Fatores como as baixas temperaturas ou, até mesmo, influências externas, humanas ou meteorológicas, como a ressaca marítima que ocorreu no início de fevereiro, ameaçavam o desenvolvimento dos filhotes da tartaruga-de-couro — também conhecida como tartaruga-gigante — que escolheu a praia de Arroio do Sal para desova no dia 12 de janeiro. No entanto, foi o fato dos 85 ovos deixados por ela não terem sido fecundados que inviabilizou a tão esperada eclosão. Os ovos, assim como o cercamento que protegia o local, foram removidos após avaliação conclusiva que ocorreu na manhã desta quinta-feira (1º).
De acordo com o biólogo do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), Maurício Tavares, o monitoramento vinha sendo realizado desde o início da desova, com apoio das equipes de guarda-vidas até o mês de fevereiro e, posteriormente, por três biólogas da prefeitura de Arroio do Sal, que encaminhavam as informações para o Ceclimar, sediado em Imbé. Na quarta-feira (31), uma movimentação de areia foi percebida e, sob orientação de profissionais do Projeto Tamar, que tem experiência na área, foi realizada a escavação.
— A movimentação poderia indicar que os ovos estivessem começando a eclodir e a orientação era ir retirando a areia para auxiliar o processo. Porém, conforme fomos encontrando os ovos, percebemos que estavam quase todos murchos ou rompidos. Constatamos que não foram fecundados — afirmou o biólogo.
De acordo com Tavares, das 85 unidades encontradas, 15 apresentavam má formação e as outras 70 estavam comprometidas por estarem murchas ou quebradas. O mesmo ocorreu com três amostras que eram acompanhadas em laboratório desde a desova.
— Os ovos ficaram em um recipiente com areia e apresentaram o mesmo comportamento há cerca de duas semanas. Em relação aos que estavam no ninho, estávamos ainda aguardando porque a eclosão desta espécie costuma ocorrer dentro de aproximadamente 65 dias e havíamos estipulado esperar 90 dias para vermos o que faríamos caso nada acontecesse até lá. Acabamos tendo a resposta antes — observa Tavares.
A tartaruga-de-couro que desovou em Arroio do Sal também teve duas desovas registradas em Balneário Gaivota (SC), nos dias 24 de janeiro e 9 de fevereiro. Tavares afirma que os ninhos continuam sendo monitorados. A espécie, que costuma desovar em regiões mais quentes, como Espírito Santo, também deixou ninhos em São Paulo e no Paraná. Neste último Estado, Tavares relata que uma mesma tartaruga realizou cinco desovas. A primeira delas, que ocorreu em 31 de dezembro de 2020, também não teve desenvolvimento por conta dos ovos não estarem fecundados. A segunda desova do Paraná ocorreu no mesmo dia de Arroio do Sal, em um ninho que também segue sendo preservado.