Com os hospitais da Serra lotados, sem leitos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ao menos 27 pacientes perderam a vida enquanto aguardavam por uma vaga na UTI. As mortes foram registradas de janeiro a março de 2021, sendo que o maior número de óbitos aconteceu neste mês. Os casos mais recentes foram registrados em Flores da Cunha, São Marcos, Veranópolis, Guaporé e Nova Bassano. Carlos Barbosa, Nova Prata, Nova Petrópolis e Feliz também contabilizam mortes de pacientes por falta de leitos.
Os números podem ser ainda maiores porque o levantamento da reportagem diz respeito apenas aos 25 hospitais dos municípios que integram a área de abrangência da 5ª Coordenaria Regional de Saúde (CRS). Destes, seis são de Caxias do Sul. Além disso, nem todos os hospitais responderam à solicitação do Pioneiro. Vale ressaltar ainda que há pacientes que conseguiram leitos, mas morreram logo após serem transferidos ou ainda na ambulância, a caminho de outro hospital. A reportagem contatou os hospitais e também a 5º CRS para obter os dados.
Na fila de espera da Central de Leitos de Caxias do Sul, que regula as vagas da região, havia 42 pacientes com covid-19 aguardando vaga de UTI até o começo desta quarta-feira (17), segundo dados do Departamento de Avaliação, Controle, Regulação e Auditoria (Dacra) de Caxias do Sul. Desses, 22 são de Caxias e 20 de outros municípios. Outros 17, de Caxias, aguardam leitos de enfermaria covid. Na lista há também sete pessoas de Caxias à espera de UTI clínica e seis para enfermaria para tratar outras doenças. Nos demais municípios, dois pacientes esperam leito em UTI clínica e 13 estão à espera de enfermaria para tratamento de demais doenças.
Essas pessoas recebem atenção improvisada em unidades de pronto-atendimento, em macas de prontos-socorros e leitos de enfermaria de Caxias do Sul e região. Elas têm atendimento em estruturas minimamente montadas para suporte emergencial à vida, as quais garantem assistência mínima.
Confira o levantamento:
Antônio Prado
O Hospital São José não registrou mortes por falta de leitos de UTI. Há 13 dos 16 leitos destinados a pacientes com covid-19 ocupados. Um deles está entubado, em ventilação mecânica, aguardando UTI em hospital de referência para tratamento especializado, mas sem previsão de transferência.
Esses pacientes ficam em leitos específicos montados para isso na ala de internações covid-19. Essa ala é equipada com respirador, monitores, bombas de infusão, e demais itens para suporte mínimo a vida.
De acordo com o diretor administrativo Diógenes Krohn Weber mais três leitos devem ser abertos entre esta quarta e quinta-feira (18). Ele ressalta que há intensa procura de atendimento na emergência, o que vem gerando esgotamento da equipe médica e assistencial.
— Temos dificuldade em manter as escalas médicas por falta de profissionais, que têm que dividir a atenção com os pacientes covid-19 internados e em ventilação mecânica, e os atendimentos na emergência.
O diretor aponta ainda a falta de novos recursos ou recursos extras para financiamento desse aumento de custos por parte do governo federal e estadual para os hospitais menores e sem UTI.
Bento Gonçalves
O Hospital Tacchini opera acima da capacidade hospitalar, mas não há registro de mortes por falta de leito de UTI até o momento.
Bom Jesus
No hospital de Bom Jesus não foi registrada nenhuma morte por falta de leitos. Os pacientes críticos são transferidos para o Hospital Nossa Senhora da Oliveira, em Vacaria. Dos 10 leitos de internação disponíveis para covid-19, três estão ocupados. Dois pacientes testaram positivo e outro estava em isolamento.
Bom Princípio
No hospital São Pedro Canísio também não foram registradas mortes de pacientes em função da falta de leitos.
Canela
O Hospital de Canela não registrou mortes por falta de leito de UTI. Segundo o administrador Rogério Novaes, a internação continua cheia, mas o número de atendimentos foi mais tranquilo:
— A UTI ainda continua operando com sua capacidade máxima, porém ainda conseguimos boa resolutividade.
Carlos Barbosa
No Hospital São Roque, em Carlos Barbosa, uma idosa de 65 anos morreu no dia 4 de março à espera de leito. Ela chegou a conseguir vaga no Tacchini, em Bento Gonçalves, mas morreu antes de ser transferida. Na terça-feira (16), o hospital estava com todos os equipamentos de ventilação mecânica ocupados. Nesta quarta-feira (17), dois pacientes foram transferidos para Bento Gonçalves, para que o pronto-socorro seguisse aberto para urgências e emergências.
C
axias do Sul
: Hospital Pompéia
De acordo com o diretor técnico Thiago Passarin não houve mortes por falta de leito na instituição. Contudo, o hospital opera acima da capacidade.
- Estamos com 125% de ocupação das UTIS e 100% da enfermaria. O cenário é muito crítico e já ultrapassamos toda a nossa capacidade.
: Hospital Geral
Até o momento, não há registros de mortes devido à falta de leitos no Hospital Geral.
: Hospital do Círculo
A diretora do Hospital do Círculo, Isabel Bertuol, ressalta que a instituição está com 180% de ocupação na UTI e 120% de ocupação na enfermaria de covid-19. Segundo ela, não há registro de morte de pacientes por falta de leitos.
Farroupilha
A superintendente-geral do Hospital Beneficente São Carlos, Janete Toigo, ressalta que não houve registro de mortes por falta de leito na instituição.
— Estamos com 100% de taxa de ocupação no hospital, mas nós conseguimos nos estruturar bem. Hoje estamos apenas com um paciente na emergência aguardando leito de UTI. Isso é muito bom porque a gente sempre teve com cinco ou seis aguardando leito na nossa emergência.
O paciente que está à espera de uma vaga fica entubado e com respirador até que seja transferido.
Feliz
De acordo com dados da 5ª CRS, um paciente morreu à espera de leito no Hospital Schlatter.
Flores da Cunha
Três pacientes morreram no Hospital Beneficente Nossa Senhora de Fátima, em Flores da Cunha. Duas idosas perderam a vida na terça-feira (17) enquanto aguardavam vaga em UTI desde domingo (14). Outro paciente morreu no sábado. De acordo com diretora do hospital, Andreia Francescato Vignatti, os pacientes eram mantidos em ventilação mecânica no pronto-atendimento enquanto esperavam por uma vaga para tratamento intensivo. Há três pacientes em ventilação mecânica no pronto-socorro.
Garibaldi
O Hospital São Pedro está com 150% de lotação na UTI, mas até o momento não há mortes por falta de leitos. De acordo com a instituição, cinco novos leitos de covid-19 serão abertos nesta semana.
Guaporé
O Hospital Manoel Francisco Guerreiro registrou seis mortes. Os pacientes tinham 82, 67, 63, 52, 80 e 79 anos. A administradora Franciele Mezzomo ressalta que há 20 pacientes internados, sendo que um está em ventilação mecânica enquanto aguarda leito de UTI. Os pacientes têm que ficar em leitos de "semi-uti" com ventilador (entubados), monitores e bomba de infusão.
Nova Bassano
O Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em Nova Bassano, registrou a morte de dois pacientes que estavam aguardando liberação de vaga na UTI.
Nova Prata
No Hospital São João Batista, dois pacientes morreram à espera de leito na UTI. Há 28 pessoas na ala covid-19 com uso de oxigênio e, além destes, cinco pacientes em ventilação mecânica enquanto aguardam leito de UTI.
— Temos uma ala especial no pronto-atendimento, onde podemos manter até 11 pacientes em ventilação mecânica. Contamos com médicos, enfermeiros e técnicos, enfim, uma equipe médica específica para que possamos atender ao paciente até que tenha leito liberado. Estamos contando com orientações e suporte de uma intensivista para esses atendimentos - explica o administrador Marcos Santori.
Em meio ao crescente número de mortes, a equipe teve a recuperação de uma paciente para seguir em frente com esperança:
— Na semana passada tivemos uma paciente de 66 anos que estava entubada e precisava de leito de UTI. Cuidamos dela, como fazemos com todos os nossos pacientes, e ela foi apresentando melhora no quadro. Agora está em leito clínico até que tenha alta. Conseguimos recuperar essa paciente. Para nós é um vitória e uma esperança — comemora.
Nova Petrópolis
No hospital de Nova Petrópolis, quatro pacientes não resistiram e morreram enquanto estavam à espera da liberação de um leito de UTI pela Central de Regulação do Estado. Três estavam infectados com covid-19 e um estava à espera de um leito clínico. O hospital atende, além do município, Picada Café e Linha Nova. O diretor-administrativo, Mateus Zucolotto, ressalta que dos 21 leitos para covid-19, 15 estão ocupados.
— Estamos com dois pacientes entubados à espera de leito de UTI. Até o momento, felizmente, não usamos o corredor. Fechamos todo o hospital, suspendemos as eletivas, usamos os leitos privados, os atendimentos de saúde mental estão suspensos, então temos como manter esses pacientes até que possam ser transferidos.
Paraí
No Nossa Senhora Aparecida não foram registrados óbitos. Há 11 leitos para atendimento de pacientes com covid-19. Destes, sete estão ocupados. Os pacientes não necessitam de oxigênio e estão sem ventilação mecânica.
São Marcos
No Hospital São João Bosco, três pacientes morreram nos últimos dias à espera de leitos. As vítimas são três homens. O primeiro registro ocorreu no dia 8 de março, com a morte de um idoso de 81 anos. A segunda vítima tinha 71 anos. Ele estava internado desde o dia 1º de março. O homem foi transferido para a UCI no dia 9 e morreu três dias depois. No domingo (14) foi registrada mais uma morte por falta de leitos. Um homem de 45 anos estava internado na UCI desde o dia 8 de março e não resistiu à doença.
Vacaria
O Hospital Nossa Senhora da Oliveira não registrou mortes por falta de leitos. A diretora Adelide Canci ressalta que a instituição opera 150% acima da capacidade.
- Não tivemos morte porque temos feito todos os esforços. Usamos equipamento de emergência para manter os pacientes até que tenha vaga na UTI covid. Hoje temos oito leitos de UTI covid cadastrados, mas 12 pacientes internados. Esses quatro leitos são improvisados e não estão cadastrados na Central de Leitos, mas são abertos conforme a necessidade do hospital. Por enquanto conseguimos atendimento intensivo.
Veranópolis
No São Peregrino Lazziozi, cinco pacientes morreram na fila de espera. Os casos mais recentes foram registrados semana passada. Na sexta-feira (12) morreu uma idosa de 88 anos. No dia 11, uma paciente de 68 anos, que estava internada desde 3 de março, não resistiu e morreu antes de conseguir uma vaga para tratamento intensivo. No dia 10, dois idosos, um homem e uma mulher, ambos com 88 anos, morreram no hospital. No dia 4 de março, uma paciente de 65 anos morreu à espera de leito.