Das micro às gigantes. Com um funcionário ou milhares. Criadas em Caxias do Sul ou em outra cidade. Presentes apenas na terra em que surgiram ou com filiais espalhadas pelo mundo. Assim é composta a variada indústria caxiense. A cidade que é o segundo polo metalmecânico do país também contempla uma variedade quase incontável de segmentos industriais. Por aqui, é possível encontrar produtos para a cadeia leiteira, uma fábrica que trabalha exclusivamente com orgânicos e até uma linguiçaria artesanal. O setor chamado de motor da economia caxiense estará em festa na próxima quinta-feira (25), quando se comemora o Dia da Indústria.
Esse cenário diversificado e pujante é resultado de um reconhecido espírito empreendedor que se mistura à história local. Falando nisso, o Perfil Socioeconômico de Caxias do Sul lembra: foi a partir do final da década de 1960 que ocorreu a consolidação da indústria automobilística, o que proporcionou uma expansão da região. É um marco para Caxias, que tradicionalmente estava atrelada à vitivinicultura. "As indústrias de Caxias do Sul passaram de fornecedoras de peças e componentes para fabricação de produtos de alta qualidade, um feito que passou a refletir no setor de comércio e serviços, destacando-se como um centro de referência no segmento metalmecânico para a Serra Gaúcha", pontua o documento.
A indústria representa 18% do número de estabelecimentos instalados em Caxias do Sul. Os dados mais recentes são de 2021. A cidade tinha um total de 66.943 empreendimentos, o que significa que cerca de 12 mil são indústrias. Apesar da representatividade e da importância que a indústria tem para a cidade, os desafios não param de surgir. E eles são também diversificados. Vão dos mais recentes, como a desorganização das cadeias de abastecimento mundial, até antigos conhecidos, como as dificuldades logísticas regionais. Mas é interessante notar como, independente do porte dos empreendimentos, existe uma preocupação específica com a mão de obra, seja a imediata ou a para o futuro.
O desafio da mão de obra
Segundo o vice-presidente de Indústria da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC), Ruben Bisi, a escassez afeta a mão de obra especializada, mas até pouco tempo altamente disponível, como soldadores, montadores e pintores para a indústria metalmecânica. De acordo com ele, essa não é uma exclusividade de Caxias do Sul:
— Estamos vendo que a pandemia trocou o perfil dos empregados. Tem muita gente que não quer mais trabalhar na indústria. Então, aquela mão de obra especializada que nós tínhamos não existe mais. Aqueles desempregados que teve quando nós demitimos na crise anterior já foram embora, migraram para outras regiões. Hoje, nós temos pessoas despreparadas que precisa treinar, e isso leva tempo até termos todo esse quadro preenchido — explica.
Estamos vendo que a pandemia trocou o perfil dos empregados. Tem muita gente que não quer mais trabalhar na indústria. Então, aquela mão de obra especializada que nós tínhamos não existe mais
RUBEN BISI
VIce-presidente de Indústria da CIC
A percepção de quem está à frente das empresas é mesmo de uma influência direta na pandemia em relação aos trabalhadores. O CEO das Empresas Randon, Sérgio L. Carvalho, pontua que, entre os aspectos mais desafiadores para a indústria, está a relação dos funcionários com a própria saúde:
— Um deles (desafios) têm a ver com um aprendizado que veio com a pandemia, onde se elevou a importância das empresas ao lidar com a saúde física e mental dos colaboradores. Nós já tínhamos muitas empresas, que é o caso das Empresas Randon, lidando com as pessoas como um valor, mas essa pandemia, sem dúvida nenhuma, mudou a régua e passou a ser uma questão ainda mais importante do que já era de nós cuidarmos dessa saúde física e mental, termos um ambiente sadio e, com isso, conseguirmos atrair e manter a força de trabalho que é tão importante para que se desempenhe bem no futuro.
A formação e retenção de mão de obra é, portanto, um ponto central para as empresas. E, se o momento já é de dificuldades, a tentativa é tentar amenizar o problema no futuro, com a tendência de que as exigências de conhecimento técnico sejam ainda maiores por conta da robotização.
— Daqui a 10 anos, não vamos mais ter espaço para quem não for especializado. As empresas estão se modernizando em uma velocidade muito grande e nós precisamos de mão de obra especializada. Nós, infelizmente, por uma questão de educação básica, pelos governos não olharem para isso, não preparamos nossos jovens para esses acontecimentos que já estão aí, a Indústria 4.0, já está se falando em Indústria 5.0 — comenta o presidente do Sindicato da Indústrias Metalúrgicas, Metalmecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região, Paulo Spanholi.
Termos um ambiente sadio e, com isso, conseguirmos atrair e manter a força de trabalho que é tão importante para que se desempenhe bem no futuro
SÉRGIO L. CARVALHO
CEO das Empresas Randon
O diretor de Estratégia e Transformação Digital da Marcopolo, Paulo Ledur, adiciona que as organizações terão o desafio de atrair e manter profissionais alinhados à cultura da empresa. Ele diz, "sem medo de errar", que as pessoas são o principal desafio das organizações:
— As pessoas são o grande desafio para que a gente possa inovar, para que a gente possa transformar nossos negócios, para que a gente possa continuar crescendo, para que a gente acompanhe as mudanças externas que estão acontecendo ao nosso redor, não só no ecossistema da região, mas falando em nível mundo mesmo. As pessoas certas com a cultura adequada a essa mudança, na minha visão, é o caminho de pedras.
Mais desafios
Desafios de curto prazo
Embora diversificada, grande parte da indústria caxiense gira em torno dos segmentos metalmecânico e automotivo. Por isso, as dificuldades dessas áreas são particularmente importantes para a região. O poder desses setores significa que eles se relacionam não só localmente, mas também com o cenário nacional e internacional. Há, assim, uma influência direta de aspectos como a desorganização das cadeias de abastecimento mundial provocada pela pandemia, pelos ainda constantes lockdowns na China e pela guerra na Ucrânia, por exemplo. Com isso, há falta de componentes ou aumento significativo dos custos.
Aliás, um componente importante que tem sido recorrentemente escasso para essa indústria são os semicondutores, problema que envolve uma série de eventos internacionais, incluindo a própria pandemia. Já em relação aos insumos, uma preocupação constante tem sido com o aço. O presidente do Simecs, Paulo Spanholi, diz que os custos se elevaram 30% apenas neste ano.
Segundo o vice-presidente de Indústria da CIC, Ruben Bisi, existe hoje também uma preocupação com a elevação da taxa básica de juros, a Selic, o que implica crescimento das taxas praticadas no sistema de financiamentos. Outro aspecto que influencia nos investimentos nesse ano são as eleições. É comum que, em períodos eleitorais, os empresários fiquem mais receosos, por causa da expectativa em relação a políticas
econômicas.
Desafios de sempre
A logística continua figurando entre uma das dificuldades encontradas pelo setor industrial na região. O transporte de cargas é feito basicamente por estradas, que, além de não serem duplicada para as principais ligações do Estado, estão costumeiramente esburacadas e mal sinalizadas.
— Não temos rodovias duplicadas, não temos ferrovias, não temos portos, nosso aeroporto não dá vazão na questão da carga. Então, não estamos conseguindo atrair novos investimentos, e os que estão aqui estão sempre em dúvida: será que eu saio, será que não saio? — resume Bisi.
A evolução da indústria está sendo muito rápida e com robustez, principalmente na questão de processos de industrialização
PAULO SPANHOLI
Presidente do Simecs
O presidente do Simecs aponta ainda o fato de que o Rio Grande do Sul fica em um extremo do país, enquanto o Sudeste e o Centro-Oeste são regiões de importante consumo para os produtos feitos aqui:
— Muitas empresas daqui estão pondo suas filiais e mudando alguns processos e segmentos mais para o centro do país por questões logísticas.
Desafios para o futuro
Inovação é, provavelmente, uma das palavras mais pulsantes na mente do empreendedor que está pensando no futuro. No Simecs, a preocupação é em auxiliar micro, pequenas e médias empresas a compreender a Indústria 4.0:
— As nossas empresas, principalmente, de médias para pequenas, muitas não sabem nem o que é Lean (uma filosofia de gestão), nem o que é Indústria 4.0. A gente está muito preocupado com isso. A evolução da indústria está sendo muito rápida e com robustez, principalmente na questão de processos de industrialização.
A tecnologia também está presenta na oferta de produtos da indústria de Caxias, como no caso da Randon, que obteve a regulamentação pelo Conselho Nacional de Trânsito de um semirreboque com eixo elétrico para caminhões na semana passada.
— Temos investido muito em inovação e tecnologia como forma de nos diferenciarmos e aproveitarmos as oportunidades disponíveis, como forma de trazermos sustentabilidade para nossas empresas — explica Sérgio L. Carvalho, CEO das Empresas Randon.
Os conselhos dos gigantes
Duas das empresas mais importantes de Caxias do Sul enfrentaram momentos diferentes durante a pandemia. À Randon, impulsionada pelo setor agrícola, têm tido recorrentes os bons resultados, enquanto a Marcopolo, devido à redução do turismo e do uso do transporte público, enfrentou um cenário mais difícil. O certo é que as duas gigantes seguem em constante amadurecimento enquanto empresas e têm importantes lições para os empreendedores.
Precisamos é construir esse contingente de pessoas adequado à realidade de cada negócio
PAULO LEDUR
Diretor de Estratégia e Transformação Digital da Marcopolo
Na Marcopolo, houve uma chamada para interessados em se voluntariarem em projetos de inovação. O primeiro encontro virtual foi há cerca de 60 dias, e hoje são 320 voluntários envolvidos. Como consequência, também estão sendo privilegiados para qualificação e participação em eventos.
— Precisamos é construir esse contingente de pessoas adequado à realidade de cada negócio. A Marcopolo está trabalhando muito forte mesmo os aspectos de inovação — comenta Paulo Ledur, diretor de Estratégia e Transformação Digital da Marcopolo.
Os representantes dos dois grupos empresariais mencionam a preocupação com as pessoas. Sérgio Carvalho, CEO das Empresas Randon, adiciona ainda como desafios a criação de modelos de negócios mais robustos e resilientes às oscilações de mercado, com atuações variadas, e a melhoria da competitividade. Sobre esse ponto, ele destaca que a inflação mundial pode se tornar uma oportunidade para a indústria nacional.
— Nós, as Empresas Randon, mas também os empresários de uma maneira geral desenvolveram uma habilidade em lidar com problemas inesperados de inúmeras naturezas, problemas muito relevantes, como a própria pandemia há dois anos e pouco, a falta de capacidade das empresas produzirem, problemas de abastecimento, essa loucura da logística internacional marítima afetando muitos negócios, inflação mundial em alta agora com perda do poder aquisitivo, aumento de custos com financiamento. Mas a Randon e os empresários mostraram uma resiliência ao lidar com esses desafios e ao superar os desafios.
Atraídos para Caxias pela força industrial
A força do polo industrial caxiense é um dos motivos que implica a atração de mais investimentos. Em 2002, a decisão de Camila Lairihoy de estudar Administração na Universidade de Caxias do Sul (UCS) fez com que o pai dela, José Lairihoy, conhecesse o município e, devido à diversificação que encontrou, decidisse trazer para a cidade da Serra a Openway, que até então ficava em Santana do Livramento. A família uruguaia se fixou em Caxias e, por aqui, abriu novos caminhos, assim como os imigrantes italianos colonizaram a região.
No município da Fronteira Oeste, a empresa criada em 2000 atuava como uma distribuidora de componentes de ordenha, importando produtos da Europa e dos Estados Unidos. Mas, em Caxias, Lairihoy decidiu investir em moldes para transformar a empresa em uma fábrica, o que aconteceu entre o final de 2002 e início de 2003. Hoje, segue atuando das duas formas, mas a produção própria corresponde a 90% da receita do empreendimento. Rafael Nogueira, que integra a equipe comercial da Openway, explica como ocorreu essa adição de atividades na empresa:
— Foi pelo empreendedorismo, pela inovação. O proprietário da empresa fazia pesquisas, viajava para a China, para feiras na Alemanha, Itália, Espanha, Estados Unidos, olhava o que tinha de novidade no mercado, trazia essas ideias e aplicava aqui. Aí ele constituiu uma matrizaria que é dele mesmo, da fábrica, e começou a fazer moldes de inovação, próprios da Openway, que não existem em outras fábricas do mesmo segmento. Então, essa exclusividade incorporada à inovação e ao empreendedorismo transformou a Openway em uma marca singular de componentes.
A inovação, aliás, segue na base do negócio. A empresa atende principalmente o mercado brasileiro, mas também exporta para alguns países da América Latina. Os clientes das nações da região entre o Uruguai e a Colômbia compram o medidor eletrônico, um produto desenvolvido na matrizaria da própria empresa, que faz o controle leiteiro individualizado. Com isso, é possível monitorar quais vacas são as mais e as menos produtivas, permitindo aos donos tomar decisões estratégicas em relação ao rebanho:
— É uma inovação da nossa empresa. Não tem outro igual ao formato que nós temos desse produto. Concorrentes têm, mas com outro tipo de instalação. O nosso é mais enxuto, é mais fácil de instalar, tem menor custo de manutenção, e a medição é mais precisa e constante, porque o acionamento é mecânico — detalha Nogueira.
Equipamentos para o mercado de ordenhas
O medido eletrônico para controle leiteiro individualizado é um dos produtos de linha de frente da empresa de médio porte, junto com o extrator automático de ordenhas, que permite detectar quando a vaca para de liberar o leite e retira o conjunto do animal por conta própria. A tendência é que nessa área, assim como em outras, novas tecnologias não parem de surgir. São desafios que têm feito parte dos diferentes ramos da indústria. Mas, para além disso, existem aspectos a serem anotados, como a valorização de cadeias de produção.
— O produtor brasileiro preciso de uma atenção maior das políticas públicas, para que ele tenha os acessos às suas fazendas asfaltados, tenha condições de produzir por menor custo, que ele tenha um valor pelo leite produzido realmente qualificado para que deixe a atividade dele sustentável. A cadeia do leite é a mais democrática que existe no segmento de construção de valor, porque todos os municípios do Brasil têm chácaras e vacas produzindo leite. Uma vez que essas vacas geram leite, elas geram receitas para esses municípios. Um produtor forte faz toda uma indústria e todo um sistema de produção forte também —assinala Nogueira.
Inovação nos produtos oferecidos pelos pequenos
Quando se fala em inovação, é comum fazer um paralelo com tecnologia. Mas existem muitas formas de usar esse conceito, inclusive trazendo produtos ainda escassos no mercado local. Em 2019, Maurício Lourenço Antunes e um grupo de amigos decidiram participar do Homens na Cozinha, evento beneficente em Caxias do Sul, com um prato que levava linguiça. Sem encontrar o produto com características artesanais, Antunes decidiu fazê-lo em casa. Aprovada, a receita passou a ser reproduzida para família e amigos. Foi assim que ele percebeu que haveria um mercado possível para esse consumo. A TUT's Linguiçaria Artesanal foi cadastrada em 2020 e aberta com o selo sanitário em 2021.
Hoje, a empresa produz sete sabores de linguiça, em um total de cerca de 800 quilos por mês. As vendas estão concentradas em Caxias do Sul e região. Antunes, que atua também como designer gráfico, atividade que desenvolvia antes de abrir a empresa, conta que, junto com o desejo de empreender, apareceram os desafios a serem superados:
— No início, nos faltou muito conhecimento técnico, porque, ao abrir um negócio, tu busca várias respostas, mas tem tantas outras perguntas que tu não imaginava.
Além disso, microempreendedor individual pode experimentar outras dificuldades, que envolvem desde o custo dos insumos até a concorrência com produtores irregulares, passando pela necessidade de conquistar a clientela para os embutidos artesanais que acabam custando mais caro que os industrializados:
— Esse tipo de produto para o mercado caxiense é um produto novo, com menos conservantes, sem corantes, sem emulsificantes, sem toda aquela química que tu estufa quando tu come. E, por ser um produto artesanal, a gente produz uma por uma, a gente vai embutindo e vai separando elas em 500 gramas e vai selando. Então, é um produto bem artesanal, bem trabalhado. A matéria-prima que usamos é de primeira. Então, a gente já começa com custo de matéria-prima alto. O custo acaba se tornando um pouco acima do que o consumidor está acostumado a pagar.
Enquanto passa pelas adversidades ao iniciar um negócio, o empresário também aponta para o desejo de aumento da produção. A ideia é logo chegar a mil quilos, por mês.
— A gente tem uma aceitação bem bacana em restaurantes, em pubs. Então, por um lado, a gente tem custos altos de produção e baixa venda por falta de um mercado maduro para esse tipo de produto. Por outro lado, tem uma aceitação da gastronomia que é muito bem-vinda. Então, uma coisa equilibra a outra.
Em família, em expansão e atualização
Do porão para o pavilhão próprio, de pai para filho. Essa é a história de muitas indústrias de Caxias do Sul. O início difícil, a prosperidade e a continuidade do negócio em família. Um dos exemplos é a CN Indústria Mecânica, fundada em agosto de 1991 por Celso José Gaio, pai de Rafael Gomes Gaio. O filho, desde 2001, é sócio da empresa e, em 2017, assumiu a gerência da indústria no lugar do patriarca, que decidiu se aposentar e viver na propriedade rural da família em São Giácomo.
Originalmente agricultor, Celso deixou a atividade na década de 1980, após uma seca atingir fortemente a produção rural. Tornou-se torneiro mecânico em empresas reconhecidas de Caxias, até que, pelo empreendedorismo que pulsa nas veias dele, decidiu alugar uma parte de um porão de um familiar e instalar um torno.
— A gente sempre esteve em expansão, razoavelmente pequena, mas sempre estivemos em expansão, porque, mesmo quando a gente estava no porão, a gente começou alugando um quarto do porão e, depois, fomos para mais ou menos meio porão, e a gente comprou e trocou algumas máquinas quando a gente estava lá — conta Rafael.
Com o crescimento, em 2005 a empresa mudou-se para um pavilhão próprio de cerca de 300 metros quadrados no bairro Cidade Nova. Hoje trabalha com usinagem, solda e montagem. Tem sete funcionários e pretende fechar o ano com um faturamento na ordem de R$ 2 milhões, um crescimento sobre 2021, quando ficou em torno de R$ 1,6 milhões. Embora os ganhos tenham aumentado, Rafael explica que nem tudo se trata de lucro. Um dos desafios para as empresas do setor metalmecânico é a disparada de preços de insumos, como o aço, durante a pandemia. A CN Indústria Mecânica também enfrenta a concorrência do mercado externo e encontra dificuldade para empregar funcionários, um apontamento que tem sido recorrente nas empresas caxienses.
— Mão de obra hoje está um pouco difícil de achar, treinar. Às vezes, a gente acha, treina e, quando termina o treinamento, ele acaba indo para outro emprego, que é um direito dele também, e legal que existe essa troca, porque às vezes ele sai daqui para ir para um lugar melhor. Então, às vezes, a gente até perde o funcionário, mas fica feliz pelo companheiro. Como é uma empresa familiar, todo mundo que trabalha aqui acaba tendo um vínculo como da família.
Atenção à tendência da Indústria 4.0
De olho no futuro, CN também está atenta aos desdobramentos na Indústria 4.0. Hoje, o empreendimento conta com máquinas CNC, que permitem programar de forma computadorizada a peça a ser feita. Para o futuro, a tendência é de que robôs atuem junto a elas. Porém, Rafael analisa um aspecto importante: enquanto empresas de porte maior conseguem fazer essas etapas em um processo mais acelerado, as menores têm mais desafio para implementar células robotizadas, e não se trata apenas de investimento:
— Às vezes, tu tem que arrumar toda a casa para quando tu colocar a célula robotizada, tu saber todas as outras perdas que tu já teve. Como o robô é muito caro, não adianta tu colocar um robô, mas estar movimentando a peça errada, estar com um layout errado, estar com um programa de manutenção preventiva errada. Então, tu tem que preparar o terreno para depois colocar uma célula robotizada. Isso para quem é de pequeno a médio — explica.
De olho nas lacunas do mercado de orgânicos
A história de Caxias do Sul se confunde com o empreendedorismo em um sentido amplo, não só de abrir empresas, mas também de notar novos mercados a serem explorados. Foi o que aconteceu com André Salvador Cargnino, que acumula uma experiência de 25 anos no trabalho com orgânicos e há três decidiu abrir uma indústria voltada a esse mercado. A Caore, localizada no bairro Marechal Floriano, faz a higienização, estocagem, fracionamento e embalagem de três linhas de produtos.
— A gente já trabalhava com orgânicos e eu via uma lacuna nessa parte de atacado de orgânicos. Os orgânicos são muito desenvolvidos na região, mas através de pequenos modelos de venda, que é o caso de varejo, caso de feiras. Mas orgânicos para atendimento em atacado, eu via essa lacuna, essa brecha que não estava sendo atendida na região — conta Cargnino.
Fundada há três anos, a empresa trabalha com produtos congelados, hortifrútis e secos — farináceos, feijões, castanhas e outros grãos.
— A gente vem em uma ascensão muito boa. Começamos com três funcionários, hoje sou eu e mais nove. A gente atende o público de atacado. Então, os principais clientes são hotéis, restaurantes, pequenas lojas, e já estamos em duas grandes redes de mercados e se encaminhando para mais duas.
Embora localizada na Serra Gaúcha, tem os principais clientes localizados no Litoral Catarinense. Duas vezes por semana caminhões próprios fazem a logística de entrega no Estado vizinho. Essa exigência de deslocamento dos produtos traz desafios comuns aos pequenos, grandes e médios empresários: a logística fica complicada devido a estradas em más condições. Soma-se a isso o fato de que a rentabilidade é um aspecto ainda difícil de equilibrar, com o aumento de gastos com combustíveis, energia elétrica e pneus.
— No meu caso, principalmente os desafios são financeiros, de forma que, mesmo que as vendas estejam boas, pelo momento do país estar complicado, os custos estarem meio altos, mesmo que tu venda bem, tu não consegue ter uma liquidez muito boa. O que eu quero dizer com isso: tu vende bem, cada mês vende melhor, só que, ao mesmo passo que as vendas aumentam, os custos fixos aumentam também.