Enquanto cidades da região já adotaram ou preveem para semana que vem a redução do distanciamento nas salas de aula, Caxias do Sul aguarda a publicação de uma portaria do Estado para aderir à mudança nas redes municipal e estadual. A maior ocupação das salas de aula vem sendo discutida desde o dia 9, quando o governo estadual publicou um decreto autorizando a diminuição de distância nos ambientes escolares fechados: antes, os estudantes deveriam ficar a 1,5 metro de distância. Agora, está permitido que fiquem mais próximos, respeitando o espaçamento de um metro. Com a flexibilização, mais alunos poderão ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, colocando fim ao sistema de rodízio em algumas instituições.
Conforme a publicação, outras medidas em combate ao coronavírus continuam sendo obrigatórias nas escolas como o uso de máscaras e a ventilação cruzada nas salas de aula. O modelo híbrido também se mantém, se for necessário. Além disso, pais e responsáveis podem decidir sobre a adesão ou não ao ensino presencial, mantendo os filhos no sistema de educação remota.
Mesmo diante do novo decreto, a Secretaria Municipal da Educação (Smed) e a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE) aguardam que o Estado publique uma portaria, dando mais detalhes sobre os planos de contingência que devem ser adotados pelas instituições. A manifestação era aguardada para ocorrer ao longo desta semana, mas não foi emitida até esta quinta-feira.
_ Essa portaria é organizada pela Secretaria da Saúde junto com a Secretaria da Educação (ambas estaduais), que são os dois órgãos principais do COE (Centro de Operações de Emergências da Saúde) estadual. A partir disso, teremos orientações para todas as redes nas adequações dos planos de contingência. A gente não pode simplesmente mudar _ diz a titular da Smed, Sandra Negrini, ressaltando que as novas determinações precisam estar mais claras.
O mesmo posicionamento é adotado pela 4ª CRE. As escolas estaduais da região, incluindo as de Caxias, só receberão mais estudantes a partir da emissão desta portaria:
_ Alguns municípios acataram um acordo que a Amesne fez e optaram por reduzir de imediato. Nós, da rede estadual, nos submetemos às questões burocráticas que envolvem saúde e educação. Então, veio esse novo decreto. Mas, para que a gente possa mudar nossos planos de contingência e reduzir a metragem, temos que aguardar essa portaria conjunta. A gente precisa desta publicação _ diz a titular da 4ª CRE, Viviani Devalle, explicando que a partir da emissão do documento, é necessário de dois a três dias para que as escolas se organizem.
Outra cidade da Serra que aguarda as definições estaduais é Gramado. Segundo a prefeitura, será mantida a alternância dos alunos em sala de aula, com ensino híbrido até que "a Coordenadoria Regional da Educação e a Coordenadoria Regional da Saúde manifestem suas posições sobre o retorno de 100% dos alunos de maneira presencial".
_ As atuais normativas do Estado ainda não são claras sobre o retorno às aulas presenciais na sua integralidade _ disse, em nota, a secretária de Educação de Gramado, Simone Tomazelli Andreis.
Escolas particulares já adotam redução de distanciamento
Enquanto a mudança nas redes estadual e municipal de Caxias segue indefinida, escolas do ensino privado já atendem no novo formato. No Colégio Murialdo, por exemplo, a redução do distanciamento começou na segunda-feira. O vice-diretor e professor de Ensino Religioso, Edmundo Marcon, explica que a maior adesão à presencialidade tem sido dos alunos da tarde, até quinto ano do Ensino Fundamental. Ainda conforme o representante da instituição, todas as salas do colégio foram reestruturadas, sem necessidade de rodízio entre os estudantes.
— Tem turmas que têm adesão maior e outras menor, e tem situações muito particulares de cada família também, que acabam não optando pela aula presencial e ficam com a aula remota. E, em termos gerais, até o quinto ano, temos uma adesão maior, praticamente acima de 90%. Já do sexto ano ao Ensino Médio, temos uma adesão um pouco menor — explica o vice-diretor.
Em entrevista ao repórter Gabriel Jacobsen, de GZH, na semana passada, o presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe), Bruno Eizerik, disse que o novo modelo de distanciamento nas salas de aula deve acabar com o sistema de rodízio na rede privada.
— Agora, com um metro entre os alunos, os mesmos alunos que estão em rodízio poderão ir todos os dias. Os demais protocolos se mantêm. E professores e funcionários já estão tomando a segunda dose. Estamos supertranquilos — afirmou Eizerik.
Demais protocolos devem ser mais rígidos, opina médica
Para a médica e doutora em Ciências da Saúde, Lucia Campos Pellanda, o aumento da quantidade de alunos em sala de aula é uma decisão complexa, uma vez que envolve não só questões de saúde, como também a necessidade do convívio escolar.
— Por outro lado, a gente sabe que é fundamental a prevenção respiratória neste momento. O risco das pessoas não vacinadas, como o caso das crianças, é grande. A gente precisa ter muita atenção aos cuidados de prevenção, principalmente nesta faixa etária. Precisa ter no protocolo, de forma muito rigorosa, o distanciamento, a ventilação e o uso de máscara. Quando a gente não tem uma situação ideal com uma delas, as outras têm que estar melhores. Se o distanciamento ideal não é possível, que o ambiente seja muito mais ventilado — afirma a médica.
Ela comenta que uma das possibilidades, além de reforçar a ventilação, é a oferta de máscaras do tipo PFF2, que conferem maior proteção contra o coronavírus. Além disso, as instituições devem ficar ainda mais atentas a casos sintomáticos.
— O uso da PFF2 infantil aumentaria bastante a proteção das crianças, mas sei que, na prática, isso é bastante difícil. Outra medida essencial é o rastreamento de sintomas e comunicação muito intensiva para que, com qualquer sintoma gripal, o aluno fique em casa. Com o ingresso da Delta, a gente tem que ter bastante cuidado nas próximas semanas para ver o que vai acontecer — finaliza a especialista.
O QUE PENSAM OS PAIS
"Em casa, eu não consigo ensinar. A função de alfabetizar é da escola e não dos pais, porque eu e minha esposa temos outras profissões. O prejuízo está sendo enorme. O tempo que passou não volta mais. Outro ponto é que a diferença das crianças indo para escola e não indo é muito grande. A convivência que elas têm com o professor e os outros alunos é diferente da convivência com tios, dindas, babás, avós. A escola é muito necessária"
Evandro André Pazetti, pai das gêmeas Luiza e Marina, 6 anos, alunas do primeiro ano da Escola Municipal Luiz Covolan e que têm aulas no formato híbrido.
"Na minha opinião, essa volta às aulas gera um risco devido as crianças não estarem vacinadas ainda. Nossa estrutura escolar não vai garantir que os protocolos sejam cumpridos à risca pelos alunos. São muitos para poucos professores monitorarem. Eu, particularmente, não tenho intenção de enviar minha filha, até por ela ter comorbidades. Creio que uma volta segura seria quando todos já estivessem vacinados devidamente. Mesmo assim, seguindo algumas alterações para garantir que o vírus não volte a se espalhar dentro das escolas"
Aira Maria Ávila da Costa, mãe da estudante Ingria, do oitavo ano da Escola Estadual Aquilino Zatt.
"Eu acho que não deveriam ter mudado, deveria ter ficado com a distância de 1,5 metro, porque alguns são muito pequenos, como o meu, que só tem oito anos. Me preocupa bastante, porque não sabemos se eles estão se cuidando. Em casa a gente cuida, mas lá (na escola) não sabemos se eles realmente passam álcool gel, se usam a máscara certinho, se ficam longe um do outro".
Franciele Spadetto, mãe de João Victor Spadetto Mazzochi, 8 anos, estudante do terceiro ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Imigrante.
PANORAMA NA REGIÃO
Bento Gonçalves
:: A ampliação do número de estudantes nas salas de aula está ocorrendo de forma gradual nas escolas municipais, segundo a secretária de Educação, Adriane Zorzi. Algumas instituições, que têm mais espaço, começaram a reduzir o distanciamento entre os alunos na última terça-feira. Ela explica que há casos de remanejamento de salas, com o uso de auditórios, por exemplo, e divisão de turmas. Mesmo assim, o ensino hibrido deve continuar para algumas turmas.
Canela
:: Anunciou que a partir de segunda-feira, as escolas municipais de Ensino Fundamental, Educação Infantil e EJA retornam às aulas 100% presenciais, com o fim do modelo híbrido (uma semana em casa e uma semana na escola). No entanto, os pais ainda podem optar por deixar os filhos com aulas remotas. Segundo a prefeitura, todas as escolas do município tiveram os Planos de Contingência para prevenção, monitoramento e controle da covid-19, atualizados e aprovados pelo Comitê Covid e estão equipadas com álcool gel, máscaras e tapetes sanitizantes.
Flores da Cunha
:: Prevê o retorno presencial de todos os estudantes da rede municipal na próxima segunda-feira. O ensino híbrido será mantido com aulas síncronas pelas plataformas Google Meet e Google Classroom. Os responsáveis dos alunos que optarem pelo ensino remoto deverão assinar o Termo de Responsabilidade junto à escola. O horário de aula é das 7h30min às 11h40min e das 13h15min às 16h45min. A Secretaria de Educação, Cultura e Desporto pede aos pais e responsáveis que não enviem os alunos à escola se apresentarem sintomas gripais.
Farroupilha
:: Flexibilizou os protocolos, adotando a diminuição do distanciamento em sala de aula, desde a última segunda-feira. Segundo a prefeitura, quase 100% dos alunos de toda a rede municipal puderam voltar presencialmente às escolas. Além disso, a recomendação é que os pais que optarem por manter os filhos em casa, com aulas de forma remota, devem informar a decisão à direção de cada instituição.
Gramado
:: Mantém a alternância dos estudantes, sem diminuição do espaçamento nas salas de aula. A Secretaria Municipal de Educação informa que as aulas, que iniciaram no dia 5 de maio, em formato híbrido, permanecerão desta forma até que a Coordenadoria Regional da Educação e a Coordenadoria Regional da Saúde manifestem suas posições sobre o retorno de 100% dos alunos de maneira presencial.
Nova Petrópolis
:: As escolas da rede municipal retomam na segunda-feira o atendimento presencial para todos os alunos. Desde maio, as atividades nas instituições de ensino ocorrem em sistema de revezamento. Apenas uma turma de pré-escola do Espaço Amstad, em Linha Imperial, seguirá com atendimento em sistema de revezamento. A turma conta com 18 crianças e a metragem do espaço da sala de aula permite apenas 15. A prefeitura informa que, além da garantia de espaço para o distanciamento mínimo, as escolas manterão protocolos como o uso de máscara para alunos do Ensino Fundamental, tapetes sanitizantes, aplicação de álcool gel e controle de crianças com sintomas gripais. No transporte escolar serão levados apenas estudantes sentados.
São Marcos
:: As escolas municipais de Ensino Fundamental começarão a adotar o distanciamento de um metro a partir de segunda-feira. Já as de instituições de Educação Infantil, como não se trata de classes individuais e as turmas estão escalonadas, devem inserir a mudança a partir de setembro, segundo a prefeitura.