CORREÇÃO: O nome da empresa que mantinha contratos com os trabalhadores baianos resgatados em operação contra trabalho análogo à escravidão em Bento Gonçalves é Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, e não Fênix Serviços de Apoio Administrativo. A informação errada foi informada pelo advogado Rafael Dorneles da Silva, que se diz defensor da empresa investigada e ficou publicada do dia 25/02/2022 até 16h de 27/02/2022. O texto já foi corrigido.
194 trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves começaram a voltar para casa por volta da 1h deste sábado (24) e devem chegar na Bahia, onde moram, no início da madrugada de segunda-feira (27). Além dos que já estão na estrada, outros nove gaúchos, resgatados na mesma operação - deflagrada na quarta (22), no bairro Borgo - devem percorrer o Estado de volta para seus municípios de origem: Rio Grande, Montenegro, Portão e Carazinho. Quatro trabalhadores resgatados, segundo o MTE, optaram por ficar em Bento.
Os 207 homens resgatados estavam no Ginásio Municipal Darcy Pozza desde a manhã de quinta-feira (23), após a pousada onde eram alojados ter sido interditada. Os gaúchos esperam encaminhamento.
De acordo com a Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, o governo da Bahia se comprometeu em esperar os trabalhadores com equipes da assistência social em cada município de chegada. Estas cidades não estão sendo divulgadas por questões de segurança.
Às 10h deste sábado, o Ministério Público do Trabalho (MPT) do RS, a Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Assistência Social de Bento Gonçalves farão uma coletiva no Ginásio Municipal de Esportes Darcy Pozza para divulgação dos resultados e futuros desdobramentos da operação de resgate de trabalhadores encontrados esta semana em situação análoga à escravidão na cidade.
Relembre o caso
O dos trabalhadores em situação análoga à escravidão foi denunciado após seis homens conseguirem fugir do local onde eram mantidos e buscar contato com a Polícia Rodoviária Federal, que prestou auxílio e deu início à operação.
Um dos denunciantes já havia gravado vídeo com um celular e publicado em uma rede social reclamando das condições de trabalho. Ele relata que foi agredido pelos supostos empregadores por isso. O homem contou à polícia que aproveitou quando os agressores foram atender uma ligação e pulou de uma janela, correndo até um mato próximo do local onde estava. Ele e mais dois trabalhadores, que estavam com ele, aguardaram até as 3h da quarta-feira (22) para sair e pedir ajuda.
Ainda na quarta, uma operação conjunta de PRF, Polícia Federal (PF) e MTE flagrou 180 homens no alojamento, em situação precária de hospedagem, higiene e alimentação. À equipe, trabalhadores relataram que sofriam violência verbal, física, ameaças de morte e eram alimentados com comida estragada.
Após o primeiro flagrante, outros 27 homens foram resgatados, na quinta, e encaminhados ao ginásio.
O aliciador da mão de obra e administrador da empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, Pedro Augusto Oliveira de Santana, chegou a ser preso ainda na quarta, mas foi liberado no dia seguinte após pagar fiança de R$ 39.060. Natural de Valente (BA), o empresário está sendo investigado. Ele trabalharia na região, com prestação de serviço, há pelo menos 10 anos, conforme o MTE.
Os homens resgatados atuavam, principalmente, na colheita da uva, em propriedades rurais do município. As três vinícolas — Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton —, citadas pelos trabalhadores e que contrataram o serviço terceirizado da prestadora, afirmaram em notas não ter conhecimento da situação em que os homens eram expostos até a operação, e que irão colaborar com a investigação.