O modelo de escolas cívico-militares foi tema de reunião na terça-feira (7) entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e entidades de trabalhadores da educação no Palácio do Planalto. Na conversa, o presidente reafirmou que o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, criado em 2019 durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e extinto em 24 de janeiro deste ano, não terá continuidade. Em nota enviada à reportagem pelo Ministério da Educação (MEC), ao longo de 2023 será analisada a eficácia e as mudanças causadas nas instituições que aderiram ao modelo. Na Serra gaúcha, serão avaliadas a Escola Estadual de Ensino Médio Alexandre Zattera, de Caxias do Sul, e a Escola Municipal Tancredo de Almeida Neves, de Flores da Cunha.
Durante a reunião, conforme publicado pela Agência Brasil, Lula afirmou que escolas que passaram a atuar no modelo cívico-militar estão previstas para serem mantidas, mas que não há previsão para que novas instituições adotem o mesmo modelo.
Desde a mudança de governo, o programa passou a ser acompanhado no âmbito da Diretoria de Políticas e Diretrizes da Educação Integral Básica, que integra a estrutura da Secretaria de Educação Básica.
Conforme a nota do MEC, para melhorias ou mudanças dentro do modelo, a partir da avaliação das escolas será "possível tomar decisões mais assertivas, baseadas em evidências científicas e com resultados concretos" .
Para fazer parte do programa, as instituições inscritas precisavam, entre os critérios, estar em situação de vulnerabilidade social e com baixo desempenho no índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), ser de capital ou região metropolitana, atender entre 500 a mil alunos e ter aprovação da comunidade escolar.
Conforme a nota enviada pelo MEC, a Escola Alexandre Zattera e a Escola Tancredo de Almeida Neves receberão novas orientações e regulamentações do andamento do modelo cívico-militar após análise técnica.
A mudança para o ensino cívico-militar
Por trás dos muros da Escola Alexandre Zattera, em Caxias do Sul, quatro policiais militares aposentados atuam em conjunto com o corpo docente da instituição. No local, pedagogia e militarismo buscam em conjunto ensinar valores como respeito, disciplina e responsabilidade para os estudantes.
Regras como o não uso de adereços, manter as unhas curtas, seguir o padrão de corte de cabelo ou deixar os fios amarrados, não ter mechas e usar o uniforme escolar chegaram a ser contestadas por pais e alunos quando o modelo começou a funcionar, no início de 2022. Conforme o programa seguia de acordo com o manual previsto, a comunidade escolar passou a entender que a ideia colabora para a aplicação dos valores.
Conforme explicam a diretora, Marili de Souza Knebel, e as vices, Mara Regina Costa de Souza e Vanessa Vetturazzi, apesar da resistência, a confiança do corpo docente no trabalho dos militares colaborou para que comunidade e escola pudessem perceber mudanças na aprendizagem e comportamento dos estudantes.
— Nós vimos maior concentração, maior interesse e aos poucos eles começaram a entender o modelo e ter disciplina para seguir as regras. A presença dos militares fez os estudantes terem maior respeito entre eles e com a gente e as famílias começaram a ter mais confiança para deixar as crianças aqui — revela Marili.
A segurança foi outra mudança percebida. Antes do modelo, era comum ver moradores do bairro em torno do local tanto no horário de aula quanto na saída. A chegada dos militares colaborou para que as ruas fossem ocupadas principalmente por membros da comunidade escolar. A mudança, mesmo parecendo pequena, trouxe maior segurança para a circulação dos estudantes.
Para o estudo previsto para ser feito pelo MEC, a escola está fornecendo, desde o final do ano passado, relatórios que mostram cada evolução e ideias novas propostas ou aprendidas pelos alunos. A iniciativa é a forma que militares e corpo docente encontraram de mostrar ao ministério que veem o programa com bons olhos e pretendem manter o modelo, com expectativa de atuar com nove militares, como estava previsto quando o programa foi iniciado.
— Esse modelo trouxe benefícios que a gente vai conseguir ver a longo prazo. O que eles aprendem aqui hoje é aplicado dentro e fora dos portões da escola. Pais contam como os estudantes passaram a aplicar dentro de casa as práticas aprendidas aqui e recebemos isso com alegria. Se conseguirmos trabalhar com nove militares, vamos poder expandir nossa atuação para todos os (três) andares da escola e acompanhar os estudantes em todos os ambientes, sem precisar revezar — revela o tenente e oficial de gestão escolar, Ricardo Cruz.
O trabalho dos policiais dentro da escola é fornecer auxílio ao corpo docente, acompanhando os estudantes nas atividades fora da sala de aula. A presença dos militares dentro das salas ocorre para fornecer avisos específicos ou atuar em casos de indisciplina.
— O que muitas pessoas não sabem é que o modelo cívico-militar é diferente do modelo militar. Aqui eles não interferem na sala de aula, eles atuam para atividades do lado de fora e ajudam a acompanhar os estudantes na falta de professores. Nosso corpo docente está com algumas faltas, então eles contribuem para suprir a falta desses professores para que os estudantes não fiquem sozinhos, nem nas salas de aula e nem no pátio na hora de intervalos ou atividades ao ar livre — conta Vanessa.
O som unificado de correria, gritos e cantorias é ouvido em toda escola durante o intervalo. Mesmo sendo monitorados pelos policiais, os estudantes sabem que tem liberdade para agirem como crianças e adolescentes, respeitando as regras estabelecidas pelo modelo.