Visitantes da Floresta Nacional (Flona) de Canela precisarão pagar ingresso para desfrutar da área verde a partir de maio de 2022. A data é o prazo máximo determinado para o início da cobrança por parte da concessionária Parque Sul Canela Concessionária de Parques Ltda, que administrará o espaço pelos próximos 30 anos. O contrato de concessão foi assinado na última quarta-feira (24) e o início da cobrança pode ser antecipado.
A Parque Sul Canela é um consórcio formado pela empresa STE - Serviços Técnicos de Engenharia, de Porto Alegre, e Urbanes Empreendimentos, com sede em Santa Maria. Essa última já possui experiência na administração de áreas de lazer, entre eles o Parque Aldeia do Imigrante, em Nova Petrópolis.
A assinatura do contrato não significa uma mudança imediata na gestão da floresta, mas marca o início do processo de transição, que deve ser concluído entre quatro e seis meses. Nesse período, os novos administradores definirão quais serão os primeiros investimentos, como será a prestação de serviço e qual será o valor dos ingressos, entre outros pontos. Com relação ao último item, a minuta do contrato, apresentada durante o processo de concessão, determinava um valor máximo de R$ 50, que será corrigido pelo Índice Geral de Preços aos Consumidor Amplo (IPCA), o índice oficial de inflação, no momento de início da cobrança.
— É um período de diagnóstico. A empresa precisa conhecer a área. Antes ainda da assinatura do contrato eles já vinham buscando informações. Esse é o processo agora, reuniões, reuniões, reuniões — explica o atual chefe da Flona, Reinaldo Ferreira de Araújo.
A estimativa é de que ao longo dos 30 anos de concessão, o consórcio invista R$ 93 milhões em melhorias de infraestrutura e apoio à visitação. Desse total, R$ 9 milhões devem ser aplicados nos dois primeiros anos de contrato. Entre as ações previstas para o período estão a construção de cabanas, hostels, restaurantes, lanchonetes, sinalização de trilhas e infraestrutura de acessibilidade.
— De imediato queremos dar acessibilidade, hospedarias e apoio à alimentação. Tem que ter banheiros adequados também, porque nem isso temos. As expectativas são boas e estamos motivados. Entendo que as concessões deram certo no Brasil e os parques vão poder oferecer algo que não tinham — aponta Araújo.
A Flona de Canela tem uma área de 557 hectares, mas apenas 17% do total, o correspondente à área de visitação pública, foram concedidos. A gestão privada irá se limitar aos serviços de atendimento e infraestrutura aos visitantes. O manejo da floresta seguirá a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O contrato exige, no entanto, que mesmo as trilhas que extrapolam a área de uso público devem receber manutenção por parte da concessionária.
Somente em outubro, a Flona recebeu 1,4 mil visitantes, a maioria de fora do Estado e até da China, Japão e países da Europa. Os moradores da Serra não costumam enxergar o espaço como um destino de lazer, comportamento que a concessão também se propõe a mudar.
— O pessoal de Canela tinha isso como a floresta do Ibama, que ninguém entra. Quem vem de fora não consegue entender como o canelense não usa isso. E não são pessoas ricas. Outro dia recebi um casal do Uruguai em que o homem é cobrador de ônibus e mulher professora de inglês. Eles viram a floresta no mapa e resolveram vir de moto — conta Araújo.
Indígenas terão que sair
Juntamente com o início da concessão da Flona de Canela, um impasse envolvendo um grupo de índios caingangue instalado no território se encaminha para o fim. São entre 10 e 12 indígenas que ocuparam a área pela primeira vez em 2018 e retornaram ao local em fevereiro de 2020. Ações na Justiça já determinaram a saída da tribo da área federal e também exigiram que a Fundação Nacional do Índio (Funai), busque um local adequado para o grupo.
Segundo Reinaldo Araújo, a ação que exigia a saída dos indígenas da área já transitou em julgado, ou seja, não cabe mais recurso. A Justiça entendeu que os caingangue devem mesmo desocupar a floresta. Contudo, o grupo segue na área porque o judiciário entendeu que não poderiam ocorrer transferências durante a pandemia. Uma segunda ação, na qual a Funai é ré, questiona se a fundação deixou de realizar estudos para encontrar um local adequado para a tribo.
— Quando morreu o cacique, o filho do chefe desse grupo assumiu e resolveram vir para cá, mas a maioria do pessoal não quis vir porque é muito distante — explica Araújo.