As informações sobre a greve dos médicos em Caxias do Sul mais confundem do que esclarecem. Enquanto o sindicato da categoria afirma que pelo menos 260 profissionais cruzaram os braços nos últimos dias, porém, sem apresentar documentos que comprovem esses dados, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) ainda não sabe quantas pessoas já deixaram de ser atendidas desde o início da mobilização na segunda-feira.
A SMS tem usado uma metodologia diferente para medir o impacto dessa paralisação nas 47 unidades básicas de saúde (UBSs), no Centro Especializado de Saúde (CES) e no Centro de Atenção Integral à Saúde Mental (CAIS). O levantamento não considera o número de profissionais parados, mas sim em quantos locais eles deixaram de cumprir a agenda. Pelas contas da SMS, ontem eram 61 médicos ausentes.
Contudo, como um médico pode atender duas unidades básicas de saúde (UBSs) no mesmo dia, se ele se ausentar por conta da paralisação, é como se dois profissionais deixassem de comparecer para receber os pacientes, segundo a secretaria. De acordo a metodologia, 74 agendas de 140 previstas foram canceladas ontem na cidade _ o equivalente a 74 médicos ausentes e 66 presentes.
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O presidente do Sindicato dos Médicos, Marlonei Santos, tem uma estimativa bem mais grandiosa do prejuízo causado pela mobilização. Segundo ele, como cerca de 260 de 330 médicos do SUS optaram por não ir ao trabalho (a conta é do movimento grevista), são ao menos 3,9 mil atendimentos cancelados apenas nesta terça-feira – média de 15 atendimentos para cada profissional. Ele também garante que as equipes do Pronto-Atendimento 24 horas (Postão) estão atendendo a urgência e emergência num ritmo mais lento. Marlonei garante que médicos de todos os setores participam da mobilização. A secretaria, por sua vez, ainda não conseguiu levantar quantas consultas foram perdidas nas UBSs. No CES, seriam 319 atendimentos perdidos em dois dias.
Com o novo método de medir a adesão ao movimento liderado pelo Sindicato dos Médicos, os números divulgados na segunda-feira não traduziram a realidade. Pela SMS, 64 médicos estavam em greve, ou 38% dos 168 que integram o quadro nas 47 UBSs, no CES e no Cais Mental. A secretaria reconheceu que a conta estava equivocada e passou a considerar, portanto, a agenda de cada médico.
Por outro lado, a SMS confirma que essa agendas canceladas resultaram em atendimento parcial nas UBSs Centenário, Cinquentenário, Centro de Saúde, Cruzeiro, Desvio Rizzo, Diamantino, Fátima Alta, Fátima Baixa, Madureira, Mariani, Parque Oásis, Planalto, Reolon, Sagrada Família, Salgado Filho e São Caetano.
Pela SMS, a paralisação é total nas UBSs Bela Vista, Cristo Operário, Eldorado, Fazenda Souza, Forqueta, Galópolis, Rio Branco, Santa Lúcia Cohab, São Ciro, São Leopoldo, Século XX, Tijuca e Vila Ipê foi realizada paralisação total. Nas demais, o atendimento ocorreu normalmente.
Essa segunda greve em março (a primeira ocorreu entre os dias 1º e 3 de março) também significou uma mudança de discurso do presidente do sindicato. Agora, Marlonei nega que o movimento tenha começado pela negativa em bater o ponto e cumprir a jornada, como exige a prefeitura. O foco da reivindicação, segundo ele, é conquistar o salário básico de R$ 13.847,00, referente ao piso estabelecido pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam), para negociação por todos os sindicatos médicos do Brasil, para 20 horas semanais, bem como melhores condições de trabalho nas unidades do SUS.
Marlonei reitera que isso trata-se apenas de uma proposta e que cabe ao prefeito Daniel Guerra fazer contraproposta. Tal resposta da prefeitura, contudo, ainda não chegou.
No final da tarde desta terça-feira, o sindicalista buscou o apoio da Comissão de Saúde e Meio Ambiente do Legislativo para intermediar a negociação com o município.