Mais atenção à formação e retenção de professores, investimentos básicos em infraestrutura nas escolas ao mesmo tempo em que é necessário avançar na inclusão de novas tecnologias de ensino e melhorar o acesso ao ensino profissionalizante. Essas são as principais demandas de lideranças e especialistas para a área da educação na Serra para os próximos eleitos em outubro. Além disso, se é cada vez mais urgente olhar para o futuro, é importante também garantir que o déficit de aprendizado, provocado pelo distanciamento imposto pela pandemia, possa ser recuperado nos próximos anos.
A demanda mais mencionada pelas lideranças ouvidas pela reportagem é a necessidade de valorização aos professores em diferentes frentes de trabalho. Ao mesmo tempo em que começam a faltar docentes, é fundamental investir em quem está à frente das salas de aulas, para que possam seguir atuando no aprendizado e na formação de novos alunos e, consequentemente, em profissionais para o mercado de trabalho.
— Há um debate urgente, que é a escassez de profissionais da educação disponíveis no mercado, seja para a contratação ou para a nomeação por concursos. Ainda que muitos gestores públicos ou privados tenham condições de contratar e nomear professores, não há profissionais disponíveis, o que também é um óbice para a melhoria da qualidade da educação pública ofertada - afirma a titular da Promotoria Regional de Educação do Ministério Público, Simone Martini.
Para a coordenadora do curso de Pedagogia do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), Simone Martiningui Onzi, ações como valorização salarial e reconhecimento da profissão são importantes para a retenção de profissionais. Além disso, como incentivo à formação de novos educadores, os próximos governos precisam ampliar programas que fomentem a busca por cursos de licenciatura, bem como a permanência dos estudantes nos mesmos.
— Incentivar e fortalecer a formação continuada dos professores, abrangendo aspectos cognitivos, afetivos e sociais do processo de aprendizagem, assim como temas importantes a exemplo de diversidade e inclusão - elenca.
Professor no curso de Pedagogia da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e coordenador do Programa Regional de Ação Conjunta Universidade e Municípios (PRAC), Delcio Antônio Agliardi concorda.
— É importante ter mais atenção nas condições de trabalho dos professores. São eles que traduzem a educação escolar todos os dias para a sociedade. Sem eles, resta-nos o caos - avalia.
Investir para melhorar estrutura e recuperar aprendizado
Maior colégio público da Serra, com 1,3 mil alunos matriculados em três turnos e 73 professores, o Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, em Caxias do Sul, aguarda há anos para que as promessas de cada eleição sejam cumpridas. Desta vez, o desejo se renova e o pedido é que as obras, aguardadas há anos, sejam, enfim, realizadas.
No próximo ano, completa-se uma década que o auditório da escola, espaço sede de eventos escolares e para a comunidade, está fechado por problemas nas saídas de emergência, na fiação elétrica e no carpete. Ginásio e um antigo bar também estão interditados. Na parte interna, a falta de manutenção é um desafio.
— Já perdemos as contas de quantos engenheiros vieram aqui para fazer projetos. Nós pedimos apenas que as melhorias de infraestrutura, que vem sendo faladas há anos, possam ser cumpridas. Fiz a minha formatura no ginásio do Cristóvão e, hoje, como diretora, meus alunos não podem aproveitar aquele espaço - resume a professora Rachel Grazziotin, à frente do Cristóvão desde o ano passado.
Além das questões de infraestrutura, Rachel alerta para o desafio mais recente para quem está na linha de frente da educação: a falta de interesse dos alunos nos estudos com a retomada do ensino presencial após a pandemia. Por isso, os especialistas recomendam ações para o resgate das defasagens que ocorreram em virtude da pandemia por meio dos programas de recuperação de aprendizagens.
O que dizem as lideranças
"O empobrecimento das famílias motivou a ida dos alunos das redes privadas para as redes públicas, assim como intenso migratório que aportou em nossos municípios, ocasionando um colapso na oferta da educação na creche e básica. Há cidades comprando vagas na rede privada, no entanto, ainda há alunos de idade escolar obrigatória que não estão acessando a escola, além de filas de espera para vagas em creche" - Simone Martini, titular da Promotoria Regional de Educação
"É fundamental que o governo federal assegure orçamento necessário para que se possa investir em infraestrutura e na contratação de professores e técnicos administrativos. Na esfera estadual, entendo por fundamental que haja investimentos na formação de novos professores, na capacitação dos docentes atuais, na melhoria da infraestrutura das escolas e que isso seja acompanhado, obrigatoriamente, de uma valorização salarial substancial para aqueles que escolherem seguir a carreira da educação" - Júlio Xandro Heck, reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS)
"As escolas de tempo integral, ainda que uma utopia frente ao pouco avanço e investimento, é uma meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que se finda em 2024" - Simone Martiningui Onzi, coordenadora do curso de Pedagogia do Centro Universitário da Serra Gaúcha
Demandas elencadas pelas lideranças regionais
- Ampliar a oferta de vagas na educação pública.
- Criar medidas que permitam adultos a concluírem a educação básica e repensar a Educação de Jovens e Adultos (EJA) para melhorar os índices de escolarização e da redução do analfabetismo.
- Investir em obras de manutenção e melhorias nas escolas, principalmente na rede estadual.
- Aumentar o número de vagas na educação integral.
- Investir na formação e capacitação de professores, incluindo valorização salarial.
- Criar um plano para recuperar a aprendizagem de crianças e adolescentes devido ao impacto da pandemia no ensino público.
- Trabalhar para que as bibliotecas escolares e as tecnologias digitais estejam ao alcance de um número maior de estudantes.
- Avançar na oferta de mais e novas vagas públicas no sistema federal, em todos os níveis de ensino, desde o ensino médio integrado ao ensino técnico até a oferta de mais vagas em cursos de pós-graduação.