura. Dramática. Precisam ter um atendimento, chegaram aqui em situação psicológica vulnerável. Esse atendimento foi dado por parte do município e nós vamos buscar fazer também o encaminhamento dessas pessoas na Bahia. Entramos em contato com o secretário de Justiça e Direitos Humanos da Bahia, Felipe Freitas que se colocou à disposição na continuidade do atendimento — garantiu Wesp.