Para atrair mais turistas e também conter o cancelamento de ingressos, a organização do Natal Luz de Gramado busca reverter a exigência do passaporte vacinal como única alternativa para liberar o acesso dos visitantes aos espetáculos. Durante encontro na quinta-feira (4) com o vice-governador, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB), o prefeito Nestor Tissot (PP) e a presidente da Gramadotur, autarquia que organiza o Natal Luz, Rosa Helena Volk, sugeriram que a atração seja autorizada a permitir a entrada de turistas que apresentarem teste RT-PCR negativo contra a covid-19 feito com 72 horas de antecedência.
Além do encontro formal, a reivindicação foi formalizada por meio de ofício encaminhado ao governo do Estado. No mês passado, a organização do Natal Luz chegou a enviar um comunicado afirmando que permitiria o acesso dos visitantes ao evento mediante apresentação do passaporte vacinal ou do teste negativo para o vírus, mas voltou atrás porque o decreto estadual não permite essa possibilidade.
A necessidade de os turistas comprovarem a vacinação contra o coronavírus, segundo os organizadores, é o principal motivo da desistência de pedidos de compra de ingressos para o Natal Luz. Segundo Rosa Helena, até este sábado (6), cerca de 6,1 mil bilhetes adquiridos de forma antecipada haviam sido cancelados — um número considerado atípico em relação às edições anteriores.
— Não somos contrários ao passaporte vacinal, mas pedimos que também se abra a possibilidade de o visitante apresentar o teste RT-PCR. A preferência é que o turista apresente a carteira de vacinação e, na ausência, comprove que pode frequentar o espaço a partir do teste. Uma coisa ou outra — resume Rosa Helena, que também é secretária municipal de Turismo de Gramado.
Segundo ela, além da discussão ideológica das vacinas, há o entendimento dos organizadores de que a medida é extrema e deveria permitir um segundo caminho:
— Percebemos pelos comentários nas nossas redes sociais, e pelo que chega por meio de outros canais de atendimento, que, por ser uma imposição, a pessoa não quer mais vir, mesmo que esteja vacinada.
A medida, segundo a presidente, encontra respaldo da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), que emitiu um parecer técnico anexado ao ofício dizendo que concorda com a busca de alternativas para flexibilizar o acesso do público aos eventos. A entidade, que representa 36 municípios da Serra, incluindo Gramado e Caxias do Sul, é crítica ao passaporte vacinal.
Em outubro, a Amesne solicitou ao governo do Estado que a comprovação da vacinação fosse exigida conforme o limite de público em cada atividade, mas a proposta não foi autorizada.
Mais público
Além do passaporte vacinal, o Natal Luz pede que as atrações de entretenimento ampliem de 30% para 50% a capacidade de público. A autorização iria ao encontro do que ocorreu com atividades esportivas, em ginásios e estádios de futebol no Rio Grande do Sul, que foram flexibilizadas na quarta-feira (3) e podem receber o público com metade da capacidade original.
O Lago Joaquina Rita Bier, que sedia dois espetáculos do Natal Luz, foi estruturado com seis mil lugares e, atualmente, duas mil pessoas podem assistir aos espetáculos. Na Expogramado, outro local com atrações, a capacidade foi limitada para até 1,6 mil espectadores — o espaço poderia comportar até 4,6 mil na parte externa.
— Uma vez que houve essa flexibilização (para atividades esportivas), quem sabe também não possa ser estendida — afirma Rosa Helena.
Demandas serão analisadas, segundo secretário
Ao Pioneiro, o secretário estadual do Turismo, Ronaldo Santini, afirmou que as sugestões de Gramado serão levadas para o GT Protocolos e tratadas em reunião do Gabinete de Crise na semana que vem. Ele também participou da reunião entre o vice-governador e as lideranças de Gramado.
Cauteloso, ele disse que entende como legítimas as demandas dos organizadores do Natal Luz, mas que somente uma análise técnica poderá garantir ou não a flexibilização nos protocolos sanitários para esse tipo de atividade.
— Não gosto de dar falsas esperanças, priorizamos o diálogo, mas tudo que envolve flexibilizações é acompanhado com muita atenção pelo governo. Não é autorizar por autorizar. Ao mesmo tempo em que estamos felizes pela retomada dos eventos presenciais, porque o arrefecimento da pandemia nos permitiu autorizar, não podemos relaxar e voltar a ter crescimento de casos e mortes — explica.
Sobre a capacidade de público, Santini disse que não é possível comparar atividades esportivas com atrações de entretenimento por se tratarem de ações com protocolos e dinâmicas de circulação de pessoas diferentes.
Teste pode dar mais proteção
Segundo a médica infectologista Andréa Dal Bó, a apresentação de um teste RT-PCR pode representar uma segurança a mais para os visitantes, principalmente para quem está com a imunização parcial ou completa.
Entretanto, ela reforça que uma medida não pode substituir a outra: a vacinação contra a covid-19 segue como prioridade nacional, apesar de o teste também configurar como medida de proteção.
Ainda de acordo com a infectologista, o RT-PCR tem uma sensibilidade maior para pessoas assintomáticas, aumentando a chance de dar positivo se o paciente estiver com a covid-19 em comparação com o teste de antígeno. Além disso, o prazo de 72 horas de antecedência precisa ser seguido, já que esse é o período de incubação do vírus no organismo humano.
— A vacina segue como a principal maneira de prevenir (a covid-19). Quanto mais pessoas fizerem isso, melhor. Entendo o teste como algo a mais, que pode dar mais proteção para as pessoas, mas que sozinho não é tão eficaz — destaca.