
Dos nove projetos que representam o Brasil na Regeneron International Science and Engineering Feir (ISEF), uma das maiores feiras científicas do mundo, realizada nos Estados Unidos, um deles é da estudante do Instituto Federal de Bento Gonçalves, Lorenza Botton, de 19 anos. A feira é voltada apenas para estudantes pré-universitários e, em função da pandemia, está sendo realizada de forma online desde o dia 3.
A jovem é estudante do Curso Técnico em Viticultura e Enologia e apresentou o projeto Razão e paixões na moralidade em Hume. A pesquisa abrange a área da filosofia e começou a ser feita ainda em 2019 com a orientação do professor Franco Soares.
— Como os trabalhos nas exatas têm mais reconhecimento e prestígio social, a relevância deles é menos questionada. No meu caso, com um trabalho de filosofia, eu percebia a relevância e importância dele, porém não sabia se os outros também percebiam, mas as participações nas feiras me provaram que sim– acredita.
O trabalho de Lorenza trata sobre questões éticas, mais especificamente sobre as consequências de se conceber a motivação moral a partir de uma disputa entre os elementos racionais e emocionais da psicologia humana. Fundamentada na teoria do filósofo escocês David Hume (1711-1776), o projeto buscou compreender os processos psicológicos que levam as pessoas a agirem da forma que agem e, a partir disso, incentivar o desenvolvimento de um modelo ético baseado nesses processos, aprimorando as capacidades inter-relacionais e o desenvolvimento emocional, em especial de jovens em idade formativa.
— Por isso a importância de desenvolver uma teoria que prioriza as emoções humanas nas decisões morais e compreender os fenômenos psicológicos por trás dessas decisões é fundamental para melhor estabelecer estratégias de educação moral não com base em regras de conduta, mas embasadas no próprio comportamento humano e na individualidade de cada um, o que é fundamental para se promover um modelo educacional tal como o IFRS visa, que busca a formação crítica e autônoma de seus estudantes – destaca a pesquisadora.
Com esse mesmo trabalho, em dezembro do ano passado, Lorenza ganhou destaque na 35ª edição da Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec). Ela se classificou como segunda colocada na área Educação e Humanidades e recebeu os prêmios Jovem Cientista, da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, bem como o APM-Liberato CNPq.
Além de Lorenza, outros 1.835 jovens pesquisadores (de 65 países) apresentaram seus trabalhos na ISEF. O evento ocorre em duas etapas: na primeira, que se encerrou nesta quinta(6), foram realizadas as apresentações das pesquisas dos estudantes; na próxima fase, entre os dias 16 e 21 de maio, ocorre a realização de palestras, feiras, exposições e a divulgação dos projetos premiados.
— Eu senti bastante essa parte, porque se fosse um evento presencial, acredito que a experiência seria ainda mais impactante. Senti falta dessa chance de conhecer outros projetos, da troca com avaliadores e outros pesquisadores, mas, ainda assim, a experiência virtual já foi muito significativa e enriquecedora. Com certeza, valeu o esforço dos últimos anos — conta.
Além de Lorenza, a delegação brasileira no evento conta com a participação de outros 22 estudantes. Entre eles, outra gaúcha, a estudante Victórya Leal Altmayer Silva, do curso Técnico em Administração Integrado ao Médio do Campus Osório, também com projeto na área de humanas.
— Fico muito honrada em representar o Brasil e o IFRS na área de humanidades. A participação minha e da Victórya reitera a importância de se incentivar a pesquisa científica no Ensino Médio, não só nas Ciências Humanas, mas em todas as áreas do conhecimento.
Graças à pesquisa, nesse ano Lorenza também vai apresentar seu projeto na 73ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) entre os dias 18 e 24 de julho.