Segurando o teste positivo para covid-19 nas mãos, a jovem Izabel Pintos Cardoso, 18 anos, foi convidada a participar de um estudo inédito que é realizado em Caxias do Sul: transfusão de plasma de vacinados para pacientes que estejam infectados. A pesquisa é coordenada pelo Hospital Virvi Ramos. O diferencial é que o plasma de vacinados, ao invés de plasma de convalescentes, daquelas pessoas que tiveram covid-19, têm uma quantidade maior de anticorpos. (leia mais, abaixo).
A caxiense foi a primeira sorteada no grupo do plasma. Antes disso, os voluntários que se enquadravam para aderir a pesquisa haviam sido sorteados para o grupo controle, que não recebe plasma. Ela fez o teste na UBS do Esplanada na quarta-feira (26). O local foi selecionado para integrar o estudo por ser uma das maiores UBSs e que, portanto, realiza um maior número de testes. Depois de ser informada sobre a pesquisa, Izabel se dirigiu ao Pronto-Atendimento Covid do Hospital Virvi Ramos para receber a transfusão.
As bolsas com o plasma vem do Rio de Janeiro, já que o estudo tem parceria com o HemoRio, que é o responsável pelo recrutamento dos doadores de plasma de vacinados, coletas e testes de segurança, que quantificam os níveis de anticorpos neutralizantes e pelo envio das bolsas de plasma para serem transfundidas. Já o Banco de Sangue de Caxias ajuda em todas as transfusões que são realizadas no Hospital Virvi Ramos, que coordena o projeto. Até o final da manhã dessa quinta-feira, 15 pacientes vacinados, já haviam doado plasma no Rio de Janeiro para participar da pesquisa.
Os sintomas da primeira paciente a receber a transfusão começaram no domingo, o que a enquadrava para participar do estudo, ou seja, tinha três dias de sintomas.
- Comecei a me sentir mal e ai pensei na hora: não é possível que depois de quase dois anos eu peguei covid. Estava estudando em casa, e praticamente não saia. Sempre me cuidei.
O sentimento é de gratidão e de esperança:
— Me sinto grata por participar de algo que pode ajudar as pessoas. Hoje (quinta) estou me sentindo bem melhor. Na quarta eu sentia dor no corpo, dor no peito, dificuldade para respirar, e agora sinto dor na costas só. Decidi participar porque me parece algo positivo, porque tem muitas pessoas que são alérgicas e não podem tomar medicamentos. Além de ser uma alternativa que pode melhorar o meu quadro, acredito que ao participar eu possa incentivar outras pessoas também a serem voluntárias — conta a jovem.
Diferenças entre os estudos
O estudo em andamento em Caxias do Sul é diferente do uso do plasma convalescente, que teve uma nova diretriz repassada pela Organização Mundial de Saúde, em dezembro de 2021. A OMS desaconselhou o uso de plasma convalescente para qualquer quadro da doença, mas abre uma possibilidade de uso para pacientes graves ou críticos desde que eles estejam participando de estudos clínicos. A recomendação foi publicada no "British Medical Journal" ("BMJ").
— No nosso estudo estamos falando de plasma de vacinados, que é um plasma hiperimune. Não teria nada que seja contrário ao que a OMS preconiza. Além disso, temos uma pesquisa controlada e randomizada (considerado o padrão ouro de testes na ciência) — explica a Dra. Andrea Dal Bó, infectologista e Coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Virvi Ramos, que está à frente do estudo.
A especialista ressalta ainda que o estudo com plasma de vacinados é inédito no mundo, e avalia a eficácia do plasma de doadores imunizados com esquema vacinal completo administrado precocemente para impedir a evolução dos casos leves para casos mais graves, que demandem atendimento médico em unidades de terapia intensiva (UTI).
— Essa transfusão precoce de plasma hiperimune, com alta quantidade de anticorpos, em pacientes que apresentam sintomas leves pode representar uma possibilidade segura para a recuperação de pacientes em risco de evolução para síndrome respiratória aguda grave — afirma a médica.
Depois da transfusão, os pacientes serão monitorados:
— Vamos ligar para todas as pessoas que participarem do estudo, tanto os que receberam a transfusão de plasma, quanto os que estão no grupo controle e não receberam o plasma. Essa ligação será no 10º dia depois do recrutamento e no 28º. O objetivo é avaliar dias livres de oxigênio, se a pessoa precisou usar oxigênio ou não, hospitalização e mortalidade — destaca ela.
O estudo conta ainda com um grupo de pesquisadores de renomadas Instituições de Ensino, Pesquisa e de Serviços de Saúde Pública, como o Prof. Dr. Fábio Klamt (UFRGS), Prof. Dr. Marcus Herbert Jones (PUCRS), Prof. Dr. Fernando Spilki (FEEVALE), Dr. Gabriel Amorim (UCS) e Dr. Luiz Amorim Filho (HemoRio).
Quem pode participar
Inicialmente, fazem parte do estudo pacientes maiores de 18 anos que tenham diagnóstico positivo em estágio inicial (até 3 dias de sintomas) não vacinados ou com esquema vacinal incompleto ou pacientes infectados recentemente (até 3 dias de sintomas) de 80 anos ou mais sem comorbidades (doenças pré-existentes) que fizeram duas doses de Coronavac há mais de seis meses. Contudo, foi feita uma emenda para que todas as pessoas, até mesmo, quem tenha mais doses da vacina possam participar da pesquisa.