O carro-chefe da empresa de Elias Cappellaro eram os casamentos e as formaturas. Além disso, ele prestava serviço para duas casas noturnas de Caxias do Sul. Era assim, até março de 2020, quando a cidade parou por causa da pandemia de covid-19. Elias é dono da Big Brothers que atua com som, iluminação e imagem para eventos.
– No começo, os eventos foram adiados. Todo mundo achava que em agosto ou setembro iriam retomar... Só que após os adiamentos, vieram os cancelamentos... Mas a maioria foi adiada para até 2022. Esperávamos um 2020 muito bom. Tudo sinalizava para isso. Fizemos investimentos em equipamentos no final de 2019, prospectando que se pagariam ao longo do ano (2020). Isso não aconteceu. Houve dívidas que renegociamos e vamos ter que renegociar de novo. O que tinha de reserva foi para honrar compromissos que tínhamos até dezembro do ano passado. A partir de janeiro, acabou a reserva, não tem entrada (de dinheiro) e as dívidas vão acumulando – comentou.
A empresa fechou as portas. O empresário teve de dispensar quatro funcionários. Assumiu com eles o compromisso de chamá-los de volta quando a situação normalizasse. Depois de cerca de seis meses sem atividade, Elias foi contratado para trabalhar na campanha eleitoral de um candidato nas eleições municipais. Ele conta que isso abriu a possibilidade de ingressar em um novo nicho: o dos eventos virtuais ao vivo.
– Estava com o material todo parado e com espaço físico, então, montamos um estúdio. Hoje está sendo uma alternativa. Não acreditava que iria demorar tanto (a pandemia). Não tinha feito antes esperando a volta do mercado. Como não voltou, pensei: vamos entrar de cabeça nessa parte da campanha para defender um pouco da despesa. Depois da política, vimos que é um nicho de mercado que existe, mais ainda muito novo. É um aprendizado para quem realiza e para quem está contratando também – pondera.
Para além da perda financeira, foi preciso trabalhar o aspecto psicológico de se ver sem nenhuma fonte de renda:
– Trabalho há 30 anos com isso (eventos). Imagina, do dia para a noite, tirarem todo o teu chão... Tive que cuidar da cabeça, me manter ocupado e otimista, mas é difícil. 2021 chegou e foi só uma data para virada de página, porque continua igual para pior, porque vemos aglomeração em praia, em festa clandestina e em outras comemorações Só queremos trabalhar.
Celebrações intimistas foram a saída para quem quis realizar eventos
Quando Daiane de Toni e Yuri Piecha Caldeira marcaram o casamento não poderiam imaginar que uma pandemia mundial adiaria os planos deles. Mas, foi exatamente o que houve.
A cerimônia planejada desde 2019 estava marcada para abril de 2020 para cerca de 70 convidados em Caxias do Sul. Porém, no mês anterior, a cidade entrou no primeiro período de restrições. O casal cancelou tudo: festa, cartório e viagem de lua de mel para a Europa.
– Trancaram os eventos e tivemos que escolher outra data. E, como estava tudo muito incerto, deixamos pré-reservas. Não sabíamos se iria durar um, dois, três meses... Remarcamos para setembro. Mas, quando chegou um mês antes, estava piorando a situação. Aí, optamos por fazer um evento menor. Nós também começamos a ficar com medo, porque era tudo muito novo para todo mundo. E por causa dos pais, pessoas de mais idade... Resolvemos fazer um mini wedding, somente com a família e amigos. Reduzimos para 18 pessoas – conta Daiane referindo um tipo de evento de característica mais intimista.
O sonho de oficializar a união dos noivos só ocorreu sete meses após a data original, em 28 de novembro, em uma celebração reservada à família e padrinhos. Eles enfrentaram a burocracia. No cartório, tiveram que solicitar e pagar as certidões de novo. A viagem para a Europa vai ficar para quando a situação melhorar e eles seguem negociando com a companhia aérea. A lua de mel passaram no Rio de Janeiro. O irmão de Daiane, que mora em Portugal, não pode vir, devido às restrições de entrada e saída daquele país, mas participou do casamento de forma virtual.
– Amamos (a cerimônia). Aproveitamos muito e que bom que fizemos. Ficaram lindos todos os detalhes... Foi mágico, perfeito. Como queríamos – declarou Daiane.
O cerimonialista que organizou tudo, Rogério Aver Pizzolatto, diz que, esse tipo de evento com número menor de convidados foi a saída para muitas pessoas que não quiseram deixar de marcar alguma data importante.
Mudar propostas e adaptar situações foram formas que ele encontrou de manter parte dos compromissos e, com isso, a renda.
Contudo, alguns eventos são parte dos planos de vida das pessoas, algo com o qual sonharam por muito tempo. Elas não querem realizá-los com uma série de restrições. Por isso, aqueles que desejam cerimônias maiores, principalmente, casamentos, têm adiado os planos sucessivamente esperando mais liberações.