Paul Henry Heumo Loundjeu, 19 anos, é camaronês, e é uma das promessas do Juventude para a disputa do Campeonato Brasileiro de Aspirantes. O Papo estreia na quinta-feira (17), às 15h, contra o Fluminense, no Estádio Homero Soldatelli, em Flores da Cunha. O atacante se destacou no Nação Esportes, clube catarinense fundado em 2019 com foco nas categorias de base e que conseguiu o acesso para a Série B do Catarinense.
— O Paul já está com a gente há uns dois ou três meses. Ele tem mostrado muita evolução. É um jogador muito inteligente. Ele fala três ou quatro idiomas e entende o português muito bem. Tem se mostrado muito bom atleta e dedicado nos treinos. Ele é um fazedor de gols, centroavante, camisa 9, muita força, potência e velocidade. Ele tem nos chamado a atenção no dia a dia de trabalho. Por ele ser inteligente e entender o que pedimos, tem se adaptado rápido — disse Roberto Maschio, técnico do time de Aspirantes do Juventude.
Em 2019, Paul Henry marcou 39 gols pelo time sub-17 do Nação Esportes. O camaronês atua como centroavante, mas tem mobilidade e um chute forte. Tudo isso chamou atenção do Juventude. Além disso, em 2018, ele participou do Torneio de Montaigu, na França, pela Seleção sub-17 de Camarões, que enfrentou o Brasil. O Ju também buscou informações junto a pessoas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
— O departamento de base tem relacionamento muito bom com bastante gente do Brasil para trazer jogadores. Desde 2019, tentamos trazer alguns africanos, mas por questão de documentação e, 2019 e 2020 foram anos difíceis para nós por conta dos custos de transferência internacional. Agora, em março combinamos de mandar o material e recebemos o material do Paul. Têm mais dois ou três jogadores que não trouxemos ainda por conta da janela, que reabre em agosto. O profissional se encantou com o jogador, mas vamos ver na prática — comentou Lucio Rodrigues, gerente de futebol das categorias de base do Juventude.
Quem é Paul Henry
Paul Henry atuava pelo EACAF (Ebenson ACAdemy of Football) em Camarões, onde ficou entre 2015 e 2018. Depois disso, ele chegou ao Brasil em setembro de 2018, através de um empresário camaronês naturalizado brasileiro. A primeira experiência foi no Cruzeiro aos 16 anos. No entanto, pela idade não poderia jogar. Apenas fez treinamentos durante um período.
— Eu estava treinando lá em Camarões e surgiu a possibilidade de jogar pela Seleção camaronesa sub-16. Tinha um campeonato na França, bem conhecido, que é como um Mundial. Em março de 2018, fui jogar esse campeonato. Tinha Brasil, Argentina, Portugal, França, Rússia. Depois desse campeonato, eu ganhei um empresário. Ele é um camaronês que se naturalizou brasileiro. Ele me assistiu jogando e me trouxe para o Brasil — comentou Paul, que completa:
— O empresário me trouxe para o Cruzeiro. O Cruzeiro assistiu meu DVD do campeonato da França e me convidaram para ficar uns meses. Eu tinha 16 anos e não podia jogar no Brasil. Era para me avaliarem, se quando eu fizesse 18 anos, eu poderia jogar. Depois de três meses no Cruzeiro, eu tive que voltar para o meu país. Eu tinha quase um mês no Brasil ainda e quando estava indo para São Paulo, aí eu fui para um time de Santa Catarina, chamado Nação Esportes. Joguei um campeonato, fui artilheiro e voltei para Camarões.
Então, Paul foi para a Seleção sub-17 e se machucou no tornozelo. Durante um mês ficou sem poder jogar. Em maio de 2019, o Nação Esportes trouxe o atacante de volta ao Brasil. Na metade do ano passado foi jogar a Série C pela Tombense. No entanto, questões contratuais e da janela de transferências impediram ele de atuar no clube mineiro.
— Fui aprovado, treinei, mas na hora que o treinador queria me utilizar, como eu não tinha contrato, o Nação Esportes me trouxe de volta. Se eu estreasse na Tombense, sem ter contrato com o Nação Esportes, ia perder tudo. Tive que voltar ao Nação para fazer os documentos, mas a janela de transferências internacionais estava fechada. Fui visitar a família e voltei ao Brasil em março. Fiz o contrato com o Nação e vim para o Juventude — disse Paul.
No Juventude, terá a oportunidade de jogar o Brasileiro de Aspirantes.
— Eu vim para fazer um mês de testes, mas acabei fincando. Desde do primeiro dia, o treinador Roberto me recebeu bem. Foi tudo muito diferente dos outros times que passei. Me senti muito bem. Eu me sinto amado pelas pessoas. Os companheiros me receberam muito bem também. Tudo isso ajudou a eu ficar sem medo. A preparação foi forte. Tenho que agradecer o Juventude pela oportunidade. Não é todo mundo que dá essa chance. Desde o começo fui muito bem recebido, como nunca fui em outros times. Aqui tudo foi diferente. Me senti como se sempre estivesse aqui — comentou.
Infância com dificuldades
Paul nasceu em 30 de março de 2002 em Duala, a maior cidade dos Camarões e a capital econômica do país. A infância foi com dificuldades. Sua mãe teve seis filhos, dois meninos e quatro meninas, e o pai abandonou a família. Paul ajudava a mãe a vender comidas e no trabalho de faxineira.
— Minha vida não foi muito fácil, porque minha mãe criou seis filhos sozinha. Nosso pai nos abandonou quando eu tinha sete anos. Não foi fácil para a minha mãe. Ela batalhou muito, mas a gente ajudava ela. Minha infância não foi fácil. Tive que trabalhar muito na escola e treinar para chegar a chegar esse nível. Eu acompanhava minha mãe, em todas as coisas que ele fazia e ajudava. Eu sempre fiquei muito perto dela.
Na família, Paul tem um irmão mais velho que tentou jogar futebol e até tinha o de um famoso atleta francês.
— Meu irmão jogava futebol, mas teve que parar para ajudar a mãe a sustentar a família. Ele era um bom jogar. O apelido dele era Erick Cantona, francês que jogou no Manchester United. Chamavam ele de Kaká também — revelou.
Paul Henry é fã do atacante belga Romelu Lukaku. O atual corte de cabelo do camaronês é inspirado no jogador da Inter de Milão.
— Sou fã do Lukaku. Quando eu comecei, ele estava no Anderlecht, agora está na Inter. Hoje, uso o cabelo que ele tinha no Anderlecht. Eu sempre segui ele. Ele é meu ídolo. Eu gosto do estilo de jogo dele. Ele usa muita força e eu também — comentou Paul, que finalizou sobre o seu sonho:
— Meu sonho é estourar e poder jogar profissionalmente a Série A do Brasileirão e dar o melhor para a minha família. Meu sonho também é jogar na Europa.