Fazer um exercício físico pode não ser tão fácil, até mesmo para atletas profissionais. Afinal, o desgaste em uma competição pode ser grande. Imagine então ter que correr, remar, pedalar e escalar em um percurso de 500 quilômetros numa região montanhosa, desconhecida e com altitude. Coisa de maluco? Não para quem vive com a adrenalina no corpo e faz desta uma aventura pra vida inteira.
É o caso da caxiense Renata Mariani, que participou de uma etapa do Mundial de Corrida de Aventura, realizado na Colômbia, no começo de junho. Renata era a única mulher da equipe Malacara, composta pelos atletas Alexandre Rossi, Benito Brocca e Marciel Soares.
— Faço corridas de aventura desde que tinha uns 19 anos. Eu venho de uma família que gosta muito de esporte. Hoje, 20 anos depois, já fiz umas 10 provas de 500 quilômetros. Eu me vejo sempre crescendo muito como pessoa, porque a gente acaba se privando de tomar banho, de dormir em lugares confortáveis. Acabamos dando valor pras coisas e para o que a gente tem na nossa vida. Depois de uma prova dessas, tudo fica melhor —admitiu a atleta, em entrevista ao Show dos Esportes, na Rádio Gaúcha Serra.
Participaram da etapa colombiana 19 equipes de países como Estados Unidos, Brasil, Colômbia, Argentina, Espanha, França, Costa Rica, México e Chile. Durante os 500 quilômetros de extensão, o percurso exigiu atividades de trekking, mountain bike, caiaque, rapel e navegação por cavernas.
— Ficamos 125 horas em atividade. De um domingo até a sexta-feira de madrugada seguinte. Fizemos todas essas atividades durante o dia e à noite, tentando dormir o mínimo possível pra conseguir terminar a prova em menor tempo. Foi um desafio e tanto, com 14 mil de altimetria acumulada, o que é muito. Mas a recompensa é enorme, pela natureza. É exuberante. Me senti no filme Jurassic Park. Não chega a ser uma altitude que deixa a gente sem ar. A gente respira bem. Mas é o finalzinho da Cordilheira. Não tem neve lá porque estivemos perto da Linha do Equador — destacou Renata, que ainda dá detalhes das paisagens que encontrou:
— Fizemos uma canoagem de 65 quilômetros remando num rio que não parecia que estávamos no mundo real. Do nada aparecia uma cachoeira gigante. E a gente remava mais um pouquinho e aparecia outra cachoeira. Depois a gente saía da canoagem, deixava o barco na areia e entrava numa caverna. Nem imaginava que existisse algo tão lindo, no meio do nada. Ficamos mais de 20 horas na canoagem não vendo outra coisa a não ser o rio, as cachoeiras e a caverna. A Colômbia é realmente linda. E as pessoas de lá foram muito carinhosas com a gente.
Lidar com o sono foi a parte mais difícil na trilha de Renata. A equipe dormiu apenas duas horas depois dos dois primeiros dias. E após 20 horas de atividades, outras duas horas. Mas o sono não é nada comparado com aquilo que a atleta caxiense já encarou:
— Já passei por momentos em que fiquei sem água, de não saber o que fazer com tanta sede e aí procurava buraquinhos na terra e tomava a água que estava ali. Em 2006, eu quebrei o braço numa prova, terminei ela mesmo com o braço daquele jeito. Chorando de dor, mas não quis deixar minha equipe sem um integrante. Já fiz pontos na mão de um amigo meu, que abriu depois de tocar em alguns espinhos. Fiz os pontos durante a prova e a gente continuou correndo.
Próximos desafios
A equipe Malacara surpreendeu e terminou a etapa do mundial na Colômbia com o sexto lugar. Os vencedores da prova ganharam vaga pra final do mundial. No final do ano, a última etapa será na África do Sul. Antes, em agosto, haverá uma nova prova no Paraguai. E pelos custos de uma viagem destas, Renata não deve se aventurar nesta.
— Ainda não sei se vou nessa pois envolve também a questão financeira. São muitos custos. Acho que nessa não vou. Mas no início de dezembro provavelmente vou participar do Sul-Americano. É uma prova válida do grupo principal. Ela também dá vaga para a final do Campeonato Mundial do ano que vem no Equador.
E depois da prova colombiana, Renata precisa de pelo dois meses de recuperação para participar de uma prova tão desgastante outra vez.
— Ainda estou tentando me recuperar. É bem puxado mental e fisicamente. A dificuldade aconteceu mais de noite quando chovia, a gente ficava com um pouco de frio. Mas não atrapalhava tanto como as bolhas nos pés, que ficavam sempre molhados. Acabou doendo bastante. Mas a diversão da equipe, com todos se ajudando, a gente cantava, ria e conseguíamos superar as dores.
Atualmente, Renata vive em Garopaba. A cidade catarinense oferece melhores condições de treinamento, especialmente pela etapa da canoagem. E mesmo se recuperando da última prova, a atleta caxiense já sonha com escaladas maiores:
— Meu sonho é correr uma prova de final de mundial, se possível com uma equipe competitiva e que fique entre as 10 melhores do mundo porque essa foi uma etapa classificatória só, mas uma final eu não corri.