Mariana e Manuely Alves Pereira nasceram no mesmo dia. A paixão pelo tênis não.
— Comecei aqui na pousada esse ano, mas minha mãe me colocou na AMMA de Vacaria (Associação de Amparo a Meninos Assistidos) com seis anos. Praticávamos tênis uma vez por semana, pelas manhãs, com todas as outras crianças da sala. Eu não demorei muito pra me apaixonar pelo esporte. Minha irmã não gostava muito, mas depois foi mudando — revela Mariana, de 12 anos.
A gêmea Manuely levou um tempo, mas não parou mais de praticar logo depois da primeira raquetada. E mais do que uma atividade esportiva, pode ser o começo de uma vida melhor. Pra ela, a irmã e a família.
— Nossa família já passou por dificuldades. Eu gosto do que o Esporte oferece pra gente. Ele pode mudar tudo nas nossas vidas. Dar uma vida melhor e abrir oportunidades que outras pessoas não têm — apontou Manuely.
Depois dos primeiros contatos com uma quadra de tênis na AMMA, as duas meninas passaram a integrar o Projeto Lapidando Tenistas. A Pousada Santa Tereza inaugurou recentemente a sétima quadra de saibro, se tornando o maior complexo coberto do país.
As duas não sabem se vão fazer o sucesso que as também irmãs norte-americanas Venus e Serena Williams tiveram com o tênis. Mas o que as elas têm certeza é de que o que parecia apenas uma brincadeira, pode se tornar real. As duas admitem hoje:
— Eu quero ser uma tenista profissional.
Ligação familiar
Mais do que uma atividade física, o esporte é capaz de unir os corações de quem se deixa envolver por completo. Também é o caso das irmãs Luiza e Laura Barreto. As duas meninas de Vacaria não poderiam imaginar que o tênis aumentaria ainda mais a conexão entre elas.
— Eu jogo tênis desde os nove anos. Uma van nos traz cedo até a quadra. Quando as minhas amigas começaram a jogar, isso despertou o interesse em mim. Na verdade, eu nem sabia o que era tênis, mas quando comecei a praticar, criei o gosto pelo esporte — afirmou Luiza, de 14 anos.
A irmã mais nova também seguiu cedo o caminho das quadras.
— Eu pratico desde que tinha sete anos. Não treinava todos os dias. Só nas terças, quintas e sextas-feiras. Mas depois comecei a evoluir e passei a treinar todos os dias. Fico pensando às vezes se esse vai ser meu futuro porque eu gosto bastante. Meus pais apoiam muito e gostam de ver nós duas participando dos torneios — apontou Laura, de 12 anos.
As duas irmãs sabem que, mesmo que não levem a atividade a sério profissionalmente no futuro, já pavimentaram a estrada certa
— Eu ainda tenho algumas dúvidas sobre o que fazer no futuro, mas a minha ideia é continuar jogando. Acredito que isso vai me abrir muitas portas. Quero levar pra minha vida, independentemente do que eu fizer quando for maior —comentou Luiza.
Tênis cresce em Vacaria
Nem todas crianças do projeto Lapidando Tenistas vão se tornar atletas. Mas no futuro, ao fazerem uma escolha profissional, as jovens vão estar amparadas pela disciplina e conhecimento desenvolvidos com a prática da modalidade.
Um dos principais responsáveis pela expansão do tênis em Vacaria é o promotor de justiça e coordenador do projeto Lapidando Tenistas, Luís Augusto Gonçalves Costa. O núcleo faz parte de algo bem maior, o Lapidando Cidadãos, que atende quase mil crianças, a partir dos oito anos, da região e de outras cidades. A ideia é a transformação social e o crescimento de todas como atletas. Muitas delas vêm de entidades assistenciais e encontraram na prática do tênis um meio de melhorar de vida.
Conforme o promotor, a meta é de que o projeto tenha o dobro de crianças praticando tênis em 2024, chegando a duas mil. Ele ainda aponta que a tendência é de que em 2025 este número chegue a 3 mil atletas.
— É impressionante o número de pessoas batendo na nossa parte, interessadas em colocar as crianças no projeto. Começamos em 2016 e agora, com a inauguração da sétima quadra de saibro na Pousada Santa Teresa, passamos a ter o maior complexo coberto do Brasil — destacou Luís Augusto.
O projeto de Vacaria conseguiu trazer dois torneios internacionais pra cidade nos últimos dois anos. A organização ainda está em negociações com a Federação Gaúcha de Tênis para sediar a Copa RS 2024. Normalmente a competição é realizada em Porto Alegre e região metropolitana. Mas este pode ser mais um passo pra tornar Vacaria a capital do tênis gaúcho.