Ter segurança pública é a base de uma sociedade. Por isso, o tema é sempre uma dos mais debatidos em cada eleição. Na Serra, não é diferente. A expectativa dos eleitores é de que os próximos governador e presidente sejam capazes de tomar decisões para melhorar a segurança pelo menos em médio prazo.
A demanda principal é pelo aumento de número de policiais. É público e notório, há anos, que o Rio Grande do Sul tem, aproximadamente, metade dos policiais militares e civis que deveria, conforme idealizado pelas próprias corporações. A contratação de novos agentes esbarra na crise das finanças públicas. Ainda assim, a comunidade clama por um planejamento dos próximos anos que permita ter mais policiais nas ruas.
— Ter mais policiais é o mais importante, é o básico para a segurança pública. Esse é o primeiro objetivo. O segundo ponto é investimento em inteligência, mais recursos para os policiais e, assim, prevenir crimes. O terceiro alicerce é a criação do cercamento eletrônico da região, com mais câmeras e equipamentos capazes de monitorar automaticamente a movimentação criminosa — destaca Adelgides Stefenon, presidente do Bento +20, que coordenou a elaboração das demandas regionais de segurança entregues em um documento do Mobi Caxias aos candidatos a governador.
Essa estratégia de ampliar as reivindicações é necessária pelo reconhecimento de que a convocação de novos policiais não é simples de se resolver. A solução encontrada é o investimento em tecnologia, como as câmeras com software capazes de reconhecer placas de veículos roubados.
— O cercamento das cidades e, depois, um cercamento regional é um passo importantíssimo. Se acontece algo em Caxias e o suspeito foge para Farroupilha, toda esta movimentação será acompanhada pelas câmeras, capaz de reconhecer a placa do veículo e orientar os policiais para uma resposta mais rápida. A tecnologia é essencial para termos cidades inteligentes, inclusive na área de segurança — reforça Stefenon.
Estratégia de combate ao crime organizado
O investimento em tecnologia também é considerado essencial para desarticular o atual "motor" da criminalidade: as facções. A maioria dos líderes criminosos já foi identificada e eles estão presos nas cadeias gaúchas. Contudo, conseguem continuar coordenando o tráfico de drogas e ordenando novos crimes, inclusive homicídios, diante da incapacidade das casas prisionais em inibir a entrada de celulares.
Para resolver a situação, a sugestão é investir em equipamentos capazes de bloquear os sinais telefônico e de internet nas proximidades das penitenciárias. O Governo do Estado anunciou ter iniciado a instalação de uma nova tecnologia e que pretende, até novembro, bloquear a comunicação externa de metade dos presos em regime fechado do Rio Grande do Sul. Na Serra, contudo, apenas uma casa prisional terá os bloqueadores: a Penitenciária Estadual de Caxias do Sul, na localidade do Apanhador.
Também neste enfrentamento do crime organizado, a presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede) da Serra, Mônica Mattia, destaca a necessidade do presidente, senadores e deputados atuarem por uma estratégia ampla de combate ao tráfico de drogas. O entendimento é que é preciso uma política nacional, talvez até com mudança de legislação.
— A nossa região sofre pelo elevado número de homicídios. E a maior parte deles tem como origem problemas vinculados ao tráfico de drogas. Está na hora de os governantes, no âmbito nacional, criarem uma estratégia para lidar com essa questão do tráfico. Nossa região é uma rota do tráfico, tanto por ter duas grandes rodovias (BR-116 e BR-470)como pelo alto consumo em vista da elevada renda — aponta.
O que dizem as lideranças
"Hoje, estamos com efetivo menor do que há 20 anos atrás. Sendo que a população duplicou. É preciso encontrar formas de aumentar o número de policiais. Termos mais policiais nas ruas diminui a criminalidade. É preciso ter policiais para fazer este patrulhamento preventivo" - Luiz Raimundo Tomazzoni, presidente do Consepro em Caxias do Sul
"É preciso implementar melhorias no sistema prisional para diminuir o espaço das facções. Via de regra, o Estado não ocupa seu espaço. Não garante os direitos mínimos, como colchão, higiene, saúde e alimentação. Quem ocupa, é as facções. Só oferecendo estes direitos mínimos conseguiremos diminuir as facções e trabalhar a ressocialização" - Juíza Joseline Vargas, da Vara de Execução Criminal Regional
"É notória a necessidade do aumento dos efetivos dos órgãos de segurança, mas também é importante continuar investimentos em inteligência e investigação. É preciso qualificar o trabalho policial com tecnologia para combater o crime organizado. Isso inclui a implementação dos bloqueadores de celular nos presídios, principalmente na casa prisional do Apanhador" - Paulo Roberto da Rosa, secretário municipal de Segurança Pública de Caxias do Sul
Demandas elencadas pelas lideranças regionais
- Aumentar o efetivo policial e tornar mais visível a presença de policiais nas ruas
- Promover e incentivar o cercamento eletrônico entre todos os municípios da Serra, possibilitando reconhecer quando veículos roubados circulam pela região
- Construir a nova cadeia pública em Caxias do Sul e planejar o aumento do número de vagas prisionais na região nos próximos anos, afinal todas as casas estão superlotadas.
- Investir em projetos de ressocialização dos egressos do sistema prisional
- Construir a Central de Polícia de Bento Gonçalves, que abrigará todas as quatro delegacias da cidade e modernizará o atendimento
- Reforçar a segurança deficitária nas cidades de Nova Prata, Paraí, Monte Belo do Sul e Carlos Barbosa.
- Modernizar e qualificar os sistemas de inteligência das forças de segurança.