As ligações gravadas pela própria vítima mostram como se deu a extorsão da agente da Susepe em Caxias do Sul contra uma vítima de furto de veículo. A mulher foi detida no final da tarde de terça-feira em frente ao albergue prisional por agentes da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), em ação conjunta com o setor de inteligência da Susepe. Ela combinou que a entrega do dinheiro fosse no próprio albergue.
O furto da caminhonete Toyota Bandeirante ocorreu dia 24 de junho, no bairro Jardelino Ramos. As gravações são dos dias 26 e 30 de junho. Nas conversas, a agente dá o próprio nome e constantemente se refere a uma pessoa que estaria com a caminhonete. Ela chega a mencionar que só consegue devolver o carro "pelo respeito que eles têm por ela" . Confira:
26 de junho
Vitima - To te ligando pra ver, tão com a minha caminhonete ainda?
Agente- Ele disse que enquanto não dissesse "não, não tenho interesse" ele ia segurar. É o que ele me disse.
Vitima - Não, porque eu consegui uma grana e eu tô me virando, eu quero ela de volta.
Agente- Hoje até tô trabalhando. Não sei ... de repente tenta fazer uma contraproposta. Ele disse "olha, até mil acho que ele baixa". Eu se fosse tu tentaria mandar. Não sei quanto tu acha que consegue.
(...)
Vitima - Vê com ele se pode dar uma baixadinha.
Agente- Pois é, hoje vou falar com ele pessoalmente. Vou tentar fazer essa conversa. Por telefone eles têm medo que esteja grampeado, tanto que eles não quiseram... Eu pedi teu número pra negociar direto e ele "não, não, essa eu no caio mais" porque sabe que grava e bota a polícia no meio. Eles têm medo.
Vitima - Não vou precisar eu entregar pra esses caras, né?
Agente - Da forma que ele disse vai ter que ser eu, infelizmente, mas hoje eu converso com ele pessoalmente.
(...)
Vitima - E outra coisa, não vou ter problema nenhum de ter dar essa grana, mas é certo que essa caminhonete volta?
Agente- Isso é uma coisa que vou te garantir. Ele fez porque confia em mim.
Vitima - Ele confia em ti?
Agente - É. Se não é uma coisa que pra eles não vale a pena, da cadeia, em função desse conhecimento que a gente tem com eles, tratar com respeito, que ele tá fazendo, porque coração eles não têm, só pensam neles: "Vou desmanchar, vou vender".
(...)
Agente- Hoje ou amanhã eu te dou retorno. Hoje à noite não porque vai ser tarde, eles chegam depois das 20h30min, amanhã eu te falo alguma coisa, qual a posição mais certa.
30 de junho - Primeira ligação
Agente - Falei com ele e eu disse pra eles aguardarem até quarta que tu ia tentar arrumar o máximo que tu pudesse. Não dava certeza se ia arrumar tudo. Eu pedi pra ele (...) faz uns seis (R$ 6 mil) e diz eles "bom, vamos conversar, uns seis e meio, vamos ver".
Vitima - Então foi até interessante tu ter falado isso aí porque eu tenho em mãos uns cinco e meio e minha irmã me consegue e vai depositar na minha conta. Se o pessoal puder fazer seis e meio eu consigo.
Agente - Foi o que eu pedi. Ele me disse vê lá e vê o que conseguimos, né.
30 de junho - Segunda ligação
Agente - Mais ou menos ele falou e então seria assim: a hora que tu me entregar o valor eu ligo pra ele e eles liberam a caminhonete. Tu vai lá, olha se tá tudo em dia e daí só depois eu dou o dinheiro pra ele... Tu precisa de uma garantia também de que vai estar tudo em dia.
Vitima - Eu tô bem preocupado, queria resolver logo porque, enfim, garantia mesmo não tem nenhuma, só a tua agora.
Agente - Quanto a ele, ele é confiável, não precisa se preocupar. O respeito que ele tem por mim ele não ia fazer uma coisa dessas. Mas mesmo assim, como ele diz que não tá com ele, eu quero que tu veja antes se a caminhonete tá tudo em dia pra depois...
Vitima -Eu vou arrecadar o restante e nesse momento em diante já estou com essa quantia na mão. Só que eu não queria andar com esse troço.
Agente - Tu teria quanto?
Vitima - Eu teria seis (R$ 6 mil).
Agente - Seis tu teria? Eu vou ligar pra ele ver se por seis dá. E tu passa aí e já ajeitamos.
Vitima - Tu me da essa resposta logo?
Agente - Sim, eu ligo pra ele.