Seja pelo tempo, disposição, filhos ou rotina, a verdade é que muita gente tem um bom motivo para procurar ajuda na hora de realizar as atividades domésticas. Com o propósito de dar essa ajuda extra na hora de contratar um serviço para dentro de casa, startups e profissionais de Caxias do Sul e região oferecem soluções criativas que buscam dar um fim na sujeira e na desorganização para deixar a casa mais limpa, perfumada e organizada. Por outro lado, geram renda e movimentam o setor de serviços, um dos mais impactados com a pandemia. Entre as opções locais, estão plataformas que conectam trabalhadores da limpeza, pessoas dispostas a lavar e passar roupas e profissionais que dedicam seu tempo a planejar a organização da casa das pessoas.
Feliz com a carreira de mais de três décadas como funcionária pública, a caxiense Débora Modena Sperafico entendeu que precisava de outra ocupação para se sentir realizada profissionalmente. Há cinco anos, depois da sugestão de uma coaching, conheceu o serviço de personal organizer e decidiu fazer dessa descoberta a sua nova profissão. Metódica e interessada em descobrir coisas novas, ela procurou saber mais sobre a atividade e passou a fazer cursos com especialistas nacionais do setor. Desde então, atende famílias na Serra e outras cidades gaúchas que desejam uma ajuda extra na hora de organizar a casa nas atividades relacionadas ao lar.
— Existe uma diferença muito grande entre arrumar e organizar. Arrumar é quando, por exemplo, você recebe uma visita, a sala está bagunçada e começa a guardar tudo de forma aleatória para esconder. Organizar é diferente, existem critérios e técnicas. Para dobrar camisetas, usamos um gabarito para ter dobras perfeitas. A rouparia de cama também. É uma arte para o lar — conta.
Além de receber a confiança do cliente, Débora conta que a personal organizer trabalha na organização daquilo que as pessoas não querem ou não conseguem fazer dentro das suas próprias casas. O público que a contrata é predominantemente feminino, são casadas e estão procurando ajuda para melhor organizar a disposição de móveis, objetos e roupas. Um contrato de sigilo é assinado para que a intimidade das famílias não fique exposta.
O atendimento, segundo ela, é personalizado, sem que exista um pacote fechado porque cada uma tem uma demanda diferente. Por isso, ela também prefere não mencionar valores do serviço, mas diz que só é possível estabelecer após conhecer a demanda do cliente.
O trabalho começa com a personal fazendo uma visita cortesia na casa do cliente para que seja possível efetuar um levantamento das ações a serem realizadas. A necessidade de melhorias na disposição das roupas nos closets é o que mais tem rendido pedidos de ajuda para a personal. Mais do que organizar e orientar em um dos ambientes mais íntimos de uma casa, Débora também sugere o que é necessário acrescentar em termos de itens que ajudam a melhorar o guarda-roupa e o dia a dia dos moradores.
— É comum encontrarmos cabides coloridos na casa dos clientes e eu procuro padronizar esse item. Inconscientemente, cabides coloridos mexem com o nosso cérebro e faz com que o foco não esteja nas roupas. Atrapalha na hora de se vestir. Por isso, acabo deixando uma sugestão de mudança com o tipo que melhor se adequa.
Entre os benefícios do serviço, ela conta que muitas clientes encontram mais saúde e bem-estar com ambientes menos bagunçados e também mexe com o bolso: em cozinhas sem disciplina, segundo ela, é comum encontrar alimentos vencidos e que não sejam mais possíveis de serem consumidos pelos moradores, restando apenas o descarte como opção. Para famílias com crianças, os ensinamentos da personal podem ser incorporados no dia a dia dos pequenos, incentivando uma vida mais organizada desde os primeiros anos de vida.
— Às vezes, quando o quarto ou alguma outra parte da residência está desorganizada, é porque internamente a pessoa está desorganizada também. Tenho visto nas clientes que, quando organizam, encontram uma sensação de paz. A casa valoriza muito. Sempre oriento que, depois de organizar uma gaveta, abra e feche ela várias vezes. Ver aquilo organizado faz muito bem — afirma.
Débora conta ainda que um dos desafios da profissão de organizadora é fazer com que os clientes decidam encontrar um novo destino para roupas, objetos e móveis que não estão mais sendo utilizados. Outra curiosidade, segundo ela, é que muitos clientes encontram roupas ainda com etiquetas guardadas e esquecidas.
— Brinco que a organização ainda não consegue fazer com que seja possível colocar São Paulo dentro de Caxias. Oriento no sentido de sugerir que roupas rasgadas ou manchadas deem espaço para outras novas. Muitas vezes são presentes, que elas não usam e não querem se desfazer, e ficam ocupando espaço. Sugiro que talvez ela faça uma foto e guarde a lembrança. É o mesmo que acontece com roupas que os clientes nem lembravam que tinham comprado. É outra linha do trabalho de personal: organizar para fazer com que a pessoa saiba tudo que elas têm — orienta.
Ajuda em mudanças e organização de cozinhas lideram preferência
A cozinha, um dos espaços mais democráticos dentro de uma residência, precisa ter a organização reforçada para que os moradores convivam em harmonia. É o que ensina a personal organizer Josi Maria Martins, que trabalha com o planejamento dos espaços domésticos desde 2016 em Caxias do Sul. O ambiente adequado para o preparo das refeições é um dos locais da casa que mais tem demandado interesse dos clientes em contratar o serviço desenvolvido por ela.
— É na cozinha que tudo acontece. É um espaço que é compartilhado por todos da casa e a chance de começar ou terminar mal o dia é muito grande (risos). Aquela correria de fazer o café da manhã, o lanche da criança, um gosta de cozinhar e o outro prefere organizar e aí não se acham os utensílios, corre o risco de se cortar. Se você não tem uma despensa organizada, é mais fácil ter mantimentos vencidos em casa. A cozinha é a menina dos olhos de uma casa — conta.
Josi atuava no marketing de uma indústria de Caxias do Sul antes de se dedicar integralmente ao novo trabalho. No setor, ela atuava com o desenvolvimento de produtos, que eram voltados à organização. Para aperfeiçoar o trabalho, em 2015, ela procurou pelo curso de personal organizer e descobriu as técnicas e conceitos da função. Mais tarde, começou a compartilhar os aprendizados em uma rede social, o que abriu portas para convites em ajudar pessoas e famílias interessadas em um lar mais organizado.
— Comecei a trabalhar à noite, aos finais de semana e fazendo jornada dupla até o momento que optei por deixar a indústria e trabalhar somente com organização — conta.
Atualmente, ela concentra mais de 64 mil seguidores em seu perfil no Instagram, que é de onde vem a maioria dos novos contatos. Sua presença digital permite que o cliente conheça mais sobre as suas dores em relação à organização da casa a partir de exemplos práticos mostrados por ela na internet, o que ajuda na relação. Os valores partem de R$ 750 e podem chegar até R$ 10 mil, por exemplo, dependendo do projeto do cliente. Para auxiliá-la em demandas maiores, uma equipe terceirizada também é contratada, gerando emprego para outras profissionais do ramo.
Josi atende clientes na Serra e também fora do Rio Grande do Sul por meio da internet. Nesta semana, estará em Cachoeira do Sul para organizar a casa de um cliente que a descobriu pela internet e mantém contato há anos. Nesses casos, além do serviço, é necessário pagar o deslocamento e a hospedagem. E vem desse nicho a maior demanda dos últimos anos, segundo ela, que são de clientes que querem ajuda na hora de se mudar de casa. Oito em cada 10 pedidos que ela recebe são para auxiliar nessa etapa, desde a embalagem, transporte e planejamento da disposição no novo ambiente.
Ela também é responsável, em alguns casos, pela análise da marcenaria. Josi explica que nem sempre o cliente consegue detalhar aos arquitetos e designers de interiores como deve ser o dimensionamento ou funcionalidades que os móveis precisam ter para corresponder ao trabalho de organização planejado por ela ou desejado pelo morador.
Na visão dela, a atenção ao lar tornou-se mais evidente quando a pandemia fez com que as pessoas ficassem mais tempo dentro de casa.
— Vejo que isso foi um reflexo da pandemia. As pessoas entendem que as casas tornaram-se mais pequenas porque elas ficaram mais tempo nelas. Dividir espaço também ficou mais complicado e procuraram para dividir e montar um home office. Outras sentiram que era o momento de deixar o apartamento e procurar uma casa, com jardim, para ter uma vida diferente.
Setor de serviços acumula resultado negativo e CIC estuda mudanças no levantamento
Os profissionais que realizam atividades domésticas para terceiros fazem parte do setor de serviços, segmento da economia caxiense que parece ainda não ter se recuperado dos efeitos da pandemia. Segundo o último levantamento realizado em março pela Diretoria de Planejamento, Economia e Estatística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias, os indicadores apontam que o setor registra perdas de 7,3% no acumulado dos últimos 12 meses.
A economista Maria Carolina Gullo, que integra a diretoria, entende que o setor de serviços deveria ter apresentado um resultado melhor, uma vez que praticamente todos os segmentos retornaram à normalidade com o arrefecimento da pandemia. Desde então, a entidade tem estudado novas formas para compreender esse setor econômico, que é caracterizado por ser amplo e envolver diversas formas de trabalho e renda.
Uma delas é encontrar uma nova métrica para mensurar o desempenho do setor de serviços. O estudo realizado pela CIC, divulgado mensalmente, considera apenas a arrecadação do município com o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), que é o tributo que incide na prestação de serviços realizada por empresas e profissionais autônomos. Dessa forma, não engloba quem realiza o trabalho de maneira informal.
Ao mesmo tempo, incentivos realizados pela prefeitura, como renegociação de dívidas de impostos, por exemplo, podem acabar impactando na arrecadação e não representando um cenário real de como é o comportamento do segmento em Caxias.
— A área de serviços é muito heterogênea, tem de tudo um pouco. Alguns serviços voltaram com força, outros ainda estão mais devagar. Mas entendemos que esse indicador (ISSQN) pode não estar dando uma dimensão correta dos dados. Temos observado que há mais contratação de mão de obra no setor de serviços, o que não reflete no indicador. A pandemia levou muita gente para a informalidade também, que acaba não sendo medida — avalia.
Para o setor de limpeza e organização de casas, Maria Carolina entende que é um segmento em ascensão porque as famílias passaram a dar mais atenção para os lares nos últimos anos. Ao mesmo tempo, com a inflação alta e os custos elevados, alguns serviços serão cortados ou ficarão em segundo plano.
— Quem poderia contratar uma diarista todas as semanas, agora vai preferir a cada duas semanas, por exemplo. Onde puder economizar, a pessoa vai fazer. Aumentar a rede de clientes pode ser uma saída — avalia.
Roupas limpas e geração de renda: startup caxiense cuida das roupas
Foi durante a disciplina de Empreendedorismo e Inovação do curso de Engenharia de Produção do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), em Caxias, que nasceu o projeto de uma startup caxiense que se propõe a ter um cuidado a mais com as roupas das pessoas.
A Help Wash, ideia do caxiense Vagner Montezano, busca conectar quem sabe lavar e passar roupas com clientes interessados no serviço e que querem mais comodidade no dia a dia. Isso porque, além de peças mais cheirosas e prontas novamente para o uso, o serviço prevê a retirada e a entrega no local e na hora onde o consumidor desejar.
A proposta, que começou a ser pensada em 2019, agora faz parte do StartupRS Digital, programa do Sebrae que ajuda a transformar uma startup em um negócio real. Ao mesmo tempo, a plataforma também ganhou um sócio, Matheus Maciel, e segue em busca de mais investidores.
— Um dos pré-requisitos da disciplina era a criação de algo inovador para o mercado. Lembrei que, quando eu era pequeno, minha mãe lavava roupas para terceiros. Também precisei aprender a lavar roupa. Houve uma época que estraguei muitas peças porque lavava tudo junto, não selecionava, misturava tecidos, cores. Eu não tinha pretensão alguma com essa ideia de startup. Apresentei o projeto, tive uma boa avaliação, mas comecei a levar a ideia adiante — resume.
Montezano conta que a startup busca atrair pessoas que não têm tempo para cuidar das suas roupas ou aquelas que não sabem como as peças devem ser lavadas. Foca em universitários, mas também no público de mais idade. Isso vale para o vestuário do dia a dia ou também para ocasiões especiais. A ideia é que a vida útil das roupas seja explorada.
Os prestadores de serviços da plataforma são chamados de lavandeiros(as) e, segundo o fundador da marca, passam por um treinamento antes de serem integrados ao cadastro. Atualmente, com a startup ainda se estruturando, são sete pessoas dispostas a receber os pedidos, sendo elas espalhadas pelas diferentes regiões de Caxias. Isso ocorre para que o prestador de serviço não precise se deslocar muitos quilômetros dentro da cidade. Além disso, segundo Montezano, a plataforma quer ser uma oportunidade de geração de renda.
— A causa social do negócio é ter a possibilidade de um dinheiro extra para uma mãe ou um pai desempregado ou alguém que queira aumentar a sua renda. Isso será possível após um cadastro, que vai passar por uma avaliação, um treinamento e, após, vai ser integrado na plataforma. Havendo demanda, ele será solicitado — avalia.
No ano passado, Montezano validou a ideia no mercado, podendo mensurar qual a aceitação do público, como é a demanda pelo serviço e o potencial do negócio. Segundo ele, 86% dos entrevistados aprovaram a usabilidade da solução e do preço proposto. Ele afirma também que, conforme as pesquisas realizadas, o valor do serviço da Help Wash é 30% mais barato do que o realizado pelas lavanderias convencionais – incluindo os custos com a entrega.
Até o fim deste mês, o aplicativo estará disponível para mais pessoas a fim de fazer novos testes. A ideia é que os primeiros faturamentos com o negócio comecem a aparecer nesta etapa. Montezano afirma que investiu, até o momento, cerca de R$ 80 mil no negócio - sendo a maior parte do valor destinado ao desenvolvimento do sistema integrado à plataforma.
— A ideia da consultoria do Sebrae é permitir contato com investidores. Vejo que a parte de ideia do negócio já passou, temos um site, um aplicativo, já podemos começar a monetizar. Por isso, estamos dando esse passo em busca de interessados em investir — afirma.
Nas próximas semanas, o marketing da startup será explorado para ganhar mais participação com o público. Ao todo, cinco pessoas trabalham no desenvolvimento do negócio. Entusiasmado com o avanço do projeto, Montezano divide o tempo como líder da marca com o cultivo de cogumelos há mais de 10 anos e como trader na bolsa de valores.
— Tenho como objetivo fazer a Help Wash dar certo. Como empreendedor, sou muito especulativo. É um caminho sem volta quando tu empreendes. Tu começas a ficar mais ligado em novas oportunidades e abraçar o que é possível para fazer o negócio dar certo — afirma.
Plataforma de Farroupilha ajuda a encontrar uma diarista
Encontrar um profissional qualificado, orçar por um preço justo, encaixar um horário e receber em casa é uma combinação que pode assustar algumas pessoas na hora de pensar em contratar um serviço de limpeza. Pensando nessa dificuldade, uma agência digital de Farroupilha criou o site Faxino.com.br, que aproxima prestadores de serviço de limpeza autônomos, as chamadas faxineiras, com pessoas que necessitam contratar o serviço de limpeza por meio de diária. Ou seja, um “match” da limpeza e organização.
De acordo com o responsável pela plataforma, Cleber Tedesco, por ser um serviço online, o site concentra demandas de todo o Brasil, principalmente nas capitais. A primeira foi Porto Alegre, que é onde o site possui hoje a maior quantidade de clientes e prestadores de serviço, segundo ele. Um dos motivos de orgulho dele é ter conquistado o mercado em São Paulo, que hoje está em segundo lugar em número de clientes e prestadores de serviço. Mesmo sendo uma ideia criada na Serra, a região ainda não é muito adepta à plataforma.
— Hoje, nosso cadastro conta com cerca de duas mil prestadoras de serviço cadastradas por todo o Brasil. Apesar do projeto ter nascido na Serra Gaúcha, onde estamos em crescimento, é nas cidades de Porto Alegre e São Paulo onde há maior concentração de prestadores e clientes — explica ele, que comanda o site junto com o sócio Eder Tedesco.
No site, é possível selecionar se a demanda é por uma faxina que dure três, cinco ou oito horas. Os valores variam entre R$ 70 e R$ 135 – com o valor da passagem incluso. O pagamento é feito direto para a profissional – a plataforma é monetizada por meio da compra de créditos das profissionais, que precisam investir para receberem os pedidos dos clientes. Antes de fazerem parte da plataforma, as prestadoras de serviço passam por seleção.
— É necessário que ela realize uma entrevista virtual, que se baseia no relato de sua experiência, nas respostas a um questionário longo e minucioso a respeito de como realizar pequenos serviços, grandes limpezas, tipos de produtos a serem usados, como higienizar certos tipos de materiais, e até mesmo um teste a respeito do seu temperamento e comportamento em diversas ocasiões. Se aprovada, então ela preenche seus dados pessoais e passa por uma verificação de cadastro — afirma Tedesco.
Assim como no aplicativo de transporte, cliente e prestadores de serviço podem ser avaliados. Avaliações negativas acabam gerando bloqueios na plataforma. Ainda conforme Tedesco, 70% dos clientes são mulheres de 20 a 45 anos. Já os prestadores de serviços são 95% mulheres de 25 a 45 anos. Por ser criada em uma agência digital, o investimento inicial na plataforma foi baixo, mas ganhou força ao longo dos anos com o desenvolvimento de melhorias, bônus oferecidos para o cadastro dos prestadores, entre outros.
Em quatro anos, Tedesco calcula que o investimento já tenha ultrapassado R$ 1 milhão.
— O maior benefício de se criar uma plataforma de serviços é levar uma solução à vida das pessoas. Isso não tem preço, é uma satisfação profissional muito grande quando conseguimos identificar uma necessidade e desenvolver uma solução prática. Os lucros e resultados são consequências dessa solução — afirma.