No interior de Caxias do Sul, no interior do Desvio Rizzo, em Conceição da Linha Feijó, fica a Escola Municipal Carlin Fabris. Pequena, modesta, e sem grades ao redor do pátio. Lá dentro, na Biblioteca, uma sala com menos de seis metros quadrados, bate um coração apaixonado e vibrante que pulsa intenso movido pela transformação de vidas através da educação. É nesse ambiente que trabalha a professora Luciane Gomes Dutra de Oliveira, 50, licenciada em Ciências e bacharel em Biologia.
— Sou a professora da biblioteca da escola, isso não significa que só fico entregando e recebendo livros dos alunos, viu? — declara.
Luciane é divertida, e fala pelos cotovelos porque derrama de si o amor pela profissão, que entende ser o vetor de transformação social.
— Nós queremos fazer a diferença na vida de todos os alunos que passam aqui pela escola, eles não podem passar em vão — acredita.
A Escola Carlin Fabris fica em uma região bucólica e tranquila, no interior, em frente de uma praça e da igreja. Mas nem tudo são flores no entorno:
— Atendemos mais de dez comunidades aqui ao redor. Por exemplo, cerca de 30% é de alunos que vêm do Paraíso Cristal, um loteamento, que é na verdade uma invasão. E como diz um dos nossos alunos: "Aquilo não é um paraíso, professora" — observa.
Realidades tão díspares dentro de um mesmo ambiente, e no meio de tudo isso ainda tem a chamada por fazer, o conteúdo a ser ministrado, as provas por aplicar.
— Nosso trabalho é encurtar distâncias. Para um aluno aprender, outras situações precisam estar minimamente resolvidas, como a alimentação, a condição de se sentir bem, se sentir envolvido. Sem isso eu não consigo avançar — avalia.
Antes de desenvolver a linguagem ou o raciocínio lógico, é preciso olhar para o ser humano diante de si, estender um abraço e muitas vezes ir além do papel de professor.
— Tivemos uma aluna, há uns três anos, ela cheirava mal, ninguém conseguia ficar perto. Então, todos os dias dávamos banho nela. Depois ela comia alguma coisa, e só então entrava em sala de aula. E foi assim que conseguimos fazer ela ler e escrever — conta, emocionada.
Luciane nos leva a refletir não só a respeito do papel do professor, mas pensar a respeito de quem somos e do que temos feito. É como se ela colocasse nossa condição de humanos, racionais e sensíveis, em um paredão.
— Isso é uma troca, não tem como eu fazer educação sem essa troca. Eu não posso exigir de alguém algo que ela não tem o que me dar. Então eu tenho de entrar para suprir — avalia.
Encurtar distâncias, suprir necessidades e professores a caminhar de mãos dadas é a melhor estratégia, revela Luciane. Não por acaso, a Carlin Fabris é a melhor escola de Caxias do Sul, com nota 7,6, no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Uma das atividades de integração pedagógica é chamada de reagrupamento. Uma vez por semana, em dois períodos, os alunos de cada turma são divididos. Os que têm mais dificuldade, seja em matemática, ciências, ou português, por exemplo, ficam com a professora responsável pela turma. Os demais, da mesma sala, vão para a biblioteca com a Luciane.
— Os conteúdos são planejados para cumprir a lei. Mas a escola tem autonomia para abordar da sua forma. Quando ensinamos de forma lúdica, os alunos aprendem sem se dar conta de que estão a aprender, porque eles brincam.
E assim como alunos saem da escola e dão frutos, outros estão a chegar e a desafiar a equipe de professores. Mas Luciane encara tudo isso com uma missão de vida:
— Temos desafios sempre, e um professor que não é desafiado não pode dizer que é um professor.