Nadar contra a maré da morte do pensamento tem sido a vida da professora Magda Torresini, 73 anos bem vividos e 50 deles em sala de aula. Atualmente dá aula de redação no Cursão, para alunos do pré-vestibular, em Caxias do Sul.
— As minhas amigas dizem: "Magda, chega de sala de aula, vai para casa, vai viajar..." — diverte-se.
Depois do sorriso e de uma pequena pausa olho no olho, Magda sentencia o porquê continua a viver a vida em sala de aula:
— Chega o final do ano e pede quanto de estresse eu tenho. Zero! É um espetáculo, porque sou apaixonada como se estivesse começando de novo.
Magda Torresini é aquela professora que ainda ganha compota de pêssego feito pela avó de uma das suas alunas. É também o tipo de professora que dá bala de côco para os alunos. É ainda, o tipo de professora que almoça um lanche qualquer, em sala de aula, porque dedica-se à provocar alunos ao exercício do pensamento no horário do meio-dia.
— Eles não tem tempo! Então eu fico sem almoço e eles aproveitam esse horário para estudar. De um modo geral, tenho três tipos de alunos: um deles deseja passar em uma universidade federal (qualquer curso), o outro, quer passar em medicina (em qualquer universidade) e tenho ainda os que querem passar em concurso federal. E todos precisam exercitar o pensamento para escrever a redação — explica.
Nestes 50 anos em sala de aula, Magda é taxativa em dizer que esta é a geração com maior dificuldade na escrita. A explicação é simples, e não é nenhuma novidade, reconhece a professora.
— A maior dificuldade dos meus alunos é o foco. Porque eles estão acostumados a falar com cinco pessoas ao mesmo tempo no celular, e têm o controle remoto na mão, se não gostam, trocam de canal — pontua.
A informação é fragmentada, se liquefaz em segundos, porque no próximo deslize do dedo indicador sobre a tela de cristal líquido do celular, a notícia de dois segundos atrás já é passado, importa o novo vídeo que está por carregar.
— Fizeram uma pesquisa, recente, com adolescentes. Diz que nos primeiros 15 segundos eles estão concentrados no que estão a ver, nos próximos 15 segundos eles se aprofundam, e nos 15 segundos a seguir eles já mudaram o foco e foram para outra página — resigna-se.
E no meio disso tudo, entre a morte do pensamento e da reflexão e a interação fragmentada está a escola. É como se a escola fosse um tipo de pedra no meio do caminho, e como tomar esse pedaço de rocha e construir?
— Claro que a leitura dá mais respaldo e a gramática vai fundamentar. Mas estamos em 2019, o que tu precisar está no Google. Ainda estamos em uma prisão conteudística. É claro que é importante, mas o que a escola tem de fazer é corrigir e orientar o pensamento, a criatividade. A leitura alimenta, mas é o exercício que constrói — argumenta.