O Juventude foi buscar na figura de um caxiense o papel de recuperar o prestígio diante dos adversários. Afinal, o clube vem de um ano ruim, dando vexame inclusive no último Campeonato Gaúcho, quando escapou do rebaixamento na rodada final, contando com a ajuda do rival Caxias. E o clube encontrou em Celso Roth, 65 anos, o treinador para ser o dono da casamata alviverde em 2023. Profissional que conhece como poucos o Campeonato Gaúcho.
— Conhecia né? — brincou Roth em coletiva.
Celso não comanda uma equipe no Gauchão desde o Inter, em 2011. O último jogo do treinador no certame foi o empate entre Lajeadense e Inter, em 1 a 1, em 2 de abril de 2011, pela 6ª rodada da Taça Farroupilha, o segundo turno do Estadual. A partida foi disputada no antigo Estádio Florestal, em Lajeado.
Em 2023, Roth e Juventude precisam restabelecer o namoro com o Estadual. O treinador está há quase 12 anos sem disputar o torneio e há seis temporadas não treinava nenhuma equipe. O clube veio de campanhas ruins nos últimos anos. Para que haja o casamento perfeito, o comandante alviverde prepara uma reconstrução no time.
— O Juventude tem essa noção de que no campeonato passado não foi bem. Esse ano temos que ter a perspectiva diferente. Temos três competições no ano. O Campeonato Gaúcho é uma delas, e é muito importante, apesar do nosso momento ser de construção de time, dos jogadores novos estarem chegando, se habituando à cidade. Por isso, a gente espera dar uma equilibrada técnica, tática e física nesse grupo. E que eles realmente demonstrem esse perfil e essa personalidade de fazer um bom campeonato — aponta Roth.
Técnico é bicampeão
Ao longo de sua passagem pela dupla Gre-Nal e por times do interior do Estado, Celso Roth levantou dois canecos de Gauchão. O treinador foi campeão com o Inter em 1997 e dois anos depois, com o maior rival, o Grêmio. Seu primeiro clube no certame foi o Brasil de Pelotas, em 1995. Um ano depois, Roth treinava o Caxias e conquistou seu primeiro título como técnico: a Copa Daltro Menezes, um torneio disputado por clubes do interior do Estado. A conquista chamou a atenção do Colorado, que resolveu dar uma oportunidade ao caxiense.
O Inter vinha sentindo na pele os efeitos da "Era Felipão" nos anos 90 pelo Grêmio. Roth montou um time desacreditado com jogadores da base, como o centroavante Christian e com atletas mais rodados, como Arílson e os paraguaios Gamarra e Enciso. O time desbancou o Tricolor, de Evaristo de Macedo, na final do Estadual e ergueu a taça.
A média de idade do grupo de jogadores do Juventude que inicia a disputa do Gauchão está em 24 anos. Enquanto os mais experientes estão no sistema defensivo, no ataque Roth terá que trabalhar com muitos atletas de 19 a 26 anos. Algo parecido que fez com aquele Inter e depois, com o Grêmio.
Em 1999, Roth levou o Tricolor, do jovem Ronaldinho, à conquista do Rio Grande, num memorável Gre-Nal decisivo, onde o craque driblou, canelou e deu balãozinho no Capitão do Tetra, Dunga, na final.
— Foram títulos muito importantes. Diferentes, mas importantes. A dupla Gre-Nal tem a sua história. Tive a possibilidade e a satisfação de trabalhar tanto num como no outro. São times que estão num patamar nacional e internacional, pelas conquistas que têm e certamente são as equipes favoritas para o campeonato gaúcho. Mas o Juventude está aí pra tentar fazer o seu melhor. E o seu melhor é ganhar títulos — destacou o treinador.
Além de recuperar a imagem ruim da temporada passada, fazer um bom Estadual, pode representar ao Juventude vaga na Copa do Brasil de 2024. Roth sabe do peso que o grupo carrega, mas não diminui a cobrança:
— O Juventude tem o seu lugar no Estado do Rio Grande do Sul. E esse lugar lhe pertence e tem que estar no mínimo entre os quatro na fase final.
Frases marcantes ao longo da carreira
O estilo turrão e a forte cobrança nos treinos, são apenas alguns dos detalhes que definem o treinador. Taxado de "retranqueiro" quando utilizou um volante a mais em uma de suas escalações, o técnico indagou:
— Se eu escalo dois volantes sou retranqueiro. Quando o Renato (Portaluppi) ou outro treinador escala três zagueiros e três volantes, vocês (imprensa) rotulam de quê?
O estilo Roth de comandar grupos, com as mais variadas peculiaridades, já pôde ser visto nos treinamentos no CT alviverde.
— O Roth tem a dosagem certa da cobrança, por vezes mais forte e pessoal, dentro do grupo. E isso não causa mal estar, ele tem o respeito dos atletas. O trabalho no campo não tem nada de defasado. A tendência é a gente fazer um bom trabalho — declarou Luis Carlos Bianchi, diretor de futebol alviverde.
Homem de confiança de Roth no grupo, o volante Jean Irmer admitiu surpresa ao ver de perto o estilo de trabalho do treinador:
— É bom ter um treinador assim para orientar este grupo jovem. O Roth sabe ser lúdico, transfere no campo aquilo que pensa. Muitos falam que ele é atrasado, mas me surpreendeu porque ele não é nada disso — analisou.
Direto e objetivo, o treinador acumula também algumas frases marcantes durante a carreira. Confira algumas delas:
— Ninguém é vencedor se não perder — Durante os últimos seis anos, quando não trabalhou em nenhum clube, Roth disse que a vida é assim, se perde mais do que se ganha, só os dirigentes brasileiros não enxergam isso.
— Aqui ninguém é apartamento! Vão fazer do meu jeito — Disse em um treino, para que os atletas se movimentassem mais, na passagem pelo Grêmio, em 2011.
— Não pode sair daqui!, Chega junto!, Não dá porrada sem a bola!, Tá querendo preservar o corpinho?— Roth gritava aos atletas do Vasco, logo no primeiro treino, na passagem por São Januário, em 2010.
— Desde que iniciei a carreira falo em buscar o equilíbrio do time, tem muita gente aí copiando — Como técnico do Juventude, em dezembro de 2022, Roth falou sobre a fama de retranqueiro e ponderou que busca um time equilibrado, não defensivista.
A história do Juventude de Celso Roth, certamente com novas frases de efeito, passa a ser escrita no sábado, às 19h, contra o Inter, no Beira-Rio.