Os municípios de Farroupilha, Garibaldi e Carlos Barbosa apresentaram ao governo do Estado o projeto da criação de uma ciclovia que ligaria as atrações turísticas das cidades. A extensão seria de cerca de 15 km, o que resultaria em um investimento estimado de R$ 7 milhões. No último dia 21, autoridades municipais e representantes da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), CICs Serra e de empresas da região, expuseram o esboço do projeto ao secretário de Turismo do Rio Grande do Sul, Ronaldo Santini.
A ideia surgiu a partir do empresário Rafael Haupt Canziani, da cervejaria Blauth Bier, de Farroupilha, localizada na VRS-813,onde a maior parte da ciclovia seria construída. Ao ser convidado para participar de um roteiro de cervejas e queijos que Carlos Barbosa e região realizaram, ele pensou em uma forma de os municípios trabalharem juntos, já que há anos seu objetivo é formar uma rota cervejeira em Farroupilha. Para que a ideia tivesse maior alcance, ele contou com o apoio do vereador Felipe Maioli.
— Queria romper essas fronteiras, sempre fui um defensor de trabalhar como microrregião. E até mesmo por eu estar no Desvio Blauth, os turistas não sabem definir em qual município estão. Falam Bento, Garibaldi, Farroupilha, Carlos Barbosa... Eu estava pensando em como fazer isso e me lembrei que temos um trecho de ciclovia. Faltaria 6,5 km em direção a Farroupilha e 4 km em direção a Carlos Barbosa, totalizando, 10,5 km para ligar as ciclovias existentes nos municípios. Além disso, faltaria mais um trecho de 4 km para chegar em Garibaldi. Pensei que dessa forma poderia ser feito um projeto maior, pós-pandemia, tratando de saúde, lazer, turismo, negócios e que quebrasse fronteiras. Para isso, foi reunida uma turma que acredita no potencial desse roteiro — explica Canziani.
Segundo o diretor da CICs Serra, Daniel Bampi, a rota onde passa a ferrovia, na localidade do Desvio Blauth, tem se desenvolvido turisticamente, algo importante para os municípios de Garibaldi, Farroupilha e Carlos Barbosa. Ao ser apresentado o esboço da ideia da ciclovia, foi pedido o apoio do governo do Estado para o desenvolvimento desta rota turística.
— A ideia é que os turistas que visitam os destinos de Bento Gonçalves, que já são bem consolidados, visitem esta rota também, cuja ideia é um projeto ligado à saúde e ao esporte. Foi chamado o governo do Estado para que inicie o estudo para o desenvolvimento desta ciclovia. Num primeiro momento, se não for possível a construção dos 15 km, que se inicie com 4 km, por exemplo, e posteriormente seja feito o restante — destaca Bampi.
O secretário de Turismo do RS recebeu bem a ideia. De acordo com ele, foi possível conhecer o projeto e visualizar o impacto no ponto de vista de atrativo turístico. Conforme Santini, a ciclovia parece, em princípio, ter muita viabilidade.
— Está amplamente conectado com tudo aquilo que temos procurado fomentar no Estado, que são os produtos mais alternativos de mobilidade. Trazer essa pegada que o cicloturismo tem agora, mundialmente e também muito forte aqui no RS, e fazer com que isso possa ser uma nova oportunidade, um novo produto para a Serra gaúcha como um todo — afirma o secretário estadual.
Os municípios vão trabalhar na elaboração de um projeto mais técnico. A proposta será entregue ao Estado, que fará uma análise, a fim de verificar de que forma poderá participar, se não com todo o valor, com pelo menos uma parte.
Próximos passos
A etapa seguinte é analisar custos, fazer a elaboração do projeto executivo e verificar a questão das licenças ambientais. Bampi, por sua vez, destaca que será desenvolvido um estudo a fim de definir de qual lado seria a ciclovia. Conforme ele, ela poderia costear os antigos trilhos do trem, seria feito o asfaltamento, ampliando um pouco o local onde vai passar a ciclovia, que acompanhará a estrada.
Quanto às intervenções, o secretário explica que existem duas possibilidades. A primeira é a construção por meio de participação por emenda parlamentar. Nesse caso há o processo de trâmite de aprovação de legislação e de execução do projeto. A segunda opção é participar de algum edital estadual como, por exemplo, o Avançar Turismo, que é uma das propostas do governador Eduardo Leite que deverá ser lançada nos próximos dias, a exemplo do que foi feito com educação, saúde e segurança. Caso entrem essas obras de infraestrutura turística, o projeto da ciclovia tem condições de participar do edital para ver se atinge a pontuação designada para receber o recurso direto.
— De qualquer forma, o projeto precisa respeitar o trâmite de algumas áreas, de algumas ações, com licenças ambientais, estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental. Dando o "start", começamos a caminhada para a realização — complementa.
O diretor da CICs Serra, afirma que o maior interesse é no investimento do Estado, mas poderia haver um aporte dos municípios e de empresas através de uma lei de incentivo ao esporte, por exemplo.
O foco, agora, é buscar a forma de execução do projeto. Santini reforça que a ideia da ciclovia regional se encaixa no que o Estado tem proposto, que é aproveitar o viés do turismo de contemplação, conexão com a natureza, com a saúde e com o esporte. Segundo o secretário, isso coloca o projeto numa posição de vantagem com relação a outros produtos que possam surgir.
Por fim, o secretário de Turismo do RS elogia o espírito de coletividade das prefeituras e associações empresariais. Segundo ele, isso demonstra que o projeto tem uma aceitação coletiva, o que é muito importante nesse momento em que o turismo se posiciona como um processo de crescimento regional e não local.
Vereadores de Caxias do Sul propõem criação de roteiros de cicloturismo
O município vizinho, Caxias do Sul, também recebeu propostas voltadas ao cicloturismo. Os vereadores Tatiane Frizzo (PSDB) e Felipe Gremelmaier (MDB), protocolaram uma indicação no último dia 14, sugerindo a criação de roteiros de cicloturismo, em consonância com o Plano Municipal do Turismo.
Conforme a justificativa, o cicloturismo possibilita a criação de outra matriz econômica para o município. Segundo os vereadores, além de possibilitar o fomento econômico, a atividade pode atuar também a favor do desenvolvimento esportivo e de lazer, com incrementos educacionais e culturais. Conforme a proposta, a criação de caminhos, rotas, roteiros e circuitos voltados ao cicloturismo são fundamentais para o desenvolvimento da cidade.
Ainda de acordo com a sugestão, os vereadores pontuaram que a análise de criação dos roteiros deve levar em consideração que as rotas contem com passagens por pontos de interesse cultural e ambiental, urbanos e rurais, que seja realizado um mapeamento técnico, perfil altimétrico dos lugares, distâncias, classificação dos percursos e desenvolvimento de sinalização, e que os percursos possam ser adaptados para a atividade de caminhada.
Conforme Tatiane, a proposta foi entregue à secretária de Governo, Grégora Fortuna dos Passos, que relatou o interesse do prefeito Adiló Didomenico em implantar o projeto de roteiros de cicloturismo.
— Eu tenho absoluta convicção que a gente pode estimular o cicloturismo em Caxias do Sul. É uma medida de fomento, de geração de emprego, de movimentação da economia, e que vai fazer com que valorize ainda mais as belas paisagens que a nossa cidade tem, que muitas vezes a gente acaba não conhecendo — destacou a vereadora.
Ainda durante a explicação da proposta, no último dia 20, a vereadora ressaltou o crescimento da utilização da bicicleta no período da pandemia. Conforme dados da associação nacional do setor, o primeiro semestre de 2021 apontou que o segmento continua em alta: o país registrou média de 34,17% de aumento nas vendas das bikes, em comparação ao mesmo período do ano passado.
Outro fator que ajuda a explicar o mercado em alta é a procura por modelos de maior valor agregado, qualidade e também por uma maior diversidade de modelos ofertada, como as bicicletas elétricas. As bicicletas mountain bike ainda lideram as vendas, com uma fatia de 60% do total comercializado.
Para ilustrar a qualidade da Serra gaúcha em relação ao turismo, em comparação a outros locais com as mesmas características geográficas, a parlamentar também mostrou um vídeo da oferta turística do Circuito do Vale Europeu, de Santa Catarina. De acordo com um estudo da Aliança Bike, as rotas catarinenses abrangem nove municípios e possuem 8 mil visitantes por ano. O circuito possui 43 hotéis, 10 restaurantes e sete operadoras, em mais de 287 quilômetros de roteiros.