Problema com o convênio?
Pergunta para a Inelve.
Tabela de custos?
A Inelve te ajuda.
Dúvida no pagamento de um pedido?
A Inelve sabe como resolver.
Até janeiro de 2012, era a Inelve Dalla Bona Maurina, 58 anos, supervisora de faturamento do Hospital Pompéia, que muita gente recorria quando aparecia um problema.
>> Confira todo o conteúdo especial produzido
para os 100 anos do Hospital Pompéia
- Sempre fiz questão de fazer o melhor que pude no meu trabalho. Eu nunca tive condições de cursar faculdade, mas o que aprendi e o que ensinei fez com que eu conquistasse uma relação de confiança com outros hospitais, com os convênios, com a secretaria de Saúde e com os próprios funcionários do hospital. Muita gente se referia a mim com "a Inelve do Pompéia" - relata, orgulhosa, hoje aposentada após 38 anos de serviço.
Portadora de uma deficiência física que limita os movimentos de pernas e dos braços, Inelve ouviu ainda jovem que não poderia trabalhar na lavoura e que seu destino seria vir para a cidade grande estudar. Então, aos 20 anos, Inelve deixou a pequena Segredo, a cerca de 20 quilômetros de Antônio Prado, para tentar ingressar numa faculdade em Caxias. No currículo, trazia apenas o curso de Comércio (contabilidade). Na mala, três mudas de roupa e dois pares de sapatos.
- No início, fui morar numa pensão e cheguei a trabalhar como empregada doméstica, mesmo com as minhas limitações, para me sustentar. O pior foi encarar o preconceito, a falta de oportunidade. Primeiro, por causa do meu problema físico. Depois, porque eu não pude fazer curso de datilografia. Eu tinha o curso de Comércio (contabilidade), que fiz em Antônio Prado, e mais nada - recorda.
Cheia de vontade de trabalhar, de mostrar seu valor, Inelve tentou ser cobradora de ônibus e caixa de supermercado. As portas, porém, nunca se abriam.
- Por várias vezes, ajudei a responder perguntas dos colegas que procuravam emprego junto comigo. Mas, nas semanas seguintes, apesar de ter me saído melhor, sempre via os outros conseguindo o trabalho no meu lugar - revela.
Até que, em 1974, por intermédio de uma amiga que atuava no setor de enfermagem, Inelve conseguiu a chance de fazer um teste no Pompéia.
- De tanto eu insistir, me deram essa chance. Trabalhei uma semana e fui efetivada. Fiquei no faturamento por 18 anos até que, quando o novo administrador assumiu, em 1989, me promoveu a chefe do setor - conta.
Mesmo nos anos mais difíceis da instituição, quando o Pompéia acumulava dívidas e corria o risco de fechar, Inelve não abandonou o barco:
- Eu dividia apartamento com uma colega e, se a gente atrasasse o pagamento, eles cobravam uma multa que chegava a um terço do valor do aluguel. Por algumas vezes, quando o hospital atrasava o nosso pagamento uns quatro ou cinco dias, eu passava o dia todo chorando. Mas a gente sabia que o hospital não tinha a quem recorrer, não havia recursos. Eu aprendi muito, muito lá. A faculdade que não tive nos bancos de uma escola, eu tive no Pompéia.
Enquanto Inelve e sua equipe faziam sua parte no faturamento, iniciativas implantadas pela administração ajudavam a tirar o hospital da UTI. Surgiu o projeto Amigos do Pompéia e as unidades de negócios, que passaram a captar recursos para o caixa da instituição: laboratório de análises clínicas, tomografia, ressonância magnética...
- Administrar um hospital é uma coisa extremamente difícil. É preciso muita organização. E ainda é preciso levar em conta que lá se trabalha com o ser humano. É uma caixa de surpresas diariamente. As exigências dos órgãos de saúde são grandes e a própria população passou a não se envolver mais porque os convênios facilitaram tudo. Mas assim mesmo, a insatisfação é maior - afirma.
Experiências
Enquanto ganhava respeito e admiração dos colegas, a quem ensinou tudo o que sabia, Inelve também testemunhou muitas histórias de sofrimento que renderam lições para a vida.
- Para mim, deveria ser lei: todo adolescente deveria fazer um estágio em um pronto-socorro de hospital. Tenho certeza que nós teríamos muito menos acidentes, menos gente descontente consigo mesmo, menos gente reclamando do nariz assim, da orelha assado... Um estágio assim faria com que os adolescentes dessem muito mais valorizar à vida - filosofa.
Casada e mãe de dois filhos, Inelve diz que trabalhou tanto que quase nem sobrou tempo para cuidar da família e dela própria.
- Eu sinto uma saudade imensa de todos lá. O hospital é uma segunda família para mim, mas acho que estava na hora de parar. Há uns dois anos, eu disse ao administrador que queria reduzir a carga horária, não tinha mais como fazer o trabalho do jeito que eu queria. Eu estava cansada e não vencia mais - conta.
Nesse intervalo, Inelve precisou resolver um problema no ligamento do braço. Também se submeteu a uma cirurgia de redução de estômago em função dos quilos extras que ganhou e que lhe sacrificavam a coluna e as pernas.
- Passou o período das cirurgias e o administrador (Francisco Ferrer) me chamou, pouco antes de eu sair de férias. Ele me disse: "Agora chegou a hora. Tu já fez o que tinha de fazer. Na vida existe um começo, um meio e um fim. E agora tu precisa descansar, curtir a tua família, cuidar da tua saúde". Então decidi sair e não dei tchau para ninguém. Eu disse a ele que não tenho como pagar o Hospital Pompéia. Aqui foi onde eu me realizei, sem ter nenhuma faculdade, e também como mãe, porque tive estabilidade para criar os meus filhos - afirma.
E depois de quase quatro décadas servindo ao hospital, Inelve conta que deixou o prédio na Avenida Júlio de Castilhos com a cabeça erguida naquele janeiro de 2012, exatamente como prometeu ao administrador:
- Eu sempre caminhei com a cabeça baixa porque me desequilibro e caio, mas saí de nariz empinado, porque até o último dia em que estive lá dentro tive o prazer de resolver o que estava sob minha responsabilidade.
38 anos de serviço
"A faculdade que não tive nos bancos de uma escola, eu tive no Hospital Pompéia", conta a ex-supervisora de faturamento Inelve Dalla Bonna Maurina
Profissional se aposentou no começo de 2012
GZH faz parte do The Trust Project