Pioneira no Estado em tratamento químico de água de caldeiras, a Indústria Química Mascia está completando 50 anos. Ela nasceu do sonho do engenheiro químico Luis Santiago Veronese Mascia que, desde menino, usava o porão da casa da avó para suas experiências. Foi ali também que nasceu a empresa, que entrou em um mercado dominado por multinacionais e inédito na região. Hoje a indústria possui mais de 4,5 mil clientes pelo país.
O interesse pela química está no DNA da família, já que o fundador da Mascia é neto de quem criou a Veronese, indústria química centenária de Caxias. E agora os filhos de Luis Santiago dão continuidade aos negócios, com a mesma veia de inovação do pai, buscando a diversificação com a criação de uma filial e uma linha de produtos de limpeza, com o nome Nelly – homenagem à mãe do fundador. A nova marca trabalha com fragrâncias importadas em desinfetantes de Pimenta Rosa, Ameixa Negra, entre outros tipos.
Confira a seguir a entrevista com o fundador da companhia:
Como surgiu a ideia de criar um negócio tão inovador para a época?
A Veronese foi fundada por meu avô em 1911, uma indústria que trabalhava com derivados químicos do vinho. Eu trabalhei na empresa como laboratorista quando tinha uns 17 anos, porque eu já gostava da química. Depois fui a Porto Alegre estudar Engenharia Química na UFRGS, onde, ao mesmo tempo, também trabalhei na Caixa Econômica Federal. Formado, voltei a trabalhar na empresa. Com o tempo, desenvolvi fórmulas e resolvi fazer uma indústria química, porque na época só tinham multinacionais para tratamento de águas de caldeiras. Eu fui a primeira empresa gaúcha a trabalhar com sistema químico, como as multinacionais trabalhavam.
Sendo da Família Veronese, chama a atenção ter decidido empreender em vez de seguir na empresa familiar
Eu não via outra perspectiva, porque vinha com ideias novas, até perigosas, porque quando você tenta algo novo pode errar feio. Mas eu tinha uma segurança enorme porque trabalhava com isso desde os 14 anos. Eu tinha um laboratório próprio em que eu mesmo fazia minhas experiências no porão da casa da minha avó, onde comecei minha empresa.
A química é algo que está no DNA da família?
Eu sempre gostei, reunia a gurizada e fazia experimentos quando era menino. Transformava o branco em azul, o azul em vermelho. Aprendi muita coisa de tanto testar e lendo em livros como forma de brincar. Fazia aquela de misturar metilorange com amônia e jogava na roupa do outro. Ficava vermelho e o cara ficava brabo. Aí eu dizia: “espera um pouquinho”. Quando secava, voltava ao normal.
Fostes ousado em um mercado dominado por multinacionais. Como era o cenário econômico daquela época?
Peguei uma época boa na década de 1970. Um dos produtos que usávamos era de uma empresa controlada pelo governo com preços subsidiados. Então, tínhamos um preço inferior às multinacionais que não admitiam usar produto brasileiro. E o nosso custo operacional era reduzido porque também não tínhamos que importar insumos.
Quem foram os primeiros clientes e como evoluiu também a questão ambiental?
Tinha o Lanifício Gianella, a Basa, a Randon, a Fras-le e várias outras empresas com caldeiras de alta produção de vapor de mil quilos para cima. E atendíamos todas as madeireiras da região. Trabalhei uma época em projeto de tratamento de efluentes, mas parei para focar no negócio principal da nossa empresa. Mas evoluiu muito a questão ambiental, hoje todas as empresas têm tratamento de efluentes, as grandes e as pequenas.
E a base de clientes da Mascia hoje é também de grandes e pequenas empresas?
Hoje temos malharias de caldeiras de 100 quilos de vapor/hora, pequeninhas, e tem empresas, como a Pettenati, com 10 mil quilos vapor/hora. A gente procurou atender com igualdade a todos. Sempre disse ao meu pessoal: o grande, quando nos deixa, fica um vácuo, uma brecha de faturamento , mas aí vem todos os pequenos e preenchem esse vazio, uma sustentação para qualquer eventualidade.
Como foi ser uma das primeiras empresas a se fixar no Distrito Industrial de Caxias?
Estamos ali desde 1985. Fomos uma das primeiras empresas depois da Cesa por aqui. A primeira mesmo foi a Duroline,. É impressionante lembrar que aqui na frente era cheio de morros. Sabe o que o pessoal fazia? Motocross. Também tinha um pequeno lago em que iam pescar lambari. Mas eu acreditava que esta localidade ia crescer, pois, como me especializei em meio ambiente, sabia que o crescimento tinha que ser para fora, ou em áreas industriais ou em áreas grandes com vários hectares. Eu estava em um pavilhão na Rua Bento Gonçalves e comprei aqui. Todo mundo disse: “Tu é louco. Ninguém comprou lá.” Mas, em seguida, começaram a comprar. E hoje não tem terreno. O que tem é uma fortuna.
Como surgiu a ideia de diversificar o negócio?
Eu vou fazer 80 anos. Meus filhos seguiram meus passos. Luis Santiago é o diretor industrial, com formação em Engenharia Química e Mecânica. Ele queria fazer inspeção de caldeira e por isso fez as duas faculdades. A Fernanda também cuida da parte administrativa. Ela que está comandando a Nelly. A ideia de diversificar foi dela para agregar valor. Eu sabia fazer a parte química, mas a parte de maquinário, logística e varejo eu não conheço. Trabalho com indústria, mas sei como é difícil colocar o produto em uma prateleira. Por isso a gente optou por começar pequeno, assim como foi quando eu comecei. Naquela época, as estradas não eram asfaltadas, os hotéis eram horríveis, mas eu tinha que fazer o negócio crescer viajando... A empresa começou com uma secretária e uma pessoa para ajudar a formular os produtos. Hoje somos mais de 30.