Equipes do Hospital Virvi Ramos em Caxias do Sul coordenam um estudo inédito no Brasil: o uso de plasma de vacinados contra covid-19 no tratamento do coronavírus. Pioneiro na utilização do plasma convalescente para tratar a doença, a instituição agora promove uma nova pesquisa. O estudo começou na última segunda-feira (17) e está selecionando pacientes para receber o tratamento.
O projeto avalia a eficácia do plasma de doadores imunizados, com esquema vacinal completo, quando administrado precocemente para impedir a evolução dos casos leves para casos mais graves. A ideia é reduzir casos que demandem atendimento médico em unidades de terapia intensiva (UTI):
— O estudo é baseado em uma pesquisa realizada em 2021 na Argentina que mostrou que a transfusão de plasma convalescente com antecedência ao início dos sintomas e com uma quantidade de anticorpos elevada conseguiu evitar hospitalização e óbito. Chegou a 80% de redução no número desses casos — explica a Dra. Andrea Dal Bó, infectologista e Coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Virvi Ramos, que está à frente do estudo.
A ideia agora é utilizar o plasma de quem foi vacinado, ao invés de plasma de convalescentes, ou seja, de pessoas que tiveram covid-19.
— Essas pessoas (vacinadas) têm uma quantidade maior de anticorpos. É o chamado plasma hiperimune. Esse estudo envolverá voluntários com diagnóstico confirmado de covid-19 que buscarem atendimento na UBS do bairro Esplanada, que é uma das maiores e mais realiza teste em Caxias do Sul ou no Pronto Atendimento covid-19 do Hospital Virvi Ramos — destaca.
A médica ressalta que as primeiras bolsas já estão disponíveis na cidade e a qualquer momento poderão ser realizadas as primeiras transfusões. Ela explica ainda que a transfusão precoce de plasma hiperimune em pacientes que apresentam sintomas leves de covid pode representar uma possibilidade segura para a recuperação de pacientes em risco de evolução para síndrome respiratória aguda grave.
— Essa quantidade de anticorpos de que fez a vacina é o diferencial, porque é maior do que nas pessoas que só tiveram covid-19. Isso se assemelha muito ao anticorpo monoclonal, que simula a capacidade do sistema imunológico de combater o novo coronavírus, e foi o remédio que o ex-presidente Donald Trump recebeu, e que custa até R$ 30 mil a dose. O plasma tem um custo muito inferior e seria uma medicação de fácil acesso e disponível à população.
As transfusões serão realizadas apenas no Hospital Virvi Ramos. O Hemocentro do Rio de Janeiro (HemoRio) é o responsável pelo recrutamento dos doadores de plasma de vacinados, pelas coletas e testes de segurança, que quantificam os níveis de anticorpos neutralizantes e pelo envio das bolsas de plasma para serem transfundidas.
— É um estudo, não é um tratamento, e temos que esperar o resultado da pesquisa. Tem que incluir 380 pessoas, mas traz esperança — finaliza ela.
Quem pode participar
Inicialmente, farão parte do estudo pacientes maiores de 18 anos que tenham diagnóstico positivo em estágio inicial (até 3 dias de sintomas) não vacinados ou com esquema vacinal incompleto ou pacientes infectados recentemente (até 3 dias de sintomas) de 80 anos ou mais sem comorbidades (doenças pré-existentes) que fizeram duas doses de Coronavac há mais de seis meses.
Demais pesquisadores
O estudo conta um grupo de pesquisadores de renomadas Instituições de Ensino, Pesquisa e de Serviços de Saúde Pública, como o Prof. Dr. Fábio Klamt (UFRGS), Prof. Dr. Marcus Herbert Jones (PUCRS), Prof. Dr. Fernando Spilki (FEEVALE), Dr. Gabriel Amorim (UCS) e Dr. Luiz Amorim Filho (HemoRio).
O projeto tem autorização do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e da Secretaria Municipal de Saúde de Caxias do Sul e conta com destinação de verba por parte do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para o recrutamento dos voluntários.