No último dia com regras de bandeira vermelha, a população de Caxias do Sul manteve a rotina do início da semana, com ida a mercados e ao centro. A movimentação da manhã desta sexta-feira (26) também se refletia no trânsito, que lembrava dias de verão em que o coronavírus não era uma ameaça, apesar do fluxo ter reduzido em relação à semana anterior.
A fase mais crítica da pandemia também não assustou pessoas que insistiam em circular sem máscaras ou ocupar bancos na Praça Dante Alighieri, prática proibida desde o último fim de semana. Pouco depois da 9h, era possível perceber ao menos 16 pessoas paradas na lateral próxima à Rua Sinimbu. Em um grupo de cinco pessoas observado pela reportagem, três utilizavam a máscara no queixo e as outras duas não usavam a proteção. Uma mulher sem máscara, sentada em um dos bancos, se justificou tão logo foi convidada a opinar sobre as novas restrições determinadas pelo Estado:
— Só parei para fumar um cigarro — afirmou, entre pitadas e observações na tela do celular.
Ao ser questionada novamente, emendou:
— Isso é muito alarde. Não gostaria de dar minha opinião.
Na praça, o artista plástico de rua Michael Vargas Sack, 28 anos, também não se preocupava de circular sem máscara. Atuando de forma itinerante pelo país, chegou em Caxias nesta quinta-feira (25) e afirma não temer a pandemia. Apesar disso, ele garante que utiliza a proteção ao se aproximar das pessoas.
— Não estou nem um pouco preocupado. Estou aqui para fazer minha história, para viver. Se eu morrer amanhã as pessoas já me conheceram — afirma.
Também sentado em um banco da praça, o agricultor de Santa Lúcia do Piaí, Orites Siqueira, 62, disse que aguardava uma consulta médica marcada para depois das 10h. Utilizando máscara, ele disse que sentou no banco porque tem desgaste no quadril e afirma que sempre segue as recomendações sanitárias.
Se no interior da praça os decretos não são cumpridos, no Ponto de Safra, que ocorre todas as sextas na Av. Júlio de Castilhos, entre as ruas Dr. Montaury e Marquês do Herval, a preocupação dos frequentadores era visível. A reportagem observou apenas dois clientes sem máscara, embora o público estivesse mais aglomerado.
— Até disse para minha esposa não procurar ir em aglomeração — afirmou o aposentado Hildo Brognoli, 67.
Brognoli defende os cuidados preventivos, mas é contra o fechamento do comércio por entender que não é a solução para o problema.
— Se resolvesse, já estaríamos curados. Só prejudica a economia e não resolve — opina.
Manhã de lojas vazias
Embora as ruas estivessem movimentadas na área central e a Av Júlio de Castilho mantivesse o intenso fluxo de pedestres, a realidade dentro das lojas era bem diferente na manhã desta sexta. A maior parte dos estabelecimentos estava vazia ou tinha poucos clientes.
— Fechar a loja ou não fechar (devido à bandeira preta) não faz diferença porque não tem ninguém — afirmou Dai Xinhua, 33, proprietário de uma loja de bijuterias da Júlio.
Essa realidade do comércio também se repetia nos bairros Cruzeiro e Kayser. A única diferença fora do centro era a menor quantidade de pessoas nas ruas.
As perdas no comércio, porém, já começaram a ocorrer ao longo da semana, causada pelo anúncio da bandeira vermelha. O salão de beleza mantido por Elisandra Borges, 36, por exemplo, teve queda de 50% a 60% no movimento.
— Entendo que tem que fechar, mas por incompetência de uns, todos pagam. Se cada um tivesse consciência, não precisaria chegar a esse ponto das pessoas autônomas, que realmente precisam trabalhar para ter o sustento, fechar por causa de outros que não têm consideração — desabafa.
Fiscalização reforçada
Segundo o gerente da fiscalização da Secretaria do Urbanismo, Rodrigo Lazzarotto, o fim de semana terá operações sábado e domingo para verificar o cumprimento das normas restritivas. O foco dos agentes não será somente na fiscalização do comércio, mas também no comportamento da população que está nas ruas, como aglomerações e uso de máscara.
Dando continuidade a ações mais intensas que ocorreram ao logo da semana, quem for flagrado sem proteção, por exemplo, será detido e encaminhado à delegacia. No domingo (28), por exemplo, 50 servidores estarão nas ruas na maior operação de fiscalização das normas sanitárias já realizada. Entre as preocupações da força-tarefa nesse caso, estão possíveis aglomerações em bares devido à final da Copa do Brasil, entre Grêmio e Palmeiras.
— As pessoas acham que irão para um bar ver o jogo, mas podem ficar sem ver, porque vamos autuar e fechar o estabelecimento — alerta.
As ações intensas de fiscalização também seguirão ao longo de toda a próxima semana, devido à vigência da bandeira preta.