Com três jovens que ainda não completaram os 19 anos, Caxias do Sul pode entrar de vez no mapa dos Jogos Paralímpicos. Para chegar a este momento, uma semente foi plantada há dez anos. Em 2012, em um fórum municipal de esportes, foi sugerida a criação de um setor específico para o paradesporto na cidade. Assim, foi criado o Setor de Paradesporto e Inclusão dentro da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Caxias do Sul.
Gabriel Citton, secretário da pasta, revela que a Universidade de Caxias do Sul foi uma das primeiras a acreditar no movimento, com o Centro Integrado de Pessoas com Deficiência (Cidef). O basquete em cadeira de rodas foi o primeiro propulsor.
— Não é que atribuímos esse momento vivido ao que está acontecendo, mas um dos grandes passos foi ter um setor de paradesporto, que explicasse para os técnicos e as pessoas as possibilidades do paradesporto. Tem muitas peculiaridades que os técnicos das modalidades convencionais não sabiam e acabaram descobrindo. Os profissionais não têm medo de trabalhar com as pessoas. Hoje, eles veem como uma oportunidade — argumentou.
Ao longo dos anos, o setor vem quebrando os tijolos de algumas barreias para se fortalecer. Citton explica que a pasta se dedica na formação de profissionais e na qualificação para trabalhar com os paratletas.
— Tem alguns momentos de cursos, formação e qualificação para quem não tinha experiência. Segundo, não trabalhamos com alto rendimento, mas sim com a iniciação esportiva. E o principal é trazer pessoas, principalmente do Comitê Paralímpico Brasileiro, para fazer a formação com os técnicos de várias modalidades. A barreira coloca a pessoa na defensiva. Isso acontecia com os treinadores. O setor de paradesporto vem para quebrar tijolo por tijolo essa barreira — disse Citton.
NO CAMINHO CERTO
Formado em Educação Física, Tiago Frank, 39 anos, é o atual responsável pelo setor do Paradesporto e Inclusão da prefeitura. Em 2016, o profissional esteve como técnico da Seleção Brasileira Masculina de Basquete em cadeiras de rodas nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro. Ele explica que o setor tem um vínculo muito social, pois procura desenvolver jovens talentos.
—Atendemos algumas modalidades, como bocha e natação paralímpica. Também fazemos intervenções junto a instituições que carecem de profissionais de educação física, com atendimento e atividades paradesportivas, psicomotoras, bem como de educação física adaptada. Somando as entidades, no mês de setembro tivemos 284 participantes nas diferentes atividades e modalidades. Assim, vamos observando possíveis atletas também — declarou Frank.
A participação de um atleta formado em Caxias do Sul em uma Paralimpíada seria algo inédito. Desde 2008 trabalhando com o paradesporto, Frank disse sonhar com o dia em que esse objetivo se concretize.
— Historicamente, Caxias nunca teve representatividade em edições de Jogos. Tivemos atletas com passagem por seleção, campeonatos de jovens e desenvolvimento, mas nunca em edições. Então, essa era uma inquietação minha — comentou Frank
Com Maria Eduarda Stumpf (taekwondo), Larissa Rodrigues (natação) e Marcelo Casanova (judô) na briga por vagas em Paris 2024, o secretário Gabriel Citton valoriza a trajetória dos últimos anos de valorização dos paratletas.
— Isso mostra que estamos no caminho certo. São três possibilidade, duas muito fortes, mas que coroam todo esse trabalho, não de apenas uma pessoa, mas de várias. É um fenômeno importante de Caxias — afirmou Citton.
ACESSIBILIDADE
Ainda que a cidade esteja na direção correta, os agentes públicos sabem que é preciso evoluir em vários pontos. Caxias do Sul precisa progredir quando o assunto é acessibilidade no paradesporto. E essa não é uma exclusividade apenas do município da Serra. O país precisa de mais políticas voltadas ao setor. O coordenador Tiago Frank elenca alguns pontos:
— Penso primeiro que é a estrutura. Uma estrutura adequada para iniciação em diferentes aspectos. Conhecimento de profissionais que reconheçam o movimento paralímpico. Estrutura física que ofereça condições adequadas para as pessoas treinarem. E o suporte financeiro. Mas a primeira barreira na cidade é o profissional habilitado e capacitado para trabalhar com a especificidades de uma modalidade paradesportiva — afirmou.
O secretário Gabriel Citton também reconhece algumas carências, mas enfatiza que a cidade evoluiu na acessibilidade:
— Não só Caxias do Sul, mas a barreira da acessibilidade está em nível nacional, estadual e municipal. Poderíamos estar muito mais acessíveis nos ginásios, prédios e edificações. Tudo é uma barreira, mas é importante tentar melhorar e ajustar. Estamos evoluindo. Em alguns momentos a passos largos e outros nem tanto, mas evoluímos nesses últimos anos.
A evolução vai além da parte estrutural. Quem trabalha com paradesporto também precisa se adaptar com a condição do paratleta. O técnico Daniel Brisotto trabalha com Maria Eduarda Stumpf, no taekwondo. Em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra, ele descreveu que isso não se aprende nos bancos acadêmicos.
— Todo o treino é adaptado. Principalmente na parte física. Fazemos alguns exercícios rotineiros, mas chega na parte específica, por causa da lesão, a gente tem que ter algumas adaptações. Isso não tem em livro, não aprendemos na faculdade. Aí vai da tua experiência na educação física e adaptar sem colocar em risco a integridade física (do paratleta). Você tem que criar exercícios e adaptar. Esse também é o grande barato de trabalhar com paradesporto — refletiu o treinador.
ÚLTIMO CAPÍTULO
JUVENTUDE E EXPERIÊNCIA, O PARADESPORTO SEM IDADE
:: Não há idade para entrar no paradesporto. O primeiro passo é ter força de vontade de fazer do esporte o diferencial na sua vida. Da juventude de Bruna Dondé, paratleta da bocha, ao experiente canoísta Jair Aguiar, que chegou a ser desenganado pelos médicos.