Em tempos de conexão à disposição a qualquer hora do dia, não existe mais um horário considerado nobre para a produção e divulgação de conteúdo. Essa foi a linha de pensamento de um painel na tarde desta quinta-feira (25) durante o Festival Mundial de Publicidade, que encerra nesta sexta-feira (26) em Gramado, na Serra. A programação deste ano, que retorna após cinco anos desde a última edição, reuniu centenas de pessoas de forma presencial e também pela internet para acompanhar atividades que debatem o papel da publicidade na era digital.
O painel sobre horário nobre na internet, um dos principais do evento, conforme a organização, reuniu nomes das principais empresas de tecnologia do mundo, como Instagram, Facebook, Twitter e do Grupo Globo. Na mediação, a empresária e influenciadora digital Bianca Andrade, a Boca Rosa, que é considerada um case de sucesso na internet após começar a carreira fazendo vídeos caseiros com dicas de maquiagem e que hoje detém uma marca de cosméticos e mais de 18 milhões de seguidores na internet. Ela foi o último nome a ser confirmado pelos organizadores e uma das estrelas do time de especialistas convidados a palestrarem em Gramado.
Para o diretor de Novos Formatos Publicitários e Futuro da Globo, Marcos Cabrera, o chamado horário nobre é considerado um período onde o conteúdo é consumido por muitas pessoas ao mesmo tempo. O termo foi popularizado a partir da programação da emissora, que priorizou telejornal e novelas em um horário onde a maioria das pessoas estavam em casa e disponíveis para acompanhar os conteúdos produzidos pelo canal carioca. Cabrera reconhece que esse fenômeno não é o mesmo para quem está na internet.
— Quando a gente pensa no digital, qual é o prime time da internet? Entendo como um lugar, um momento, um conteúdo que temos um grande número de pessoas afetadas. Não é mais horário e, sim, o local. No digital, você não precisa mais esperar chegar em casa e se conectar para consumir um conteúdo. Você pode consumir um storie, um reels, um gol da rodada no momento que estiver afim de consumir. O prime time é o conteúdo — avalia ele
Para o CEO da agência MField, Flavio Santos, que também é autor do livro Economia da Influência, as redes sociais estão cada vez mais presentes na vida das pessoas para novas atividades — e que as marcas precisam ficar atentas a esse comportamento. Ele citou que é cada vez mais comum o internauta procurar por restaurantes na internet e escolher o prato por meio das publicações na internet do que pelo cardápio disponível no estabelecimento.
— O produtor de conteúdo é meio e mídia. Tem potencial para levar informação para a frente. O marketing de influência é o boca a boca 2.0. Antes, a gente pedia indicação para vizinho, irmãos, mas que agora está na internet e sendo influenciado por produtores de conteúdo — afirma
Ao mesmo tempo em que o comportamento das pessoas mudou, as plataformas também se adaptam e participam desse processo. A head of marketing Brazil da Meta, empresa que reúne Facebook, Instagram e WhatsApp, Beatriz Bottesi, lembrou que o Instagram foi criado unicamente como uma rede social para servir como álbum digital de fotos. Em uma década, incorporou vídeos bem produzidos, publicações rápidas que desaparecem em 24 horas, shopping e permitiu que muitas pessoas usassem a plataforma para produzir conteúdo e ganhar dinheiro.
— Muita gente não sabe, mas o produtor de conteúdo é alguém que ganha dinheiro na internet. Faz algo que consiga monetizar, atingindo seu público e influenciando pessoas. O Instagram permite isso. Existem diversas frentes de trabalho em um único canal.
Ela destacou também a força do WhatsApp que, para a empresa, não é considerada uma rede social, mas um meio de conexão e troca de mensagens. Beatriz reforçou que a plataforma trabalha com textos criptografados, ou seja, sem que a empresa tenha acesso ao conteúdo que é trocado entre os usuários do aplicativo.
Cabrera comentou também que a Globo, há um tempo atrás, cogitou a produção de uma novela exclusiva para ser entregue ao público pelo WhatsApp, mas que a proposta não foi adiante em razão da redução do número de pessoas em grupos da plataforma. Mesmo assim, entendeu como importante os estudos de como distribuir o conteúdo.
Os convidados também destacaram como a internet tem pautado a televisão, onde é cada vez mais comum programas utilizarem de assuntos que repercutem na web para atrair audiência. Ao mesmo tempo, reforçaram que os temas exibidos na televisão, como eleições e copa do mundo, ganham relevância e discussão em plataformas como o Twitter.
— O conteúdo é o principal. Sempre foi e sempre será — afirma o diretor.
Entre o público, a sensação era de estar participando de uma atualização diante de grandes nomes do mercado. A costumer success Jéssica Carneiro, de Gramado, estava empolgada para acompanhar a palestra da influenciadora Bianca Andrade. Na oportunidade que teve, fez uma pergunta para a empresária e entregou um presente para a carioca: um livro e chocolates da cidade.
— Ela é um case de sucesso para a nossa área. Conseguiu revolucionar um setor, inovou e hoje é um exemplo para todos.
O produtor de vídeos Bruno Bordoli, 23, veio acompanhado de Wellington Saziki, 27, e Ana Carolina Chaves Santos, 23, para aproveitar a programação. O grupo é de Blumenau (SC) e trabalha em uma agência focada na produção de vídeos.
— Vim aqui para beber da fonte, literalmente. Aprender como esses grandes criadores, que movimentam a comunicação do Brasil e entender mais de perto como podemos aperfeiçoar o nosso dia a dia e o contato com os nossos clientes — diz Bruno.
Medalha Maurício Sirotsky Sobrinho
O primeiro dia do festival foi marcado pela homenagem a personalidades do setor com a entrega da medalha Maurício Sirotsky Sobrinho, distinção com referência ao primeiro patrono do Festival.
Na cerimônia foram homenageados Manzar Feres, diretora de Negócios Integrados em Publicidade da Globo (que não esteve presente), Alberto Cimenti Neto, diretor comercial das lojas Quero-Quero, e Vannice Ramos, superintendente executiva de marketing do Banrisul.
"Eu nunca parei de trabalhar", diz influenciadora
Em uma plateia formada por publicitários, jornalistas e produtores de conteúdo, a presença de Bianca Andrade, a Boca Rosa, chamou a atenção de quem circulou pelo Festival Mundial de Publicidade.
Muitos procuravam por uma chance de tirar uma foto com a influenciadora de 27 anos, dona da marca de cosméticos Boca Rosa Company, que cresceu em uma favela do Rio de Janeiro e chegou à lista das mulheres de maior sucesso no Brasil, segundo a Revista Forbes, por meio da produção de conteúdo na internet.
A reportagem do Pioneiro conversou com ela, que contou sobre a trajetória, o sucesso e a chegada da maternidade.
Pioneiro: Como é começar fazendo vídeos em casa até chegar hoje com milhões de seguidores e ser a dona do próprio negocio?
Bianca Andrade: É muito gostoso. Hoje (quinta), por exemplo, quando a gente tava conversando no meu painel (do Festival de Publicidade), uma pessoa perguntou o que a Bianca de hoje falaria para a Bianca de 16 anos, que começou na internet, né? Eu diria: primeiro, que tem que ter muito orgulho dela porque ela teve que aguentar muita coisa para chegar até aqui (risos). Mas eu diria para ela acreditar, acreditar no trabalho dela, na intuição, acreditar na inteligência, no poder de todas nós. Tudo isso eu diria para a Bianca de 16 anos e, para mim, é muito gratificante lembrar dela. Da Bia que morava no Parque União (Rio de Janeiro) e que hoje está aqui, por exemplo, nesse evento tão amado e com tanta gente incrível.
E qual é o segredo para ser um case de sucesso na internet, saber vender um produto no digital e ter resultados disso?
Vou te decepcionar porque não tem segredo, acredita? É levantar e trabalhar. Eu não tive um segredo, só fui muito intencional no que eu fiz. Sempre tive muita curiosidade de aprender, nunca me acomodei, sempre fui curiosa. Então, resumidamente, eu nunca parei de trabalhar. Sempre querendo saber qual é o próximo passo, como crescer, como inovar e como ser uma pessoa importante também, né, para minha sociedade. Cada um descobre a sua maneira de fazer sucesso. É muito particular.
E qual é o desafio de ser a própria empresária? Ter uma marca e gerenciar a própria carreira?
É o caminho mais difícil, mas eu vou te falar, eu não teria outro (risos). Eu sou muito líder, muito dona das minhas ideias, da minha opinião, então jamais conseguiria me calar ou fazer algo que eu não tô a fim de fazer ou porque alguém pediu. Claro, eu tenho grandes parcerias. Tenho parceiros, tenho o meu time que joga muito comigo. Obedeço muito eles, às vezes eles mandam mais do que eu mesma. Foi o caminho mais difícil, mas esse foi o grande diferencial da minha história. Ter tido a curiosidade de empreender lá atrás, de fazer, de criar as minhas próprias estratégias, estudar sobre sobre marketing, me apaixonar pelo bus-marketing. Tudo isso que exigiu muito da minha cabeça foi um grande diferencial.
E agora como mãe também.
E agora como mãe. A gente sempre fala sobre cada vez mais abordar a maternidade de forma real. Desromantizar a maternidade. Porque eu, por exemplo, no começo, no meu puerpério, meu Deus. Eu falei: gente, eu sou péssima, porque não tô conseguindo entregar 100% de mim no meu trabalho, mas eu não posso deixar de entregar 100% de mim pelo meu filho (Cris, de um ano de idade). Então, não é fácil. Falo isso para todas as empreendedoras, mas com o tempo a gente vai aprendendo a se acolher, se respeitar, não se cobrar tanto. Se culpar menos. Com o tempo a gente vai aprendendo. E hoje tá uma delícia. Meu filho mudou minha vida. Se não fosse meu filho, acho que eu nem estaria aqui. Ele é a paixão da minha vida.
E como é estar na Serra gaúcha?
Já palestrei aqui, há muito tempo atrás, mas não em um evento de publicidade tão grandioso. E num dia de calor (risos). Vim com roupa de friozinho, mas tá calor e tá ótimo. Adoro calor.