Os 196 trabalhadores baianos resgatados em condições semelhantes à escravidão em Bento Gonçalves, na Serra, passaram a quarta-feira (1º) sendo atendidos e encaminhados por equipes de assistência social da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) da Bahia. O grupo chegou ao Estado na terça-feira (28). No total, 207 foram resgatados.
Desde terça são pensadas estratégias para acolher e amparar os baianos que tinham a força de trabalho explorada por empresa da Serra. Três deles participaram da reunião com membros da Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae-BA).
— Estamos ouvindo caso a caso e agilizando para que todas as garantias e proteção de direitos sejam asseguradas a cada trabalhador resgatado desta condição criminosa — disse o coordenador da Coetrae-BA, Admar Fontes, à comunicação da SJDH.
O trabalho de atendimento e encaminhamento se divide entre quatro cidades da Bahia: Salvador, Serrinha, Lauro de Freitas e Feira de Santana. Em cada uma delas os trabalhadores receberão avaliação das necessidades de saúde e das condições de moradia. O governo estadual ainda pretende inseri-los em programas sociais e proporcionar novas condições de entrada no mercado de trabalho.
— Esse caso tem nos feito pensar, no âmbito da secretaria, o lugar da nossa ação nesta pauta de trabalho escravo. Reiterar nosso compromisso e disposição em fortalecer cada vez mais o enfrentamento a essa violação de direitos humanos é uma agenda prioritária e urgente. Estamos aqui justamente para relatar e discutir ponto a ponto dessa temática, tomando como norte esse último resgate feito no Rio Grande do Sul — pontuou o titular da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia, Felipe Freitas.
Devido ao sigilo dos atendimentos psicológicos, não foram divulgados detalhes dos relatos dados por cada trabalhador. Diferentes níveis das forças governamentais que combatem o trabalho escravo se reuniram na terça para alinhar as estratégias do pós-resgate e marcar um novo momento no combate a exploração do trabalho com sinais semelhantes ao do regime de escravidão.
— De acordo com o relato dos trabalhadores, eles teriam sido submetidos a jornadas exaustivas, recebiam comida imprópria para consumo, só podiam comprar produtos em um único estabelecimento, com desconto salarial e preços elevados, e eram mantidos vinculados ao trabalho por supostas "dívidas" contraídas com o empregador. Alguns deles tinham ido para o Rio Grande do Sul em um ônibus clandestino que partiu da rodoviária de Feira de Santana — relatou a auditora fiscal do trabalho e coordenadora de combate ao trabalho escravo do Ministério do Trabalho e Emprego na Bahia, Liane Durão.