Entidades de classe da Serra que participarão dos debates do novo modelo de concessões defendem que o chamado valor de outorga das concessões seja destinado às estradas da região que não contarão com pedágios. A outorga será um dos critérios de seleção da concessionária de cada um dos três blocos de rodovias do Estado, mas não há determinação de quantia mínima ou máxima. O valor é um pagamento que a concessionária faz pelo direito de explorar a concessão.
A maior parte das rodovias está inserida no bloco 3. Dessa forma, a proposta é que o pagamento da concessionária que irá explorar esse bloco seja aplicado pelo Estado nas estradas que não receberão investimentos da empresa. Entre as entidades que defendem a proposta está o movimento Mobilização por Caxias (Mobi Caxias).
— Um pedido é para deixar o valor da outorga e parte do valor dos pedágios para duplicar a Rota do Sol até o aeroporto — defende.
Já o presidente da Câmara de Indústria Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Ivanir Gasparin, entende que o Estado poderia abrir mão da outorga.
— Poderia não ter e baixar o valor da tarifa — observa.
Tanto Mobi Caxias quanto CIC integram um grupo de trabalho que avaliará o modelo de concessões e encaminhará ao Estado sugestões de eventuais ajustes. O colegiado é formado pela Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga), Parlamento Regional, Associação das Entidades Representativas de Classe Empresarial da Serra Gaúcha (CICS Serra), Corede Serra, Bento+20 e Mobi Caxias. O grupo conheceu os detalhes do projeto no último dia 9 e deve entregar o parecer na próxima semana.
Confira abaixo as manifestações de representantes de entidades da região.
Pontos de vista
- Essas concessões que estão sendo feitas agora, com redução de valores de pedágio, é o futuro, não tem outra maneira. Do jeito que estão nossas estradas é muito complicado, a manutenção é caríssima. Na Serra, temos um problema sério de trafegabilidade de caminhões. Temos que triplicar Caxias-Farroupilha e duplica Caxias-Bento, Farroupilha-São Vendelino e Carlos Barbosa-São Vendelino — Octavino Pivoto, presidente do Sindicato das Empresas de Veículos de Carga de Caxias do Sul (Sivecarga)
- Se for um preço acessível não tem problema, porque não tem mais rodovias. Caminhão sofre muito. Buraco no asfalto é pior que estrada de chão. Onde tem concessão, que a rodovia é bem conservada, você paga com prazer. Mas depende o valor do pedágio, porque tem empresa que paga o pedágio, mas tira do valor do frete — Selézio Panisson, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Caxias do Sul
- A expectativa é que ao longo deste período de concessão, que será de 30 anos, pelo menos 182 quilômetros sejam duplicados. Nós efetivamente teremos uma região com uma malha rodoviária no padrão do que é o nível de desenvolvimento e de produção (da Serra) — Mônica Mattia, presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento Econômico da Serra (Corede Serra)
- Hoje, praticamente não tem volta. No Brasil inteiro está se adotando modelagens de concessão, mas defendo que se observe a distância entre as praças, o valor da tarifa e os investimentos, que precisam ser desde o início. Pela modelagem que está sendo proposta hoje, o grupo que vencer faz os investimentos necessários e depois nada mais justo do que recuperar o capital investido e ter lucro em cima disso — Adiló Didomenico, prefeito de Caxias do Sul
- Sem pedágio não tem como ter rodovias qualificadas. O que estamos debatendo é quais são as prioridades da região, se são corretas. Vamos discutir a outorga e que este dinheiro seja revertido na manutenção das rodovias da região. Está adequada a localização dos pedágios e a velocidade das obras. Achamos também que a concessionária não precisaria comprar guinchos e ambulância, ela poderia apenas contratar o serviço — Ruben Bisi, coordenador do Mobi Caxias
- Se não entrar nas concessões, não vamos ter rodovias. A única coisa que me preocupa é a outorga, que poderia não ter e baixar o valor da tarifa. Só isso achei desnecessário — Ivanir Gasparin, presidente da CIC
- O Simecs entende como positivo o anúncio dos planos do governo estadual para investimento em infraestrutura nas estradas da região e concessões rodoviárias. Nossa estrutura viária merece atenção e investimentos constantes, para garantir as melhores condições e permitir uma melhor competitividade logística da nossa indústria. O Simecs defende que as propostas de concessões rodoviárias devem ser debatidas de forma ampla com a comunidade regional, para garantir o melhor modelo, com valores de cobrança justos e investimentos na duplicação das nossas estradas — Paulo Spanholi, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs)
- Teríamos que ter, no mínimo, seis meses de discussão com a região. Estão enfiando goela abaixo da população. As estradas foram deixadas ao léu propositalmente para que dissessem "com pedágio é melhor" — David Vicenzo, presidente da Associação dos Usuários de Rodovias Concedidas (Assurcon)
- O pessoal não gosta muito de pagar pedágio. Os agricultores e a população em geral pensam que, com a arrecadação de impostos que se tem, as rodovias poderiam ser boas sem pagar pedágio. É mais um custo que terá e o custo já está alto. Então, causa uma certa apreensão. O Estado teria que nos passar o motivo para a colocação dos pedágios. Ficamos na retaguarda para comentar, porque não sabemos como vai ser — Bernardete Onsi, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul