Muito se fala da doação de sangue humano. Mas, no mundo animal, o procedimento é tão importante quanto para nós. Seja por conta de uma doença grave ou de um procedimento cirúrgico, cães e gatos podem precisar de uma transfusão de sangue. Contudo, o caminho para conseguir uma bolsa não é fácil.
A dificuldade começa no número de voluntários. A falta de informação sobre o assunto e também o receio dos tutores contribuem para reduzir o número de doadores.
É importante dizer que os cães só aceitam transfusão de cães, assim como os gatos só de outros felinos. Porém, tal qual os humanos, os bichinhos têm grupos sanguíneos diferentes. Por isso, a dificuldade de encontrar também doadores compatíveis.
Outra barreira enfrentada são os pré-requisitos para a doação: não é qualquer animal que pode passar pelo procedimento. O temperamento do bichinho também é levado em consideração, segundo a veterinária Carolina Vivian, que faz a coleta de bolsas de sangue em animais, no laboratório Mellislab, em Caxias do Sul. Por semana, são feitas em média apenas cinco coletas.
— Não pode ser um momento estressante pra animal. Ele precisa permitir ser manipulado. A gente sempre faz tudo com muita calma, com muita tranquilidade, porque a gente quer que ele siga doando para o resto da vida, que ele doe várias vezes — explica a veterinária.
Todo o processo é feito de forma gentil. Dentro da sala, o ambiente é de pouca luz, nada de barulho, e muito carinho com o pet. O procedimento dura poucos minutos. Nos gatos, é feito o uso de tranquilizante. Cada bolsa de sangue de gato tem 60ml e pode ajudar apenas outro gato. Já a bolsa canina tem 500ml e pode ajudar mais um outro cachorro.
Antes da doação, é feita a retirada de uma pequena amostra de sangue do animal. Esse material passa por análise no laboratório para detectar possíveis doenças ou alterações que impeçam a coleta da bolsa. Esse procedimento também beneficia o próprio doador, já que é um check up de graça.
— A gente já teve alguns casos de doadores que conseguiram detectar doenças de forma mais precoce exatamente por conta da doação, por estarem acompanhando a saúde com exames de sangue regularmente. Então, é vantagem para o doador também — diz Carolina.
Para o Bores, a vantagem é em dose dupla, já que ele adora os passeios até a clínica. O simpático cão de três anos é um dos doadores. A tutora, Blondina Deckmann, também é doadora de sangue. A cuidadora de idosos não pensou duas vezes quando soube da possibilidade de o pet contribuir com a saúde de outro animalzinho.
— Ele fica bem calminho, bem tranquilo. Fico feliz pelo fato de ele estar fazendo o bem para outros animais. O dia que em ele fez a última doação, tinha um cachorro em cirurgia que recebeu a bolsa — conta a tutora, com sorriso no rosto.
A família da Andreia Albe Nunes sabe bem do alívio de conseguir uma doação. A cachorrinha da irmã, chamada Luna, teve que receber uma transfusão de emergência por conta de uma anemia grave. A família fez testes de compatibilidade com quatro bolsas de sangue até achar a que poderia ser usada.
— Foi a maior vitória da nossa vida conseguir um doador, porque é muito difícil. Infelizmente, as pessoas não têm a cultura da doação de sangue para animais. E, depois da transfusão, a Luna é outra cachorra, mais disposta. A transfusão deu uma qualidade de vida nova pra ela — comenta.
As doações podem ser feitas em clínicas veterinárias e laboratórios particulares mas não têm custos ao doador.
Que animais podem doar
Cães
:: 28 kg ou mais
:: entre 1 e 8 anos
:: vacinas e vermífugos em dia
:: sem doenças infecciosas
:: sem histórico de doenças graves
Fêmeas
:: sem gestação, nem em período de cio
:: jejum de sólidos de 6h a 8h
Gatos
:: 4 kg ou mais
:: entre 1 e 8 anos
:: vacinas e vermífugos em dia
:: sem acesso à rua
:: sem doenças infecciosas
:: sem histórico de doenças graves
Fêmeas
:: além dos requisitos exigidos aos machos, não pode estar em gestação, nem em período de cio
:: jejum de sólidos de 6h e de água de 2h