A fé é o principal combustível que moveu cada um dos mais de 100 mil peregrinos que rumaram ontem ao Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Caravaggio. Todos os romeiros entrevistados pelo Pioneiro concordaram que saúde é a graça mais pedida e também alcançada. A crise econômica, de fato, teve papel importante na caminhada: a busca ou manutenção do emprego foi citada por 10 das 30 pessoas ouvidas pela reportagem.
A caminhada que se aproxima de 20 quilômetros começa em silêncio, envolvida pelo ar de concentração. Aos poucos, os passos são acompanhados de conversa entre amigos, parada para água ou comprar bergamotas, ou prece baixinha. A dona de casa Diva Cavion, 63 anos, iniciou o terço quando deixou o bairro Desvio Rizzo, às 7h15min. Ela já havia perdido a conta de quantas dezenas havia rezado quando estava na localidade de Mato Perso, perto das 9h. Quando questionada o motivo que a levava a mais uma romaria, os olhos marejados não disfarçaram: a família de Diva precisava das bênçãos da mãe de Caravaggio.
– Eu disse pra ela: você que também é mãe sabe do sofrimento que enfrentamos quando vemos que nosso filho não está bem. Me ajude – desabafou.
Diva ligava para o marido Antônio, 65 anos, a cada parada que fazia, estrategicamente em igrejinhas ao longo do percurso. O cansaço dela e dos outros romeiros, no entanto, não era páreo para a determinação de chegar ao Santuário. Jorge Marques, 55 anos, estava com os braços tremendo de tanta força usada para carregar a afilhada Isabele, de 1 ano e 6 meses, durante boa parte do trajeto. Outros familiares o ajudaram revezando o colo em alguns instantes. Mas não havia sinal de arrependimento entre a turma, segundo Jorge:
– Ela ficou hospitalizada três meses quando nasceu, inclusive na UTI e essa era a nossa promessa.
A chegada na Esplanada do Santuário era sempre comemorada pelos romeiros. Aplausos, alongamento, abraços e, claro, sorriso desenhado no rosto de quem peregrinou mais uma vez. É o caso do grupo de amigos senegaleses liderado por Aboulahat Ndiaye, 25 anos, conhecido como Bili. Depois de três horas de caminhada, estavam eufóricos diante do templo religioso.
– Queremos que as coisas melhorem para o povo brasileiro – confessa Bili.