Os mais de 41 mil estudantes matriculados na rede municipal de Caxias do Sul deverão ser contemplados com um kit de uniformes escolares a partir de outubro, quando faltarem cerca de dois meses para o encerramento do ano letivo. Apresentado em julho pela prefeitura, o projeto para aquisição do vestuário deve ser enviado até o final desta semana para a Câmara de Vereadores, que precisa autorizar a destinação de recursos para viabilizar o investimento. No total, a compra está orçada em pouco mais de R$ 9 milhões e será custeada com recursos que Caxias recebeu no mês passado do passivo tributário de ICMS da Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE-D).
De acordo com a prefeitura, o projeto foi encaminhado nesta segunda-feira (23) pela SSecretaria Municipal da Educação (Smed) para a Secretaria de Governo, responsável pela articulação entre o Executivo e o Legislativo, que fará uma análise do conteúdo do documento com outras áreas da administração. A expectativa é que o projeto seja protocolado com pedido de regime de urgência para votação, que determina a apreciação em plenário pelos vereadores em até 30 dias após o envio, tornando o trâmite mais célere.
A partir do aval dos parlamentares, a contratação da empresa fornecedora também deverá ser rápida, segundo a titular da Smed, Sandra Negrini, uma vez que já existe uma ata de registro de preços para a compra do novo uniforme que será adotado nas escolas. O plano da Smed é que o processo de compra seja concluído na segunda quinzena de setembro e, assim, as primeiras peças sejam entregues nas escolas a partir de outubro.
O kit é composto por duas camisetas, uma bermuda, uma calça, uma jaqueta forrada, um par de meias e também um par de tênis. Inicialmente, o projeto previa a entrega de dois itens de cada vestimenta, mas que foi inviabilizado devido ao alto custo. As peças serão na cor azul-marinho e as camisetas em cinza, que é um modelo de cores adotado por diversas instituições da rede municipal. Os uniformes também serão identificados com o brasão do município. Após a entrega, as escolas serão orientadas a exigir dos estudantes e dos responsáveis a utilização diária do uniforme durante a frequência em sala de aula.
Ainda conforme a secretaria, a situação econômica das famílias, bastante prejudicada pela pandemia, contribuiu para que o município voltasse a considerar a compra e a distribuição dos uniformes escolares. Tramitando há mais de 10 anos e com ampla discussão em 2019, o projeto chegou a ser descartado pela administração, mas retomado diante do atual cenário observado nas escolas.
— Percebemos que muitas crianças não foram para a escola nesse inverno em razão do frio. Essa dificuldade não pode ser um fator de afastamento dos estudantes com a sala de aula. Muitas famílias perderam o emprego e isso reflete na falta de condições para a aquisição de agasalhos para suportar as baixas temperaturas. Esperamos que esse problema seja superado com a distribuição dos uniformes, que garantirá melhores condições aos estudantes.
Outro reflexo da pandemia, segundo Sandra, é que, desde o início de 2021, 30% das novas matrículas absorvidas pela rede são de alunos que frequentavam até o ano passado a rede privada em Caxias do Sul.
Escolas comemoram kit e aguardam orientações
A necessidade de manter janelas sempre abertas nas salas de aula como medida para evitar a disseminação da covid-19 no retorno do ensino presencial levou um novo desafio às escolas. Para evitar que os estudantes deixassem de comparecer às aulas por falta agasalhos durante o inverno, iniciativas da comunidade em bairros de Caxias do Sul foram fundamentais para amenizar o frio em crianças e jovens.
Na Escola Municipal Guerino Zugno, no bairro Planalto, a direção pediu ajuda da comunidade nas redes sociais para que roupas não utilizadaas fossem doadas. De acordo com a diretora Simone Rutkowski, o apelo na internet permitiu que até mesmo uniformes armazenados em uma escola pública de Porto Alegre fossem recebidos pela instituição e distribuídos para as famílias interessadas.
— Nos primeiros dias de frio, muitos estudantes vinham com pouquíssimas roupas. Nossa escola é gelada, úmida, então a gente sofre bastante no inverno. O que tínhamos aqui, de doações da comunidade do bairro, foi distribuído, mas nunca era suficiente. Por isso postamos no Facebook e conseguimos muita coisa, de diferentes lugares. Deu para melhorar um pouco a situação.
Situação semelhante foi observada na Escola Municipal Basílio Tcacenco, no bairro Montes Claros. Blusões, jaquetas e calçados também foram recebidos como doação aos estudantes mais carentes para que eles pudessem frequentar as aulas presenciais. Segundo a vice-diretora Anelise Cecília Casara Rigotto, poucos têm acesso ao uniforme adotado atualmente pela instituição.
— O uniforme é vendido no bairro, mas muitas famílias não têm condições financeiras de comprar e isso faz com que ele seja raro entre os alunos.
Para a diretora Simone, é fundamental que as escolas recebam os uniformes de acordo com o perfil de cada estudante.
— A iniciativa é bem-vinda, mas ainda não fomos orientados sobre a logística de entrega. Precisamos que os uniformes sejam entregues de acordo com o tamanho dos estudantes para que seja algo que eles realmente possam usar de verdade no dia a dia.
Segundo a secretária, o cronograma para envio dos kits às escolas será definido posteriormente com a empresa que fará a confecção do material. O planejamento é que as escolas sejam consultadas previamente e façam um levantamento para identificar o tamanho ideal dos uniformes antes de serem entregues para cada família.
— Não será somente uniformes P, M e G. Temos um universo muito grande de pessoas e as medidas serão adequadas para cada perfil – garante.
Internet também será disponibilizada gratuitamente
Além dos uniformes escolares, a prefeitura também está contratando um plano de internet móvel para os estudantes da rede municipal. O objetivo é que as atividades pedagógicas sejam mantidas a distância, em horários diferentes ao ensino regular, e que novas ferramentas tecnológicas possam ser adotadas no ensino público de Caxias do Sul. Os professores também serão contemplados com esse projeto - totalizando cerca de 60 mil usuários.
Depois de ser suspenso temporariamente após questionamentos, o processo licitatório foi encerrado, segundo a secretária da Educação, Sandra Negrini. A empresa vencedora é a operadora Oi e o custo será de R$ 19 mil ao ano, sendo que o município pagará apenas pela quantidade utilizada.
Ainda segundo a secretária, como o acesso à internet será disponibilizado por meio de uma senha, onde plataformas educacionais como o Google Classroom estarão disponíveis de forma ilimitada, é necessário que a empresa Google autorize o procedimento. O aval da gigante de tecnologia deve ser recebido nesta semana, segundo ela, o que permitirá avançar na iniciativa. O projeto prevê que a navegação em redes sociais e páginas não relacionadas ao ensino serão bloqueadas. O objetivo é que a ferramenta também seja disponibilizada neste ano.
Os trâmites para a contratação do acesso à internet ocorrem justamente quando se discute o aumento do retorno presencial das aulas. Sandra afirma, no entanto, que o serviço será disponibilizado da mesma maneira, como forma de ampliar as formas de ensino.
Nesta semana, a Smed iniciou uma série de reuniões para orientar as escolas sobre a redução do distanciamento entre as classes. A medida, autorizada pelo governo do Estado, permitirá mais estudantes dentro das salas de aulas e poderá encerrar o ensino escalonado na rede municipal que prevê encontros presenciais de forma quinzenal.
— A gente faz um apelo para que os pais permitam que os seus filhos estejam presentes na escola. A interação dos estudantes com os professores qualifica o ensino - afirma a secretária.