Caxias do Sul vai tentar adquirir vacinas contra a covid-19 direto de laboratórios. Para isso, a cidade aderiu ao Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga), que vai liderar essa negociação. O anúncio foi feito em reunião com integrantes do governo municipal e diretores de hospitais da cidade na manhã desta sexta-feira (26), que foi acompanhada de forma virtual pela imprensa.
Este foi o primeiro pronunciamento do chefe do Executivo de Caxias, Adiló Didomenico, desde que o governador Eduardo Leite anunciou, na tarde desta quinta, o fim da cogestão e instituiu a bandeira preta para todo o Estado. Adiló, que é um defensor da manutenção das atividades econômicas, se limitou a dizer que vai cumprir o decreto estadual.
Adiló disse que vai a Porto Alegre com outros prefeitos da região nordeste, nesta tarde, para tratar sobre essa possibilidade de comprar vacinas diretamente dos laboratórios por meio do consórcio. Na última terça-feira, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal decidiu que estados e municípios podem comprar as vacinas contra a covid. Contudo, a decisão vale somente em caso de descumprimento do Plano Nacional de Vacinação pelo governo federal ou de insuficiência de doses. A prefeitura de Caxias disse que, caso se concretize, a compra não precisa de aprovação da Câmara de Vereadores. Existe um dispositivo dentro do orçamento da Secretaria de Saúde em que se encaixaria. Porém, é preciso ter recursos.
O presidente do Cisga, prefeito de Monte Belo do Sul, Adenir Dallé, informou que o encontro será às 15h30min, com representante do laboratório União Química, que é o responsável no Brasil pela produção da vacina russa Sputnik V.
– Vamos entregar um protocolo de intenções, porque entendemos que através do Cisga temos a possibilidade de atender nossos municípios – disse Dallé.
O consórcio já contatou a Pfizer e o Instituto Butantan, que produz a Coronavac, mas deve oficializar o interesse em adquirir doses nos próximos dias. Por meio do Cisga, as prefeituras de 18 cidades conseguiram comprar testes para a covid-19 com preço mais baixo dos que os praticados pelo mercado no ano passado.
A prefeitura de Caxias também disse que vai aumentar a testagem na cidade, mas não deu detalhes. A secretária de Saúde, Daniele Meneguzzi, reiterou que as medidas a serem adotadas em Caxias serão as determinadas pelo governo do Estado e que a fiscalização será intensificada. Não foram anunciadas novas medidas.
– Só tem uma forma de conter essa contaminação avaçaladora que iniciou na semana passada: é com isolamento, diminuindo a circulação, redobrando os cuidados para que os hospitais possam voltar à normalidade – disse Adiló.
O encontro foi anunciado como uma coletiva de imprensa, mas não foi aberto espaço para perguntas diretas. As questões tinham que ser encaminhadas pelo chat do sistema e apenas duas foram respondidas, após, o prefeito encerrou a reunião.
A reunião teve a participação dos diretores dos seis hospitais da cidade: Hospital Geral (HG), Pompeia, Unimed, Virvi Ramos, Círculo e Saúde. Sobre a capacidade hospitalar, o prefeito anunciou que os oito leitos que serão abertos pelo município começam a operar na segunda-feira – sete no HG e um no Círculo.
Durante a reunião, o dirigente do Hospital Saúde disse que a instituição tem 10 leitos de UTI e, no momento, operam com 11 leitos, utilizando um ventilador mecânico extra que tinham para caso de necessidade de manutenção de equipamento – quatro dos leitos estão com pacientes covid. Ele alertou que estão no limite do potencial de atendimento. Podem abrir novos leitos clínicos, mas não teriam vagas em UTI para atendê-los. Além disso, falou sobe a falta de pessoal especialista em atendimento de área intensiva.
O depoimento se repetiu nas falas dos demais representantes de hospitais. A superintendente do Hospital Pompeia, Lara Vieira, disse que a instituição tem 37 leitos de terapia intensiva e apenas um vago nesta manhã.
– Nossa preocupação não é somente o enfrentamento da covid, mas também a retaguarda para atendimento de outras patologias. Hoje estamos em total esgotamento do nosso limite da possibilidade de aumentar esses leitos em função não somente de ambiente físico, de equipamentos e materiais , mas sobretudo de recursos humanos – desabafou Lara referindo que o hospital tem 30 vagas em aberto há duas semanas e não consegue contratar por falta de profissionais no mercado.
Isabel Bertuol, do Hospital do Círculo, disse que estão usando outras áreas do hospital para atender pacientes com covid:
– Iniciamos a semana com 30% de ocupação na área de atendimento à covid e chegamos hoje (sexta) a 100%. É um momento crítico e que a população precisa entender que, independente dos nossos esforços, nós temos um limite.
Sandro Junqueira, diretor do Hospital Geral, falou que a instituição está com a capacidade esgotada (100%) e tem dois pacientes no Pronto-Socorro em ventilação mecânica.
Cleciane Doncatto Simsen, diretora do Virvi Ramos, explicou que a instituição está com um leito vago de UTI nesta manhã:
– As liberações de leitos ocorrem normalmente por óbito, o que é uma tristeza.
Vinícius Lain, diretor-técnico do Hospital Unimed, disse que abriu mais cinco leitos de UTI, chegando a 50, e está com 92% de ocupação. A taxa de ocupação na enfermaria é de 111%.
– Peço que a população tente se preservar o máximo possível porque chegamos ao esgotamento da rede hospitalar – pediu Lain.
Todos os diretores e os gestores municipais agradeceram ao empenho e dedicação dos profissionais da saúde e fizeram apelo para que a população adote as medidas de prevenção. A secretária de Saúde disse que a cidade chegou ao momento mais crítico da pandemia:
– Não há bandeira preta, não há determinação de governante nenhum que vai funcionar se cada um não fizer a sua parte e adotar as medidas de controle.
Sobre a possibilidade de abertura de hospitais de campanha com a ajuda do Exército em Caxias, a prefeitura disse que essa não é uma medida viável neste momento porque não há profissionais disponíveis para atender nesses locais, caso fossem criados.