O que você pode oferecer para combater a violência e promover a paz em Caxias? Nas próximas semanas, essa provocação pautará lideranças comunitárias, políticas, empresariais e institucionais da cidade como forma de mobilizar a opinião pública e indicar estratégias contra a criminalidade. O objetivo é propor ideias que podem ser aplicadas na cidade, como alternativa ao método tradicional de resposta ao crime.
Confira as últimas notícias do Pioneiro
Semanalmente, a reportagem lançará a opinião de homens e mulheres de diversos segmentos para estimular o debate. São líderes que poderão indicar caminhos e se comprometer com alguma atitude ou projeto em favor da pacificação.
A série de matérias será veiculada no período que compreende a Semana da Paz, comemorada até o dia 27 de setembro, e a Semana da Justiça Restaurativa, prevista para metade de novembro. Ao final, os participantes e outros convidados serão desafiados a debater o tema num encontro aberto ao púbico.
Discutir novas concepções para resolução de conflitos é demanda urgente. De tão incorporada ao cotidiano, mal sabemos dimensionar o tamanho da violência em Caxias.
No ano passado, por exemplo, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado registrou 3,3 mil roubos violentos na cidade, daqueles em que vidas estão sob a mira de armas. Há dois anos atrás, esse tipo de delito grave foi um pouco maior: 3,4 mil casos. No primeiro semestre, a SSP já somou 1,8 mil roubos, mais da metade do que o total em 2014.
É um ataque de alto risco para o cidadão a cada duas horas, sem incluir os milhares de furtos e arrombamentos em que os bandidos agem sorrateiramente, longe dos olhares das vítimas.
Na esteira dessa criminalidade, 79 pessoas tombaram mortas a tiros, pauladas e facadas em 2015.
Não se vislumbra mudanças no cenário. A tendência é de que crise financeira no Estado alimente ainda mais a insegurança nas ruas, com o agravante do prende e solta de bandidos, da farra dos presos do regime semiaberto e da impunidade. Esse quadro é potencializado ainda mais pela indiferença nas ruas e pela perda de referências sociais e familiares.
Casos como o da menina Ana Clara, morta com um tiro no bairro Pio X, em julho, causam comoção. Mas é só. Curiosamente, a revolta popular se dá mais pelas redes sociais do que nas ruas, onde o bandido circula. Por outro lado, muita gente comemora a execução de homens e mulheres envolvidos com criminalidade e tráfico de drogas, supondo talvez que um ladrão ou assassino a menos na rua trará paz. É um equívoco, conforme indicam os números da SSP acima.
Nesta primeira reportagem, quatro personalidades com influência pública ou social revelam como pretendem se engajar pela pacificação.
O QUE VOCÊ PODE OFERECER PELA PAZ EM CAXIAS?
- Acredito no planejamento e no trabalho de rede, e acredito nas polícias integradas. Temos 19 iniciativas pela prevenção. Não temos dificuldades em montar uma força-tarefa para combater determinados problemas a exemplo dos bondes. Por isso, meu compromisso é manter essa integração e ampliá-la ainda mais contra a violência.
Roberto Louzada, secretário municipal de Segurança Pública e Proteção Social
- O Tribunal de Justiça está empenhado em promover uma política pública de pacificação social, como política de Estado, interinstitucional e comunitária. O Programa Caxias da Paz vem servindo de inspiração para isso, e pode se beneficiar ainda mais, servindo como "incubadora de boas práticas". No momento, a principal delas é unir esforços para formar uma rede de Comitês de Paz nas várias regiões da cidade. São estruturas híbridas, envolvendo entidade da sociedade civil voluntária, subvencionada com recursos púbicos ou doação. Iniciando com 25 facilitadores em 11 regiões da cidade, esses centros começariam atendendo conflitos escolares, podendo evoluir para atender adolescentes infratores, brigas entre vizinhos e intrafamiliares, e futuramente, monitorar adultos em cumprimento de sanções penais em liberdade.
Juiz Leoberto Brancher, coordenador do Programa Justiça Restaurativa para o Século 21 do TJ
- Minha missão é ficar atento a novos projetos que dizem respeito à prevenção, que cuidem das crianças e conscientizem o dependente químico, formando cidadãos para a questão dos valores e do exercício profissional. Como meu campo é através dos projetos como Mão Amiga, vou convocar as pessoas para que a paz seja uma construção individual e coletiva. Isso se consegue a partir de gestos simples: por meio de uma palavra, por meio de gentileza, de atitude e acima de tudo por meio do compromisso com o bem.
Frei Jaime Bettega
- O Corede continuará colocando a segurança como prioridade de investimento ao lado da saúde e da educação. Vamos lançar um novo seminário regional sobre a segurança, e nos chama a atenção um dado sobre a população carcerária: além da falta de vagas, 75% dos apenados são jovens com menos de 30 anos presos por envolvimento com o tráfico de drogas. Isso mostra que precisamos de políticas de inclusão social e de valorização da família par reduzir a influência da criminalidade. Precisamos lidar com a diferença e organizar a sociedade, e vamos continuar fomentando esse espírito.
José Adamoli, presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede Serra).