A noite de quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024, é mais uma daquelas datas emblemáticas na história do Caxias. Dentro de campo, o time comandado por Gerson Gusmão voltou a apresentar um mau futebol e saiu vaiado pelos mais de dois mil torcedores que compareceram ao Centenário ao perder para o São José por 2 a 1. A derrota culminou com a saída do técnico grená. Mas nos bastidores, a direção do clube já trabalhava forte para encontrar um novo comandante. E o anúncio foi feito durante a madrugada: Argel Fuchs foi o escolhido.
A reportagem do Pioneiro elencou alguns momentos marcantes que antecederam a queda de Gusmão e o porquê a direção grená apostou suas fichas na volta de Argel para a casamata.
1. Última chance para Gusmão e os problemas na equipe
O quinto lugar na tabela não escondia as carências do time do Caxias no Campeonato Gaúcho. Uma defesa que foi vazada em todos os jogos. Um meio de campo que sofria constantes mudanças de peças, porque o treinador não conseguia encontrar atletas com poder de marcação e armação de jogadas. E um ataque reserva em campo por conta das lesões. Sem os titulares Galvan, Vitor Feijão (que ficou no banco e entrou no segundo tempo) e Álvaro, o treinador grená mandou a campo Zé Andrade, Gabriel Silva e Joel.
Inoperante na frente, o time ainda contou com a volta do contestado pela torcida Fabian Volpi debaixo das traves. Victor Golas teve uma lesão ligamentar no joelho durante a comemoração de um gol diante do Santa Cruz e está fora da temporada. O azar já havia entrado em campo e tirado uma das lideranças do time da competição. Com perfuração no intestino, o zagueiro Dirceu teve que passar por cirurgia. A série de lesões ainda atingiu Marcelo, Peu, Robinho e Emerson Martins (este último durante a partida com o São José teve um entorse no tornozelo ainda no primeiro tempo). Em determinado momento, o próprio Gusmão chegou a comentar em uma coletiva: "Parece que tem coisas que só acontecem no Caxias".
E mesmo diante deste cenário preocupante, o treinador tinha uma última cartada para fazer com que a equipe reagisse. O time chegou a ficar cinco rodadas sem vencer. Apenas o Grêmio havia sido derrotado pelo Grená na estreia. Mas a vitória diante do lanterna Santa Cruz, na sétima rodada, não apaziguou os ânimos da torcida, que protestou pela má atuação do time no segundo tempo.
Imaginava-se que o Ca-Ju, válido pela nona rodada, fosse a última chance para Gusmão defender o cargo. Mas a queda veio uma rodada antes, diante do São José. A derrota por 2 a 1, em casa, depois de mais uma atuação abaixo da crítica, mudou os rumos do comando técnico grená.
2. Pressão com direito a pipocas e decisão dos dirigentes
Na saída de campo após a derrota para o Zequinha, alguns torcedores chegaram a jogar pipocas em direção aos atletas. Aos gritos de "tem que sair todo mundo", jogadores e comissão técnica foram cabisbaixos direto ao vestiário.
Enquanto isso, um grande grupo de torcedores se posicionou à frente da saída dos veículos do estacionamento grená após o jogo. Eles protestavam e pediam a saída do vice de futebol Paulo Cesar Santos e do executivo Newton Drummond.
— Fora PC, Fora PC!", gritavam.
— Ganhar o Ca-Ju virou obrigação — dizia outro dos gritos de ordem.
O presidente Mario Werlang entrou em cena no protesto e falou com alguns membros da torcida. O mandatário grená chegou a prometer que "atitudes seriam tomadas já amanhã (sexta-feira)".
Na sequência, Werlang se dirigiu ao gramado do Centenário e parou para conversar com Neco Argenta, um importante conselheiro nas horas difíceis do clube e que faz parte das tomadas de decisões. Logo, juntou-se a eles o vice de futebol, Paulo Cesar Santos. Enquanto isso, o técnico Gerson Gusmão atravessou o gramado, passou em direção dos dirigentes e se dirigiu à sala de imprensa. Gerson ainda não sabia, mas dava pela última vez explicações por mais um insucesso de sua equipe.
Questionado se ainda se sentia seguro no cargo e capaz de reverter o cenário para o clássico Ca-Ju, da próxima segunda-feira (19), o treinador falou:
— É uma pergunta que tem que ser feita pra direção. Estou fazendo meu melhor. Às vezes, nosso melhor não é o suficiente. Vivo intensamente o clube e visto a camisa do Caxias. Sabemos que existem momentos ruins, de oscilação, de pressão. O dia que eu entender que o treinador não tem que passar por isso, eu estou na profissão errada.
Em seguida, o executivo de futebol Newton Drummond, que acompanhava a entrevista de Gerson e que não participou da conversa com os dirigentes no gramado, chegou a afirmar em sua coletiva: "Gusmão é o técnico para o Ca-Ju".
Às 23h50min, o clube divulgou uma nota comunicando a saída, em comum acordo, de Gerson Gusmão. E agradeceu o comandante por conduzir o clube ao acesso à Série C do Brasileiro, na temporada passada. Com ele, deixaram o Caxias o auxiliar Diego Albrecht e o preparador físico Carlos Eduardo Maus.
3. Escolha de Argel e remobilização para o Ca-Ju
O Caxias ficou oficialmente sem treinador por apenas uma hora. À meia-noite e cinquenta minutos, na virada de quinta para sexta-feira, a direção confirmou o nome do escolhido para substituir Gusmão: Argel Fuchs chega para sua terceira passagem pelo clube. As outras duas foram em 2009 e 2011.
O acerto com Argel foi rápido. O treinador era um dos poucos profissionais que aceitaria a missão de comandar a equipe já no clássico, justamente pela personalidade do técnico. Ele será apresentado apenas no sábado (17), devido ao clima ruim, o voo do técnico previsto para esta sexta-feira (16), foi cancelado. Ele fará sua reestreia diante do Juventude.
Mais do que qualquer escolha por preferências táticas, a direção entendeu que o grupo de atletas precisava de uma "sacudida forte no vestiário". Um treinador que chegasse para remobilizar o elenco e mudar o panorama para o clássico no Alfredo Jaconi. Com Argel, chega ao clube o auxiliar Glebson Robson Barroso de Lira, conhecido como Galego. Num primeiro momento, Tiago Cetolin, do setor de Saúde e Performance, volta a exercer o cargo de preparador físico.
Argel terá apenas dois treinamentos para confirmar a equipe para o Ca-Ju. Os problemas não são poucos, uma vez que o centroavante Joel foi suspenso pelo terceiro cartão amarelo e Álvaro ainda se recupera de uma lesão muscular na coxa.
E com tantas indefinições, Argel terá que escalar uma equipe que entre em campo para tentar derrubar o natural favoritismo que hoje o Juventude tem para vencer o clássico. O time caiu para a sétima colocação na tabela do Gauchão, com nove pontos. O treinador ainda comandará a equipe na Copa do Brasil - na primeira fase o clube visita a Portuguesa Santista, no dia 28 - e Série C do Brasileiro.